Na contramão do país, abertura de pastagens cresce na Amazônia, diz MapBiomas
Análise do uso do solo no Brasil de 1985 a 2018 mostra que pecuária cresce na floresta com baixa produtividade e abandono de áreas
A Amazônia costuma ser celebrada pela riqueza de sua floresta. Dados revelados por satélites e geoprocessamento e apresentados ontem mostram um retrato do abandono e do desperdício dessa mesma riqueza.
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De 1985 a 2018, segundo o projeto MapBiomas, o país perdeu 89 milhões de hectares de áreas naturais, algo como 20 vezes a área do estado do Rio de Janeiro. E, na Amazônia , o abandono dessas áreas desmatadas fica evidente: de cada 10 hectares desmatados na floresta, 3 são abandonados, 6 viram pasto e 1 é empregado na agricultura e todos os demais usos, como urbanização e mineração.
"É um retrato do desperdício e da degradação causada pelo desmatamento ", afirma o coordenador do MapBiomas , o engenheiro florestal Tasso Azevedo.
O MapBiomas é um projeto colaborativo de universidades, empresas de tecnologia e ONGs para mapear e monitorar a cobertura e uso da terra no Brasil . Ele usa a interpretação de imagens de satélite da série Landstat, o mesmo empregado pelo Inpe , com resolução de 30 metros.
Sai árvore, entra gado; depois, plantação
A perda de áreas naturais acompanha o ritmo dos rebanhos, pois a abertura de pastos é o principal motor do desmatamento . No período de 1985 a 2018, a área de pastagens teve um aumento de 86 milhões de hectares.
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Segundo o MapBiomas, a abertura de pastagens tem se reduzido no país, mas não na Amazônia Legal . Em 2005 havia 45 milhões de hectares de pastagens lá. Em 2018 essa área cresceu para 53 milhões de hectares.
"A pastagem avança sobre a floresta e a agricultura , sobre a pastagem. Mas, na Amazônia, a pastagem continua a crescer, com abandono de áreas e baixa produtividade. Temos cerca de uma vaca por hectare ou mata transformada em pasto do tamanho de um campo de futebol na Amazônia. É uma produtividade baixíssima e um péssimo uso da terra", salienta Azevedo.
Regeneração enganosa
A nova coleção de dados do MapBiomas mostrou o tamanho das áreas regeneradas no país. Mas o nome regeneração engana. A classificação de áreas regeneradas engloba as capoeiras, áreas de campo sujo, vegetação rasteira e florestas secundárias, com espécies de pouca exigência e baixa diversidade. Um retrato de uma natureza degradada, que no Brasil cobre 44 milhões de hectares.
"A tragédia é o tamanho das chamadas áreas em regeneração. É uma enormidade", afirma Azevedo.
Na Amazônia, segundo os novos dados, a composição florestal é de 66% de mata primária — ou seja, a Floresta Amazônica original — e 26% de vegetação secundária, sem o mesmo valor ecológico. Todas são verdes, parecem a mesma coisa a um olhar desavisado. Mas é como ouro e pirita, o ouro dos tolos: ambos brilham, mas só um é precioso.
Dentro dessa vegetação secundária estão também as áreas desmatadas, abandonadas e onde o mato tomou o lugar de gigantes da Amazônia, como mogno, massaranduba, cedro e ipês.
Na Amazônia e no Cerrado, explica Azevedo, quase a totalidade das áreas em regeneração são aquelas onde a vegetação cresceu por si própria, diferentemente da Mata Atlântica onde há alguns projetos de reflorestamento.
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"E ainda assim só conseguimos mostrar áreas em regeneração há mais de seis anos, quando a cobertura vegetal já pode ser diferenciada com mais precisão pelos satélites. Áreas recém-desmatadas não aparecem nessa conta. Desmatar é à vista. Mas regenerar e, sobretudo, recuperar é a prazo", finaliza.