Racismo virtual
Preconceito, violência, intolerância... A internet não é um mundo diferente do que vivemos. "Ele", o racismo, vem de forma virtual, mas as consequências são reais: só quem vive e sente na pele sabe como é...
Por iG São Paulo | por Romário de Oliveira |
A prática de atitudes racistas deve ser punida sempre. Constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. Mesmo assim, alguns usuários, escondidos por trás de perfis falsos, estão usando as redes sociais para expor comentários discriminatórios, expressando preconceito. Em julho do ano passado a cantora Preta Gil denunciou mensagens de ódio recebidas pelas redes sociais. No Facebook, a artista desabafou, dizendo que "atacaram" a cor da sua pele, seu trabalho e seu corpo. "Me chamaram de macaca e falaram que eu tinha que voltar para a senzala. Coisas absurdas que me chocaram. Fiquei muito nervosa no primeiro momento".
Outro caso de racismo de repercussão nacional ganhou destaque no noticiário nos últimos meses: internautas ofenderam a pequena Titi, filha adotiva dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank. A Polícia Civil do Rio de Janeiro deflagrou uma operação, em São Paulo, para apurar a origem de comentários racistas sofridos pela filha dos artistas. “Você e seu marido até que combinam, mas a criança que vocês adotaram não combinou muito porque ela é pretinha e lugar de preto é na África”, escreveu um usuário cujo perfil foi excluído. No Instagram, um deles dizia: "Vocês tinham que adotar uma menina de olhos azuis isso sim iria combinar e não aquela pretinha parece uma macaquinha #lugardepretoénaafrica!!!". Foram expedidos três mandados de busca e apreensão no Estado, a pedido da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI). Sete pessoas foram conduzidas à delegacia para prestar esclarecimentos. Uma delas, um adolescente de 17 anos, confessou ter criado um perfil falso no Facebook para fazer as ofensas, acreditando que, assim, ficaria impune.
O mesmo aconteceu com a atriz Cris Vianna. Uma foto postada em seu Facebook foi alvo de comentários preconceituosos. Cris entrou em cena e respondeu com classe: “Se meu trabalho me permite alguma expressividade, usarei minha voz por muitos que sofrem esse tipo de ataque racista diariamente e voltam para casa calados, cansados de não serem ouvidos, para chorar sozinhos. Como todos vocês, tenho orgulho da minha pele, do meu cabelo, da minha origem e de tudo o que sou”, desabafou.
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Esta não é a primeira vez que uma funcionária da Rede Globo sofre racismo. A página da atriz Taís Araújo também foi alvo de diversos ataques racistas. A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática abriu inquérito para apurar os ataques contra a artista. Quase 100 mil seguidores, fãs de Taís criticaram o ódio e o preconceito disseminados na rede social e defenderam a atriz como uma das maiores representantes da beleza negra no Brasil. Taís respondeu o caso de ódio com amor e não se calou diante do racismo que sofreu.
“É muito chato ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar: recebi uma série de ataques racistas na minha página. Absolutamente tudo está registrado e será enviado à polícia federal. E eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena nesse país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça. Sigo o que sei fazer de melhor: trabalhar. Se a minha imagem ou a imagem da minha família te incomoda, o problema é exclusivamente seu! Por ironia do destino ou não, isso ocorreu no momento em que eu estava no palco do Teatro Faap com O Topo da Montanha, um texto sobre ninguém menos que Martin Luther King e que fala justamente sobre afeto, tolerância e igualdade. Aproveito pra convidar você, pequeno covarde, a ver e ouvir o que temos a dizer. Acho que você está mesmo precisando ouvir algumas coisinhas sobre amor.”
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Depois de ataques racistas às atrizes Cris Vianna e Taís Araújo, a vítima da vez foi Sheron Menezzes. “Racismo é crime. Intolerância é crime”, indignou-se. “Se você sofre de alguma atitude racista, você tem que denunciar, não tem que ficar quieto. E meus fãs foram atrás do perfil fake responsável pelos ataques”, relatou a atriz que fez um apelo para que, em breve “não precisemos falar mais sobre isso”.
A jornalista Maria Julia Coutinho, primeira mulher negra a apresentar a previsão do tempo no “Jornal Nacional” também foi vítima de comentários racistas na página do Facebook do Jornal Nacional. Internautas destilaram uma série de ofensas contra ela. “Não me abalo. Acho triste, mas sou muito consciente. Cresci numa família que militou no movimento negro. Não perco muito tempo com isso”, disse Maju, em entrevista a um jornal carioca. Outros usuários saíram em sua defesa e, mais tarde, as mensagens negativas foram removidas do perfil.
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Algumas providências podem ser tomadas para auxiliar a polícia na investigação. Há dois caminhos para procurar a justiça. O mais rápido é, depois de salvar e imprimir as provas, procurar a delegacia mais próxima; a segunda opção é o cartório, em que o próprio atendente se encarregará de coletar as provas online e emitir uma ata notorial, formalidade que ajuda a acelerar o processo.
Diferente de ataques sofridos pela maioria dos famosos através de suas redes sociais, a cantora Negra Li teve o seu site oficial invadido por hacerks. Uma imagem de um macaco passou a estampar a página principal da cantora junto com mensagens racistas.
Racismo é crime segundo a Constituição brasileira e, no caso dos insultos na Internet, independentemente de terem sido direcionados a uma pessoa famosa ou não, os agressores infringem a lei, a honra e a dignidade. Quem for acusado de preconceito por raça, cor, etnia, religião ou nacionalidade, poderá ser condenado. Que fique claro: a Internet não é um "território livre". Vamos DELETAR esses infratores!
DISQUE 100 E DENUNCIE!
O Disque 100 é um serviço de atendimento telefônico gratuito, que funciona 24 horas por dia, em todos os dias da semana. As denúncias recebidas na Ouvidoria dos Direitos Humanos e no Disque 100 são analisadas, tratadas e encaminhadas aos órgãos responsáveis.