Uma única injeção é o suficiente para transformar uma ‘dócil’ abelha em uma ameaça dolorosa. Isso é o que revela um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro sobre como simples mudanças nas proteínas das abelhas africanizadas, popularmente conhecidas como “abelhas assassinas”, podem deixá-las ainda mais furiosas.
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Os cientistas descobriram que as “ abelhas assassinas ” são naturalmente mais agressivas do que outras espécies, e que desde suas primeiras aparições no Brasil, em 1950, mataram cerca de mil pessoas. A equipe - formada pelos estudiosos Marcel Pratavieira, Anally Ribeiro da Silva Menegasso, Franciele Grego Esteves, Kenny Umino Sato, Osmar Malaspina e Mario Sergio Palma - mostra que esse grupo híbrido realiza ataques em enxames com mais de 800 mil insetos, a fim de se proteger de intrusos que ‘invadem’ seu território.
“Abelhas assassinas” se enfurecem com barulhos comuns
Segundo o estudo publicado no Journal of Proteome Research , as abelhas africanizadas, trazidas para o Brasil em uma tentativa de aumentar a produção de mel, são tão irritadiças que o barulho de um cortador de grama, por exemplo, consegue enfurecê-las e fazer com que piquem suas vítimas dez vezes mais forte do que as demais espécies.
Além disso, proteínas conhecidas como neuropeptídios, que atuam nos cérebros de abelhas africanizadas, podem contribuir ainda mais para o ‘comportamento raivoso’. A descoberta foi feita após o congelamento de alguns insetos em nitrogênio líquido, seguido de dissecação.
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Usando uma técnica conhecida como imageamento espectral, a equipe detectou diferenças entre os comprimentos de dois grupos de neuropeptídios em abelhas ‘agressivas’ e ‘dóceis’.
A proteína alatostatina A está envolvida no aprendizado e na memória das abelhas, enquanto os peptídeos relacionados à taquicinina estão ligados ao processamento dos estímulos sensoriais.
Os cientistas descobriram ainda que esses neuropeptídios são menores em abelhas africanizadas e se alojam em áreas diferentes de seu cérebro. O que tem grande influência na “raiva” contida nesses insetos.
Para comprovar a teoria, os pesquisadores injetaram proteínas Allatostatins A aparadas e peptídeos relacionados à taquicinina nas abelhas africanizadas, descobrindo que tais macromoléculas são a fonte do comportamento de confrontação.
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O grupo de estudiosos afirmou que não foi possível descobrir como essas substâncias se desenvolvem nas “ abelhas assassinas ”, e que por isso, vão continuar com as pesquisas e os experimentos em diferentes grupos.
ERRATA: Anteriormente, o iG publicou que o artigo foi produzido por estudiosos da USP, e não da Unesp. A informação foi corrigida no dia 12 de junho.