
Lula pode bater o bumbo.
A economia brasileira cresceu 2,9% no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2024 – e 1,4% na comparação com o trimestre anterior.
Os dados são do IBGE, que atribui à agropecuária o salto no PIB.
O setor avançou 10,2% em três meses, graças à supersafra e às condições climáticas que beneficiaram a produção de soja (13,3%), milho (11,8%), arroz (12,2%) e fumo (25,2%).
Os números indicam que, se nenhuma hecatombe acontecer (por exemplo, Donald Trump manter as tarifas a importações e fechar mercados além do ferro e do aço) o país deve fechar o ano com saldo positivo às vésperas de uma nova eleição.
E eleições costumam ser decididas pelo bolso.
Aí que está o nó.
Há cerca de dois meses, a maioria dos brasileiros ouvidos em uma pesquisa Genial/Quaest dizia que a economia do país piorou nos últimos 12 meses.
Oito em cada 10 entrevistados afirmavam que o poder de compra estava menor do que um ano atrás.
Aqui é necessário observar a parte para entender o todo.
Em um ano de escalada do dólar, a inflação, em 2024, fechou em 4,83%, acima da meta do governo, de 3% (IPCA). Tudo ficou mais caro, inclusive o crédito, afetado pela alta dos juros – o dispositivo amargo para conter a inflação.
Os preços subiram sobretudo no grupo de alimentos e bebidas (7,62%).
Itens essenciais da cesta básica, como café (8,56%), tomate (20,27%) e cenoura (36,14%) foram os que mais pesaram no bolso de um ano pra cá.
Dos produtos que puxaram o PIB neste trimestre, parte é vendida para o mercado externo. E, por natureza, o agro é um setor que gera muito e distribui pouca riqueza.
Lula tem a seu favor o fato de que o desemprego hoje é de 6,6%, taxa considerada baixa para esse período do ano – há dez anos, o índice ultrapassava dois dígitos (em 2021, chegou a 14,9%).
O problema, portanto, não é a ocupação, mas a qualidade dos empregos.
Há muita gente trabalhando e muito. Muitas delas sentem que o trabalho não é suficiente para comprar o que comprava há pouco tempo, o que revela um descasamento entre emprego e satisfação.
A alta do PIB é um alento, mas a boa notícia ainda não chegou para o grosso da população.
Políticas públicas, que induzem o crescimento da economia, têm um custo. E a máquina do governo ameaça travar sem mecanismos de arrecadação como o aumento de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) proposto pela equipe econômica.
O Congresso promete jogar duro em um tema que pode roubar (muitos) votos em 2026.
Mas não faz sua parte ao barrar projetos com alto impacto nos gastos. A começar pela farra do orçamento secreto.
O cobertor, portanto, ainda é curto. E a queda-de-braço mal começou.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG