Antônio Carlos de Almeida Castro, do Kakay
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Antônio Carlos de Almeida Castro, do Kakay

Há uma certa perplexidade no ar pelo resultado das eleições. Embora o Lula tenha conseguido chegar à frente do atual Presidente da República em número de votos, o que é inusitado, resta um gosto amargo por uma contingência de fatores. Só ele, acima mesmo do PT, conseguiria superar um Presidente em exercício no primeiro turno. É uma sinalização clara de que venceremos no dia 30 de outubro e afastaremos os fascistas do governo.

A eleição deve sempre ser respeitada e a segurança das urnas nos remete a isso. E, numa democracia, o que deve prevalecer é a vontade da maioria. Mas uma análise do que ocorreu em alguns lugares é mais do que necessária. Não me refiro às surpresas e novidades eleitorais, que sempre ocorrem e fazem parte, tornando esse momento uma grande festa cívica e democrática. Eu me refiro ao Rio de Janeiro.

É muito espantoso, para quem procura dar às eleições no Rio alguma racionalidade, no que se transformou aquele estado. No Brasil, vivemos um período de obscurantismo tal que boa parte dos que vão comandar o país, no Congresso Nacional, são os que se destacaram pela condução desastrosa da pandemia e, logo, são responsáveis diretos por milhares de mortos. Ou o que prometeu passar a boiada e incendiar o meio ambiente. E até mesmo o que corrompeu o sistema de Justiça. E por aí vai. 

Mas, no estado do Rio de Janeiro, vivemos uma metástase democrática. A milícia domina abertamente, à luz do dia, 65% do território fluminense. A droga é responsável por outros 15%. Os últimos 6 governadores foram presos ou afastados do cargo por corrupção. Com a assunção do vice, atual mandatário, presenciamos a prisão, nos últimos meses, de 5 secretários de estado. Inclusive o responsável por cuidar do combate ao crime. Recentemente, eclodiram vários episódios de corrupção com a descoberta de milhões de reais de dinheiro público sendo distribuído a funcionários fantasmas. É escândalo quase diariamente.

Qualquer um desses fatos, mesmo se olhados isoladamente, daria ensejo a um rigor maior, por parte do eleitor, na escolha de quem deveria gerir a coisa pública no Estado. Esqueçam! Mesmo com a confirmação de todos os fatos escabrosos, a população do Rio segue anestesiada. Pouco importa qualquer comprovação de desvio financeiro e, muito menos, as prisões que ainda persistem. É como se o atual governador tivesse cumprindo um papel, aguardando na fila da prisão. Como se o eleitor já tivesse feito esse raciocínio e houvesse computado a prisão como fato inquestionável e inevitável. Como se a corrupção estivesse incorporada à vida cotidiana.

É assustador. Não se trata somente de ganhar ou perder as eleições, muito menos de divisão esquerda versus direita. Há, ao que tudo indica, uma conjunção macabra de fatores. O Rio é tão bonito, tão esplendoroso, com tanta riqueza e o povo tem um charme único no cenário nacional, mas cultiva uma cultura que fomenta a individualidade e que, parece, ter desistido dos valores humanistas que deveriam forjar uma sociedade. A desigualdade, o descalabro, o descaso e os desmandos estão tão incorporados ao cotidiano que boa parte do fluminense não parece mais se importar com políticos desqualificados.

Essa cidade é a porta de entrada para o Brasil, é o retrato do país no exterior e é necessário resgatar o Rio de Janeiro. Foi dura e doída a derrota, pelo que ela representa e pela figura emblemática do candidato Freixo: o retrato da esperança e que encarna tudo que precisamos para derrotar os usurpadores do Rio. O pior é que esse foi o principal motivo do fracasso.

Mas precisamos cantar a música Tá Escrito, do Grupo Revelação, que ouvi tantas vezes na campanha: “Erga está cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora, basta acreditar que um novo dia vai raiar, sua hora vai chegar.”

Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

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