O número de focos de fogo na Amazônia cresceu 30% em 2019 em relação ao ano anterior, segundo dados compilados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ( Inpe ). Ao todo, foram 89.178 incêndios detectados pelo satélite de 1º de janeiro a 31 de dezembro do ano passado. É a maior máxima desde 2017, que registrou 107.439 focos.
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Em agosto, quando ocorreu o auge das queimadas, foram 30.901 incêndios — o pior mês da série de 2019 e o mais incendiário desde 2010. O pico das queimadas na Amazônia ganhou repercussão mundial e levou lideranças estrangeiras, como o presidente da França, Emmanuel Macron, a pressionar Jair Bolsonaro quanto à política ambiental do Brasil para a floresta. Além dos efeitos deletérios à biodiversidade, a população amazônica sentiu efeitos na saúde.
Setembro, por sua vez, foi o segundo mês recordista do ano, com 19.925 focos de queimadas. O crescimento dos incêndios, no entanto, não coincidiu com um período de seca intensa como no caso de 2017. Especialistas apontam diversas evidências para ação humana na deflagração das chamas.
O chamado " dia do fogo ", investigado pela Polícia Federal, é um dos indícios da ação de fazendeiros e grileiros que desejavam chamar atenção do governo federal através das queimadas. O presidente Jair Bolsonaro, por outro lado, responsabilizou em mais de ocasião as ONGs pelos incêndios no bioma amazônicol.
"Essa estação seca na Amazônia foi menos seca do que a de 2018, absolutamente abaixo da média. Não se pode atribuir as queimadas na Amazônia ao clima", afirma Carlos Nobre, climatologista do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). "A floresta é muito úmida. Cerca de 99,9% do fogo que os satélites detectaram foram provocados por seres humanos", acrescenta.
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Além disso, ainda segundo Nobre, boa parte dessa atividade ilegal está atrelada à atividade agropecuária.
"Nossa agricultura tropical usa o fogo como ferramenta principal de limpeza. Normalmente 85% dos focos de incêndio são da agricultura, só que parte do fogo sai do controle da agricultura e passa para uma floresta degradada. O resto é incêndio proposital para queimar a mata derrubada", diz o climatologista. "Mais de 90% dos incêndios, mesmo os de agricultura, são criminosos porque não têm autorização. Você precisa de autorização dos órgãos ambientais, que avaliam o período e podem vetar ou não", completa.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico nesta quarta-feira (8), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles , anunciou que pretende criar no próximo mês uma Secretaria da Amazônia dentro da pasta. O órgão, voltado para o que chamou de "bioeconomia", ecoturismo e exploração econômica, seria sediado em Manaus (AM).
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A sede da futura secretaria já estaria acertada com o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), ainda segundo Salles. Caso a criação do órgão encontre barreiras burocráticas, o ministro disse cogitar a criação de um escritório de uma secretaria já existente na capital amazonense. Salles, na entrevista, não fez menção às queimadas nem ao desmatamento na Amazônia , mas afirmou apostar no ecoturismo como uma reação às críticas de países estrangeiros à política ambiental do governo Bolsonaro.