Entre bombas e incertezas
Forças de Defesa de Israel/Divulgação
Entre bombas e incertezas


A guerra iniciada pelo governo de Israel contra o Irã com o apoio de Washington é extremamente perigosa para o Oriente Médio e o mundo.

Tel-Aviv tem dois grandes objetivos com esse ataque: acabar com o programa nuclear iraniano e estimular uma mudança de regime em Teerã.

Acabar com o programa nuclear iraniano é, do ponto de vista técnico, muito complicado de ser alcançado, mesmo com a ajuda de Washington.

A bomba que os Estados Unidos usou para penetrar as estruturas subterrâneas do Irã, a GBU-57, tem limites que o Irã levou em conta ao construir suas novas instalações nucleares.

Essa bomba revestida de aço é muito pesada, cerca de 13,6 toneladas. Pode penetrar cerca de 60 metros de terra ou 18 metros de concreto com resistência à compressão de 5000psi.

Acontece que as instalações de Fordow e Natanz estão a mais de 80 metros e usam um concreto com resistência à compressão de 30 mil psi, ou seja, é um concreto seis vezes mais resistente à compressão que um concreto protendido normal.

Ademais, há outro fator que dificulta ainda mais a ação dessas bombas.
A penetração máxima delas só é alcançada em uma trajetória perfeitamente perpendicular que dissipa menos energia cinética da bomba.

Os engenheiros iranianos, com a possível ajuda de chineses, teriam feito estruturas adiamantadas, as quais provocam o desvio das trajetórias das bombas de penetração em ângulos diagonais diversos, o que não só limita a penetração como também torna muito difícil o possível uso cumulativo das bombas para alcançar a profundidade necessária.

Ademais, o Irã armazenou centrífugas e urânio em pontos muito diversos de seu território, o que significa que mesmo ante a total destruição de Fordow e de Natanz, sobrariam ainda muitos elementos para o Irã reconstruir o seu programa nuclear.

Conspira também contra essa estratégia de destruir o programa nuclear iraniano com bombas o grave perigo de uma contaminação radioativa que extrapolaria o território iraniano.

Esse risco existe e não pode ser minimizado.

Frise-se que o Irã poderia construir uma bomba atômica com o plutônio do seu reator nuclear de Bushehr. Contudo, a destruição desse reator provocaria uma tragédia histórica na região.

A mesma lógica aplica-se ao objetivo de se promover uma mudança de regime no Irã.

A mudança é um objetivo, sem dúvida, de Israel, mas não de Washington, que nutre muitas dúvidas a respeito. Não adianta Israel matar as principais lideranças iranianas.

Washington só poderia promover essa mudança de regime, como nos casos do Iraque e Líbia, com sangrenta e custosa guerra de ocupação.

Tais guerras provocaram o caos e a destruição desses países e tiveram um custo humano muito alto. Do ponto de vista geopolítico, foram um fracasso.

No Afeganistão o talibanismo tomou o poder após um gasto de U$ 2,5 trilhões. No caso iraniano um país com 92 milhões de habitantes, membro dos Brics, o custo seria muito maior e poderia incendiar a região inteira.

O Irã tem forças armadas com mais de um milhão de integrantes. A tendência seria dos iranianos cerrarem fileiras em defesa do seu país, como o fizeram em toda a sua História.

Vai ser interessante em julho próximo, com a cúpula dos Brics no Brasil, ver como esse tema será abordado e analisado pelos integrantes do grupo.


*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG

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