Quando Edinho Silva encerrou o quarto mandato como prefeito de Araraquara, no fim de 2022, não tinha quem não apontasse que ele logo assumiria um cargo no primeiro escalão do governo Lula . A aposta era a Secom, da qual foi ministro na gestão Dilma Rousseff .
Em vez disso, o presidente Lula deu a ele outra missão: assumir a presidência do PT.
O fato de enfrentar resistências dentro da própria legenda, e ser desafiado por lideranças como Rui Falcão, mostra o tamanho do desafio -- similar apenas à rebelião de quadros à esquerda da legenda que no primeiro governo Lula espernearam contra a política econômica de Antônio Palocci e saíram pela porta dos fundos para fundar o PSOL.
A legenda hoje vive uma crise de identidade entre abraçar a agenda econômica de Fernando Haddad ou decretar independência. Entre entrar de sola contra partidos rivais ou possíveis aliados para defender pautas populares como o fim da escala 6 por 1 e a taxação dos super ricos, propostas que provocam urticaria em uma corrente que vai do União Brasil ao MDB. E que hoje ameaça desembarcar do governo e apoiar um candidato bolsonarista em 2026.
É neste contexto, agravado pela queda de braço do IOF, que Edinho assume.
De perfil conciliador, ele é o primeiro presidente do PT, desde a primeira gestão Lula, com experiência à frente do Executivo -- municipal, ok, mas é o que faltou a antecessores como Gleisi Hoffmann, Humberto Costa, Rui Falcão e José Genoino.
Isso conta diante do atarefa de administrar uma "cidade" com quase 3 milhões de filiados e muitas correntes internas divergentes.
Como prefeito, Edinho precisou receber e negociar com empresários e sindicalistas, barões da indústria e do agro, estudantes e professores, comerciantes e servidores. E ajudou a transformar uma cidade de 252 mil habitantes em uma trincheira até outro dia imune à onda bolsonarista que varreu o interior paulista.
No auge da pandemia, ele fez de Araraquara um modelo de enfrentaremos da Covid-19, decretando um lockdown total com alto custo político.
Em 2024, não conseguiu eleger sua então secretária da Saúde, Eliana Honain, como sucessora. Ela foi derrotada pelo médico bolsonarista Doutor La Pena.
A chapa que formou em torno da sua candidata tinha partidos como PSDB, PDT e Cidadania, o que dá uma amostra da capacidade de Edinho de reunir adversários em um projeto comum.
É esse o desafio agora, tanto internamente, quanto fora.
Num momento em que o PT e simpatizantes partem pra cima de lideranças do Centrāo em uma luta mobilizada até por Inteligência Artificial em torno de Justiça Tributária, fechar posição ou ampliar alianças para fortalecer os palanques de Lula em 2026 não será tarefa fácil.
Mas ser eleito para quatro mandatos em uma cidade tão conservadora quanto Araraquara também não era.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG