Registro do céu do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, recentemente laureado no Premio Fotografia Ciência & Arte 2025
Daniel R. C. Mello (OV/UFRJ)/Reprodução
Registro do céu do Parque Nacional da Serra da Canastra, Minas Gerais, recentemente laureado no Premio Fotografia Ciência & Arte 2025

O podcast iG Foi Pro Espaço recebeu o astrônomo Daniel Mello, da UFRJ, e o economista Denis Hyde, do Instituto Entre Parques, para apresentar o IASTRO, índice inédito que avaliou 75 parques nacionais brasileiros e identificou o potencial do país no astroturismo, atividade que une turismo e observação astronômica.


Denis Hyde contou que a ideia do IASTRO surgiu após uma expedição de três anos e meio, realizada com sua esposa Letícia, em que visitaram todos os parques nacionais do Brasil. O casal viajou em um trailer, vivendo dentro das áreas de conservação e registrando as condições noturnas.

" A gente começou a olhar para o céu. É uma coisa que a gente não fazia ", contou o economista. No início, só queriam entender melhor o céu, observar a lua, as estrelas. Mas logo perceberam que havia um enorme potencial para turismo noturno nesses lugares, relatou Hyde.

A pesquisa evoluiu para a criação de um índice com critérios como qualidade do céu, climatologia e infraestrutura turística. Segundo Hyde, o Brasil tem condições semelhantes ou até superiores às do Chile, conhecido mundialmente por atrair visitantes interessados em observar estrelas.

O astrônomo Daniel Mello destacou que a diversidade natural brasileira torna a experiência única.

A gente ainda vê muitas pessoas indo para o Atacama para ter essa experiência por não saber que no nosso país tem locais tão incríveis quanto. Na verdade, eu posso dizer lugares ainda mais incríveis do ponto de vista de conexão entre o céu estrelado e as paisagens ”, afirmou, indicando biomas como  Cerrado, Mata Atlântica, Amazônia e Caatinga .

Mello explicou que, por estar em posição equatorial, o Brasil oferece uma visão privilegiada das variações do céu ao longo do ano, permitindo observar diferentes constelações em distintas épocas.

Caatinga é destaque

Entre os biomas analisados, a Caatinga foi apontada como um dos mais promissores para o astroturismo. Cinco dos oito parques classificados com “ qualidade excelente ” estão nesse ecossistema.

Hyde ressaltou que “a  Caatinga é exclusivamente brasileira, não existe em outro lugar do mundo" e ainda aformou que por ser seca e ter pouca poluição luminosa, o bioma permite uma observação do céu noturno de altíssima qualidade.

Os especialistas também destacaram o valor educativo do astroturismo. Para Mello, a atividade aproxima o público da ciência e descentraliza a divulgação científica.

O astroturismo alia duas coisas extremamente importantes nesse sentido, a conexão com a natureza e obviamente a paixão do ser humano pela astronomia" , disse o astrônomo.


Desafios e políticas públicas

Apesar do potencial, Hyde apontou que os investimentos no setor ainda são pequenos. Ele citou avanços como a criação da primeira lei de proteção a céus escuros do Brasil, em Matureia (PB), mas defendeu maior articulação nacional.

Hoje, cerca de 70 a 75% da população brasileira nunca vai ver a Via Láctea a olho nu nas suas vidas ”, afirmou o astrônomo, ainda evidenciando a necessidade de políticas públicas para proteger os céus escuros e incentivar o turismo astronômico.

A entrevista ocorreu no 11º episódio do programa, transmitido nesta quarta-feira (16), às 18h, no canal do YouTube do Portal iG .

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