Convidado a participar da audiência pública que a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados realizou hoje (22) para tratar do derramamento de petróleo cru que atingiu a todo o litoral da Região Nordeste, o contra-almirante Alexandre Rabello de Faria disse considerar que o problema transcende as fronteiras brasileiras . Para o militar, há fortes evidências de que o óleo começou a se espalhar de um ponto ainda não identificado, mas já em águas internacionais, configurando um “problema de nível internacional”.
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“Na medida em que este vazamento não foi comunicado, ele é sim um problema muito grave e que eu acho que é de nível internacional, principalmente se confirmada [a hipótese de ter ocorrido águas internacionais ”, comentou o contra-almirante. Faria também afirmou que, se, de fato, o problema teve origem em área marítima além do domínio territorial brasileiro, “a questão transcende a jurisdição do Estado brasileiro”.
Segundo o militar, a Marinha, que coordena as investigações sobre a origem da mancha de óleo que poluiu trechos do litoral dos nove estados nordestinos
(Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe) já vem recebendo o apoio de órgãos e instituições estrangeiras, incluindo a guarda costeira dos Estados Unidos. Universidades públicas brasileiras também estão auxiliando a Marinha, a Polícia Federal (PF) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a identificarem a provável origem do óleo.
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Até o momento, as autoridades têm três principais hipóteses para explicar como a mancha de petróleo cru chegou ao litoral brasileiro: o produto vazou quando era transferido de alguma embarcação para outra , por algum motivo desconhecido ou um navio que transportava o óleo naufragou sem deixar registros (o que levanta a possibilidade de se tratar de um “navio fantasma”, ou seja, um navio irregular, não-registrado, e que navega com o sinalizador desligado para não ser identificado). Também não está descartada a hipótese de um derramamento de óleo .
“Se acidental ou intencional, doloso ou culposo, não sabemos”, comentou o contra-almirante ao declarar que, na tentativa de identificar os responsáveis, a Marinha também está recebendo ajuda estrangeira , inclusive da Organização Marítima Internacional. “Na medida em que este incidente não foi comunicado, a questão da detecção da origem é muito dificultada. Assim como a questão do volume que foi despejado”, acrescentou Faria ao classificar a tragédia ambiental como um “incidente inédito”.
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“Seja em extensão, seja em volume de óleo derramado ou em duração temporal, não temos conhecimento de que algo similar já tenha acontecido. Ao menos não no Ocidente”, comentou o contra-almirante, explicando as dificuldades do trabalho de contenção e limpeza do óleo. “Este óleo não se dissemina na superfície. A partir do ponto de origem [de dispersão do produto], ele se espalha abaixo da superfície do mar, o que dificulta e até mesmo impede a detecção por imagens de satélite ou sobrevoos . As manchas só aparecem já muito próximas à costa,dificultando e tornando perigoso os navios as recolherem [próximo à terra firme]”.
Faria lembrou que, para os especialistas, é bastante provável que a mancha de óleo tenha sido trazida para próximo da costa brasileira pela corrente marítima Sul Equatorial , que se forma no meio do Oceano Atlântico, a meio caminho entre a América do Sul e a África. Já próximo à costa, a corrente se bifurca em outras duas: a das Guianas, que segue no sentido Norte, e a Corrente do Brasil, que desce próxima ao litoral brasileiro, no sentido sul. Para o contra-almirante, o “comportamento difuso” costumeiramente observado entre os meses de agosto e setembro nas áreas sob influência das duas correntes marítimas que banham a região pode ajudar a explicar o porque das manchas de óleo terem se espalhado pelo litoral nordestino de forma aleatória, desaparecendo e ressurgindo em trechos anteriormente atingidos.
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“[Inicialmente] imaginávamos que, no fim de setembro, o processo [de dispersão do óleo] estaria na fase terminal. Só que, em outubro, as manchas de óleo voltaram a incidir com muita força no litoral do Sergipe e da Bahia. Agora, as recentes ocorrências estão concentradas em Pernambuco”, comentou Faria, acrescentando que, até ontem, mais de 900 toneladas de material contaminado já tinham sido recolhidas das áreas afetadas, que incluem praias, manguezais e a foz do Rio São Francisco, em Alagoas.