O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em entrevista concedida ao jornal "The Washington Post" e publicada nesta segunda-feira (18), mandou um recado ao presidente Donald Trump, que o acusa de extrapolar suas funções de juiz, ao agir, na opinião do estadunidense, como um ditador na Corte, pela forma como estaria conduzindo a ação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, acusados de tentativa de golpe de Estado.
Moraes deixou claro que apesar das sanções impostas por Trump contra o Brasil (na forma do tarifaço), e contra ele próprio (alvo da draconiana "Lei Magnitsky”), que não passa pela sua cabeça recuar de suas decisões.
“Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, afirmou. “Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas, e quem tiver que ser condenado, será condenado; quem tiver que ser absolvido, será absolvido”.
A longa entrevista foi transformada por Moraes numa aula de legalidade e de clareza sobre os fundamentos do Estado Democrático de Direito, que norteiam sua codnduta no STF.
“Eu entendo que para uma cultura americana é mais difícil entender a fragilidade da democracia porque nunca houve um golpe lá”, afirmou Moraes.
“Mas o Brasil teve anos de ditadura sob (o presidente Getúlio) Vargas, outros 20 anos de ditadura militar e inúmeras tentativas de golpe. Quando você é muito mais atacado por uma doença, você forma anticorpos mais fortes e procura uma vacina preventiva,” disse.
Inspiração
Moraes disse que sempre procurou inspiração na história da governança dos Estados Unidos, expondo as obras de dois dos chamados "Pais Fundadores dos EUA", os ex-presidentes Thomas Jefferson e James Madison, e de John Jay, o primeiro presidente da Suprema Corte daquele país.
“Todo constitucionalista tem uma grande admiração pelos Estados Unidos”, destacou o ministro.
Ele disse também que o Brasil e os Estados Unidos sempre foram amigos e acreditava que as atuais diferenças fossem temporária, impulsionadas pela política e pela desinformação.
Eduardo Bolsonaro
Moraes cita o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, financiado pelo seu pai, executa uma campanha desonesta pedindo hostilidades dos EUA contra o Brasil e sanções contra ele Moraes.
“Essas falsas narrativas acabaram envenenando o relacionamento - narrativas falsas apoiadas por desinformação espalhada por essas pessoas nas mídias sociais”, disse Moraes.
“Então, o que precisamos fazer, e o que o Brasil está fazendo, é esclarecer as coisas.”
Moraes falou também sobre o desgaste que tem passado e o tanto que sua vida pessoal foi impactada.
“É agradável passar por isso?” ele disse. “É claro que não é agradável.”
"Mas o Brasil estava enfrentado forças poderosas que queriam desfazer a democracia", disse Moraes, completado que seu trabalho detê-las. "Enquanto houver necessidade, a investigação continuará”, afirmou.
Confira a íntegra da entrevista no link abaixo:
https://www.washingtonpost.com/world/2025/08/18/brazil-moraes-judge-trump-bolsonaro/