O desaparecimento do Embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima nos faz lembrar dos tempos em que o Brasil acumulou importante capital diplomático fruto de décadas de trabalho profissional em prol de uma chamada revolução conservadora.
Essa revolução conservadora imobilizou o Brasil no tabuleiro internacional e a percepção respeitosa que as nossas parcerias sempre tiveram com relação à política exterior desenvolvida pelo Itamaraty.
A destruição ambiental na Amazônia e no Pantanal continua em ritmo acelerado assim como a desmontagem dos mecanismos de fiscalização ecológica.
A perda de prestígio se reflete também em nível interno com um orçamento reduzido ao menor nível desde 1985.
Esses fatos não ocorrem por acaso, mas em função de uma estratégia deliberada do Planalto e da ‘filhocracia’ com o intuito de minar as bases tradicionais da chancelaria deixando a moral da casa de Rio Branco no mais baixo patamar da sua história.
Essa animosidade com a diplomacia nacional se insere nesse contexto da chamada revolução conservadora que nos vê como inimigos por resistir à barbárie em favor da civilização.
Uma mudança real nesse quadro se afigura impossível enquanto os atuais ocupantes do Executivo federal estiverem no poder.
O próximo ano será, portanto, mais um ano diplomático perdido com o país dedicado às eleições e sem uma diplomacia presidencial atuante. Até porque, nenhuma nação terá interesse em aproximação com uma administração fraca e em final de mandato.
A toxidade, que me referi em outro artigo, da pseudo revolução conservadora vai continuar em 2022 a contaminar a atuação internacional brasileira.
Palavras de baixo calão usadas rotineiramente pelo Chefe de Estado destroem qualquer possibilidade de respeito e honorabilidade internacionais.
A chancelaria ficou marcada por uma ideologização religiosa em um Estado laico alinhando o Brasil a um grupo de países extremistas na área de direitos humanos.
O desmantelamento do Ministério das Relações Exteriores pelo bolsonarismo afetou o rendimento diplomático brasileiro a curto prazo, que pode ser recuperado em uma nova administração.
Você viu?
Por exemplo, o jornal britânico “Financial Times” defendeu recentemente que setores financeiros internacionais pressionem e punam o Brasil por não parar o desmatamento na Amazônia e no Pantanal.
O texto conclama investidores e detentores de títulos a adotar posições mais firmes em relação ao governo brasileiro.
O ativismo dos investidores vai ser cada vez mais uma força poderosa em defesa do meio ambiente. Os proprietários de ações e títulos vão pressionar empresas e governos para melhorar a governança global ecológica, reduzir as emissões de carbono, buscar equilíbrio de gênero e diversidade racial. Em todas essas áreas estamos marginalizados e execrados pelas atitudes e posições do atual governo brasileiro.
No ano passado, um grupo de gestores de ativos com valor de sete trilhões de dólares pressionou Brasília para reverter a sua política deliberada de destruição florestal.
Apesar das pressões internacionais, o desmatamento brasileiro aumentou 17 por cento no primeiro semestre deste ano. O Código Florestal está se tornando letra-morta porque as agências que o aplicam tiveram seus orçamentos propositadamente reduzidos de maneira absurda.
No que resta de mandato a esta administração federal parece pouco provável uma mudança nesta postura de conivência com madeireiros, grileiros, garimpeiros e fazendeiros que fazem parte da base eleitoral do grupo no poder em Brasília.
Nessas condições a destruição do capital diplomático brasileiro, na área do meio ambiente, vai continuar e correm ainda o risco de os investidores enviarem um sinal para o Brasil ━ de sete trilhões de dólares ━ de que a menos que o desmatamento diminua eles retirarão ativos do nosso país a curto prazo.
Algumas áreas da Amazônia já passaram a emitir mais dióxido de carbono do que absorver diariamente. Fatores como o desmatamento causado pelo homem e os efeitos das mudanças climáticas parecem ter influenciado a capacidade do bioma de atuar como um filtro de um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa.
Segundo um estudo da Fundação Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo há grande risco de aumento de secas incluindo aumento das temperaturas da superfície, mudanças nos padrões de precipitação e elevação no número e intensidade de extremos climáticos no Brasil.
Essas variações nas características climáticas são precursoras do que pode estar por vir nas próximas décadas se a escalada, sem precedentes, nas emissões continuar na Amazônia e no Pantanal.
Desde 2019 a gestão desde governo tem sido alvo de críticas ambientais no Brasil e no exterior diante da explosão de queimadas e do desmatamento ecológico. Os últimos quatro meses foram de grande alta nos alertas de desmate do bioma.
É inconcebível que a administração de um país destrua propositadamente o seu próprio patrimônio natural cometendo crime de lesa-majestade contra os interesses nacionais.
O Brasil tem um enorme capital diplomático a explorar como na área do meio ambiente, mas no momento esse capital está imobilizado pelo apoio de Brasília aos destruidores da Amazônia e do Pantanal.