Brasil perdeu '2,5 Alemanhas' em florestas nos últimos 34 anos, diz MapBiomas

Nova coleção de mapas mostra que vegetação teve redução de 89 milhões de hectares entre 1985 e 2018; já agropecuária cresceu 86 milhões de hectares

Foto: Fernando Frazão/ABr
Queimadas na Amazônia subiram 82% neste ano

Um dado divulgado na quinta-feira (29 de agosto) em Brasília dá a dimensão do erro que políticos brasileiros cometem quando mandam, por exemplo, a chanceler Angela Merkel “reflorestar a Alemanha”. O maior esforço já feito de mapeamento de vegetação do Brasil mostrou que em apenas 34 anos o país perdeu em florestas o equivalente a duas vezes e meia o território alemão.

Leia também: Polícia procura fazendeiros suspeitos de queimadas no Pará

Foram 89 milhões de hectares (890 mil quilômetros quadrados) de vegetação nativa perdidos entre 1985 e 2018 no Brasil , segundo o projeto MapBiomas , que lançou sua quarta coleção de mapas. A Alemanha, que derruba florestas desde antes do Império Romano e é o país mais rico da Europa, não acabou com as suas.

Iniciativa do Observatório do Clima (OC), o MapBiomas reúne duas dezenas de ONGs, universidades e empresas de tecnologia para mapear todas as mudanças de uso e cobertura do solo ocorridas no Brasil desde o ano da redemocratização. Cada pedaço de 30m x 30m do território nacional tem sua história contada por imagens de satélite.

Continua após a publicidade

As florestas do Brasil recuaram de 587 milhões de hectares em 1985 para 505 milhões no ano passado. Mais de metade dessa perda – 47 milhões de hectares – ocorreu na Amazônia. A vegetação não florestal, como campos naturais e mangues, recuou de 71 milhões para 64 milhões de hectares. Já a agropecuária cresceu de 174 milhões de hectares para 260 milhões. Hoje o Brasil ocupa com lavoura e pastagem uma área quase equivalente a todo o território da Argentina (incluindo desertos, montanhas e geleiras). Há quem ache que é pouco.

Mais gases-estufa

“Quando somado às queimadas, o desmatamento gera maior emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e diminui o sequestro de carbono , fundamental para reduzir a concentração destes gases na atmosfera e sem o qual não será possível limitar o aquecimento global abaixo de 2 °C”, afirmou Tasso Azevedo, coordenador técnico do OC e do MapBiomas.

Leia também: Robôs impulsionaram hashtags contra ONGs na Amazônia e a favor de Salles

O MapBiomas também vem mapeando mudanças no modo de produzir no Brasil. Ele nota, por exemplo, que a área de pastagens parou de crescer no país por volta de 2005 e vem caindo nos últimos anos. “Isso se deve à expansão da agricultura sobre áreas de pastagem ”, afirma Azevedo. Ou seja, a produtividade da pecuária em algumas regiões aumentou.

O surto de construção de hidrelétricas também fez com que aumentasse a área do Brasil ocupada por corpos d’água – em 3 milhões de hectares. A área com mineração mais do que triplicou, assim como a infraestrutura urbana.