O Brexit foi vendido como uma libertação econômica. Ao invés disso, a inflação no Reino unido cresceu mais que a de seus pares na Europa e a economia cresceu menos.

Os conservadores britânicos abandonaram sua tradição de pragmatismo e senso comum por uma obsessão ideológica.

Restam agora dois caminhos. Um seria dobrar a aposta e cerrar trincheiras em um purismo nativista do Brexit; mais guerras culturais, racismo, políticas anti-imigração e libertarianismo econômico.

O outro, escolher um líder pragmático, capaz de prover estabilidade política e atuar com realismo fiscal, incluindo um aumento circunstancial de impostos e a retomada de compromissos regulatórios com a União Europeia. Em 2012, Liz Truss usou a Itália como alerta.

Máquina pública inchada, baixo crescimento econômico e baixa produtividade: os problemas da Itália e de outros países da Europa Meridional também estavam presentes no Reino Unido.

Dez anos depois, em sua atabalhoada tentativa de seguir adiante, Truss ajudou a tornar essa comparação com a Itália inescapável.

O Reino Unido é assolado por um crescimento decepcionante e por desigualdades regionais. Mas agora é também castigado pela instabilidade política e está à mercê dos mercados de ações.

Daí o uso do termo Grã-Bretália.

A comparação entre os dois países não é exata. Entre 2009 e 2019, o índice de produtividade no Reino Unido foi o mais baixo entre o G-7, mas o da Itália foi muito pior. O problema é que o Reino Unido se aproximou muito da Itália.

Primeiro pela instabilidade política que costumava definir a Itália e infectou hoje o Reino Unido.

Em segundo lugar, assim como a Itália se tornou a brincadeira dos mercados de ações durante a crise na zona do euro, agora, da mesma maneira, eles visivelmente controlam o Reino Unido.

Em terceiro lugar, o problema do baixo crescimento econômico britânico fincou raízes mais profundas. Estabilidade política é precondição para o crescimento econômico.

Governos italianos têm dificuldades para fazer qualquer coisa e o mesmo foi verdadeiro para os breves governos britânicos.

Johnson foi apelidado de “Borisconi” e se insistir, como é o caso atualmente, em retornar ao poder, poderá tornar essa comparação mais perfeita.

Por agora, as coisas estão ficando cada vez mais britalianas. Os conservadores tornaram-se quase ingovernáveis em razão da corrosão causada pelo Brexit.

Com o Reino Unido flertando virar a Itália, o continente europeu ganha mais instabilidade e é um presente inesperado para Putin.

Hoje parece inevitável, em Moscou, o “Schadenfreude”, palavra alemã que define o prazer com a tragédia alheia.

Se não necessariamente vai mudar a disposição britânica no conflito russo-ucraniano, a queda de Trauss enfraquece ainda que momentaneamente um elo vital na corrente do dito Partido da Guerra entre os europeus.

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