O Brasil pediu a sua saída, em 2020, da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do Caribe ( CELAC ) e deu início a uma perda de liderança contínua na América Latina.
A CELAC foi criada em 2010 sob o argumento de que a Organização dos Estados Americanos (OEA) é excessivamente submissa aos interesses norte-americanos.
A China pretende se aproximar da CELAC nos campos comercial, econômico e financeiro. O projeto inclui linhas de crédito e investimentos em telecomunicações como a tecnologia 5G.
A Argentina assumiu no último dia sete a presidência da CELAC e pretende, com o México, dar maior dinamismo e relevo internacional à entidade.
Alinhado aos interesses dos Estados Unidos, perdemos espaço na América Latina para antigos parceiros que hoje hostilizamos, o México e a Argentina, em nosso próprio continente.
Essa política exterior de submissão a Washington nos afasta de nossos vizinhos.
Ao assumir a organização, a Argentina pretende ter um papel de articulação.
No campo político, quer se tornar um elo no diálogo entre Estados Unidos, Venezuela, Cuba e Nicarágua.
A organização multilateral latino-americana desperta o interesse da China desde a sua fundação em 2010.
Pequim busca garantir um amplo acordo de cooperação com os países membros da CELAC.
Um eventual tratado da Organização com a China poderá enfraquecer a Organização dos Estados Americanos (OEA).
O pedido brasileiro de exclusão da CELAC, em 2020, atenta contra os mais legítimos interesses nacionais, pois nos aliena dos nossos vizinhos.
A Argentina, com o México, aproveita a ausência e hostilidade do Brasil, no CELAC, para liderar a comunidade, embora o Brasil represente metade da região em termos territorial e econômico.
Essa atual política exterior brasileira nefasta nos marginaliza em nosso contexto regional, pois 32 dos 33 países da América Latina devem ratificar o documento que legitima a Argentina como líder da CELAC até janeiro de 2023.
E a ratificação se dará em reunião, em Buenos Aires, dos Ministros das Relações Exteriores de 32 dos 33 países latino-americanos, ficando só o Brasil excluído do importante evento continental.
Resta a esperança de que em um futuro próximo o Brasil retorne ao seu berço e reassuma a sua posição no CELAC, reintegrando-se no seu entorno regional.
A decisão errada de ficarmos de costas para o nosso próprio continente, para agradar a Washington de Trump, transformou uma política externa tradicionalmente independente em uma política externa dependente e submissa, que nos coloca, um grande país, em uma situação internacional muito humilhante.
Essa dependência de Washington, na base de que o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, não acarretou nenhum benefício para Brasília e nos consolidou na posição de pária na comunidade internacional.
É difícil acreditar que cidadãos de um país colaborem para pôr a sua própria nação em uma situação de perda de liderança internacional e de humilhação global.
Essa traição e atentado aos mais legítimos interesses nacionais não será esquecida pelas futuras gerações do Brasil e será considerada futuramente como um crime de lesa pátria.
Essa contribuição deliberada para uma marginalização internacional crescente, pelo menos até o final deste ano, vai exigir posteriormente um grande esforço para voltarmos a ocupar o espaço e a liderança perdidos.