Chefes de Defesa dos países se reuniriam em Singapura
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Chefes de Defesa dos países se reuniriam em Singapura

 No novo confronto mundial entre Washington e Pequim o Brasil usufrui de vantagens mas também pode incorrer em erros em suas escolhas diplomáticas.

A China acredita que sua ascensão ao status de grande potência lhe dará direito a um novo papel nos assuntos mundiais que não pode ser reconciliado com o domínio norte-americano. Uma China mais poderosa certamente desafia a posição dos Estados Unidos na Ásia e no mundo . A escolha lógica para Washington e clara: retardar a ascensão da China.

Nesse ambiente de disputa permanente o Brasil tem a opção de escolher um lado ou de buscar um equilíbrio entre as duas potências. As recentes sanções tarifárias ao Brasil tornam ainda mais difícil essa escolha diplomática. E aumenta a pressão sobre Brasília. Uma política pendular no momento está difícil pelas circunstâncias impostas pelo governo Trump.

Assim, a rivalidade entre Washington e Pequim pode reproduzir o padrão histórico da armadilha de Tucidides- o medo da rápida ascensão de Atenas levou Esparta a guerra. Hoje nenhuma das duas grandes potências está confortável com a nova bipolarização.

O Brasil tem buscado a negociação como caminho para evitar perdas maiores e deve insistir nessa estratégia. Se o Brasil assumir o papel de potência regional reconhecida pelos vizinhos e , ao mesmo tempo, buscar reconstruir os mecanismos regionais de cooperação política, as pressões das superpotências contra Brasília tendem a ter menos efeito- o Brasil precisa agir como um ator capaz de estabilizar e preservar a região de influências extraregionais .

Precisamos assegurar uma posição de liderança regional na América do Sul. Mas uma política pendular exige grande habilidade diplomática no atual momento negativo das relações com os Estados Unidos. Como membro dos Brics o Brasil tem problemas com Washington que quer dominar as Américas sem permitir nenhuma manifestação de independência política e econômica.

E uma questão de soberania e de sobrevivência saber navegar nesses mares bravios dos dias de hoje. A aliança entre a China e a Rússia torna ainda mais difícil essa equação. O espaço aberto pela atual transição de polaridades, nos cria o dilema de como nos posicionar perante as alianças dominantes do sistema internacional. A nossa preferência pelo multilateralismo nos põe hoje em confronto com a hegemonia norte-americana que no momento se coloca contra o multilateralismo.

Washington quer atualmente o enfraquecimento dos organismos internacionais ao contrário do Brasil. Não devemos renegar essa nossa tradição diplomática para agradar o atual governo norte-americano. Há muitas razões para acreditar que o relacionamento entre os Estados Unidos e a China tende a piorar mas sem um conflito aberto que não interessa a nenhum dos dois países.

Como essa tensão vai continuar temos de nos preparar para esse cenário. No momento como membro fundador e ativo dos Brics temos responsabilidades e interesses crescentes na relação com esse grupo. Daí a dificuldade em cristalizar uma política externa pendular com o governo trump que quer nos obrigar a escolher um lado de maneira agressiva. Pela via multilateral poderíamos eventualmente conquistar uma posição de equilíbrio entre as duas potências e servir de mediador entre os fortes e os fracos.

Poderíamos tentar um envolvimento simultâneo a longo prazo com Washington e com Pequim para evitar uma estratégia que traga perdas importantes para o Brasil. A área tecnológica será uma das fronteiras mais decisivas nessa disputa e temos de estar preparados para escolhas complicadas nessa área primordial .

Como a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil não há muito que Washington possa fazer nesse setor apesar das novas tarifas impostas a Brasília. A conclusão do acordo de livre comércio do Mercosul com a União Europeia tem uma importância maior nesse contexto. Como os Estados Unidos no momento usam ameaças comerciais por razões ideologicas fica difícil um acordo bilateral de comércio de Washington com o Mercosul. Trump prefere o enfrentamento à cooperação internacional. Temos de buscar outras paragens para não nos vermos tão dependentes de Pequim.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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