Racismo, preconceito, injúria racial? Aconteceu comigo...
Famosos contam histórias reais de racismo sofridas nos últimos anos
Por iG São Paulo | , por Romário de Oliveira |
É lamentável que situações discriminatórias ainda aconteçam num País que se orgulha de ser multirracial. Mesmo bem-sucedido e vivendo carreira artística em plena ascensão, Thiaguinho contou para o jornal Folha de São Paulo que foi vítima de preconceito ao ir almoçar em um restaurante usando short, camiseta e chinelo. Ao sair, quando o manobrista trouxe o carro do artista e ele foi entrar, colocou a mão na frente impedindo a sua passagem. "Ele não achou que aquele carro pudesse ser o meu. Me olhou de cima à baixo e perguntou: 'Você é o dono?'", lembrou ele. Para o cantor, o preconceito no Brasil é velado. "Quando alguém vê um negro com um carrão, logo pergunta: 'É jogador ou pagodeiro?'". Será que no nosso País o negro só pode ter dinheiro se tiver uma dessas duas profissões?
"Já sofri preconceito e racismo várias vezes", lamenta a cantora Vanessa Jackson, atualmente estrela de um musical em homenagem a diva pop Whitney Houston. "É sempre assim... Se entro em um estabelecimento junto com uma branca, sou tratada de modo inferior. De repente alguém me reconhece e as coisas mudam de lugar. Não sou mais 'aquela preta' que entrou na loja e foi discriminada. Agora eu sou Vanessa Jackson, e a 'Vanessa Jackson não tem cor'. Isso é muito revoltante!" Para a artista o racismo e o preconceito estão cada vez mais camuflados, tudo por debaixo dos panos. "Um bom exemplo são as escolas e faculdades. Lá ficam explicitamente claro as diferenças entre classes e raças. Justamente no lugar onde a gente espera que não aconteça... Isso é revoltante! Na minha opinião não vai acabar nunca."
Depois de uma temporada de sucesso no teatro com a peça Baquaqua – Documento Dramático Extraordinário, levando aos palcos a história real de Mahommah Gardo Baquaqua, um africano escravizado em terras brasileiras, o ator Breno da Matta seguiu para o México, para uma nova temporada com um grupo de atores e profissionais da dramaturgia. Qual não foi a sua surpresa ao desembarcar no aeroporto e ser vítima de "olhares atravessados" e de uma abordagem nada cordial, com direito a platéia... Em sua rede social, o artista entrou em cena para desabafar: "CARA GENTE BRANCA! E nem tão Branca, as nada brancas também. Como é bom chegar em outro país e sentir-se amado. SÓ QUE NÃO. Nem precisei sair do aeroporto para sentir esse carinho: olhares atravessados dos funcionários, uma certa grosseria gratuita, por coincidência as únicas malas abertas na alfândega foram a minha e de outro negro. E aquele cachorro cheirador que me amou? A condutora trouxe ele umas duas vezes pra perto da minha mala... Gostei também de ser interrompido numa conversa para ser o único a ter o passaporte solicitado, nunca me pediram o passaporte tantas vezes, acho que não gostaram do meu chapéu... Mas, a parte que mais gostei foi o oficial do exército com fuzil em punho e me fuzilando com o olhar, e não era aquele cantado pelo grupo RPM. OBRIGADO MÉXICO, descobri hoje o quanto sou carismático. Só pode... Por isso na peça Baquaqua usamos muito a frase 'ESTAMOS EM PLENO MAR'. É uma analogia a estarmos ainda como os que vieram nos návios negreiros: ainda navegamos os resquícios dessa história."
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Com certeza, a atriz de origem queniana Lupita Nyong'o, que nasceu na Cidade do México, aplaudiria o texto de Breno, que de ficção não tem nada. Ela também foi vítima de racismo quando seus pais se refugiaram naquele país. "As pessoas tiravam fotos da gente só por sermos afrodescendentes", revelou em entrevista. Os anos se passaram e mesmo sendo uma atriz premiada, ela continua sentindo o racismo na pele. Mesmo com um currículo invejável, a estrela deveria estar sendo disputada a tapas pelos executivos dos estúdios de Hollywood, mas isso não acontece porque ela é negra. Para completar, após ser eleita pela revista People como a mulher mais bonita do mundo, a vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme “12 Anos de Escravidão” foi reprovada por ter “aquele tipo de cabelo”, “aquelas feições” ou “aquela cor de pele tão escura”. Para os infratores, os que reprovaram o resultado da eleição feita pela publicação, como uma negra poderia ser eleita a mulher mais bonita do mundo? Lupita apenas lamentou: “O racismo não terminou... Ele não está morto.”
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Com a modelo Kelly Alimah, idealizadora do Projeto Afronte, não foi diferente. Ela e outras modelos se preparavam para uma sessão de fotos. "O fotógrafo sugeriu um local onde já tinha feito produções em uma área nobre da zona norte de São Paulo", recorda a modelo. "Simpático e muito solicito, um morador do bairro nos ofereceu um espaço de sua residência para nos organizarmos. Tudo ia bem até uma viatura da polícia nos abordar... Segundo eles, receberam uma denúncia de moradores dizendo que algumas 'meliantes' circulavam pelo bairro com muitas malas. Após apresentarmos os documentos e explicarmos a situação ficou tudo – quase – resolvido. Digo quase porque meia hora depois chegou mais um carro de policia. Paramos a sessão de fotos e..." Mais policiais no local atendendo uma nova denúncia? SIM! "Como é difícil ser modelo negro nesse país. Chato, não? Vitimismo jamais! É a relaidade nua e crua...Mas, até quando?"
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Rua Oscar Freire, área nobre de São Paulo. Jonathan Duran, cidadão americano e a esposa foram as compras. Ele é editor financeiro e está há 19 anos no Brasil. Passeava com o filho, um menino negro de 8 anos, enquanto a mulher fazia compras em uma loja. “Fiquei perplexo quando vi o meu filho sendo expulso da frente da loja Animale”, ele recorda. Horas depois, ele postou o episódio nas redes sociais, muita gente compartilhou e acabou chamando atenção da imprensa – ele foi chamado para depor logo após a repercussão do episódio. “Esse tipo de ação serve para mostrar para grifes, funcionários e empresários de que racismo é, sim, passível de punição”, diz Duran, que evita falar com o filho sobre os desdobramentos do caso. “Ele não entende o que aconteceu. Ontem mesmo se referiu à funcionária como a ‘mulher que ficou nervosa’”, conta. “Se isso acontecer com você, denuncie, mesmo que não repercuta como no episódio do meu filho!”, incentiva.
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Cansado de sobrer bullying, o modelo e ator Kauan Alvarenga foi obrigado a abandonar a escola onde estudava. "Todos os dias ele recebia agressões verbais e físicas dos colegas. Chamavam ele de cabelo duro e de cabelo de bombril. E nos intervalos puxavam o cabelo dele. Isso começou a refletir nas notas do meu filho", desabafa Adriana Gervásio Alvarenga, Técnica de enfermagem. "Fui várias vezes na direção. Eles ignoravam. Até que um dia fui buscá-lo e no caminho, voltando para casa, fomos surpreendidos por um grupo que jogava pedra e nos xingavam. O que eu fiz depois de tanto preconceito e descaso, resolvi tirar o meu filho daquela escola." A escola simplesmente ignorou...
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Em campo, o jogador Daniel Alves. Clássico entre Villarreal e Barcelona. Minutos finais do jogo e o lateral da seleção brasileira ouve sons de imitações de macacos vindos das arquibancadas. O seu bom desempenho foi acompanhado de ofensas por parte da torcida adversária, que jogou bananas em sua direção. Cartão vermelho para as atitudes racistas dos torcedores... Daniel entrou "literalmente" no jogo e, em vez de mostrar descontentamento, respondeu ao insulto de maneira inusitada, com fina ironia: ao se preparar para cobrar um escanteio, se abaixou, pegou uma das bananas e comeu. “Estou na Espanha há 11 anos e há 11 anos é dessa maneira. Temos de rir dessa gente atrasada”. O caso de racismo envolvendo Daniel Alves ganhou o mundo e as redes sociais. Infelizmente, continua em campo...
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Era para aquele dia ser o melhor da sua vida: pela manhã, aprovada para uma campanha publicitária. A noite, após ser aplaudida na passarela de um desfile de moda, a modelo Jady Caribé, 1,80 de altura foi comemorar o sucesso com outras modelos em uma badalada casa noturna de São Paulo. "Eu estava muito feliz!", conta Jady. "Chegamos e fomos direto para a pista!". Não precisa dizer que elas se tornaram o centro das atenções. "Percebi que um homem bebia no bar e não parava de me olhar, fiquei assustada...", recorda a modelo. "Minutos depois ele desapareceu. Cansadas de tanto dançar, fomos para as poltronas. O homem misterioso apareceu segurando uma taça de champanhe. Seguiu em minha direção, eu permaneci sentada. Fiquei tensa... Ele parecia estar bêbado. Disparou: 'Seu cabelo black power é interessante, quero ver se ele é a prova d'água'... Virou a taça de bebida na minha cabeça". Jady ficou sem reação. Desesperada, começou a chorar. As amigas correram para chamar os seguranças, outros homens que viram a cena, seguraram o bêbado. "Fui para o banheiro e desabei. Estava tão feliz com o sucesso que fiz no desfile, mas, depois do que aconteceu a minha noite acabou..."