80% das árvores exclusivas da Mata Atlântica correm risco de extinção

Pesquisa revela que 82% das quase 2500 espécies exclusivas desse bioma enfrentam ameaças de extinção; entenda

Foto: Agência Brasil
Mais de 80% das espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica correm risco de extinção

Um estudo realizado pela  Universidade de São Paulo (USP) e colaboradores, publicado na quinta-feira (11) na revista científica "Science", elaborou uma Lista Vermelha específica para as espécies de árvores da  Mata Atlântica com risco de extinção. Os resultados revelaram que 82% das quase 2500 espécies exclusivas desse bioma enfrentam ameaças de extinção.

A lista engloba quase 5000 espécies de árvores presentes na Mata Atlântica, sendo compilada a partir de três milhões de registros provenientes de herbários, inventários florestais e informações sobre a biologia e ecologia das espécies. Muitas árvores emblemáticas desse bioma, como o pau-brasil, a araucária, o palmito-juçara, o jequitibá-rosa, o jacarandá-da-Bahia, o angico e a peroba, foram categorizadas como ameaçadas de extinção.

A pesquisa também identificou 13 espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica, conhecidas como espécies endêmicas, que são potencialmente consideradas extintas.

Os pesquisadores também realizaram projeções sobre o impacto da perda de florestas em escala global, abrangendo áreas florestais tropicais. Hans ter Steege, co-autor do estudo e pesquisador do Naturalis Biodiversity Center, na Holanda, comenta: "As projeções indicam que entre 35% e 50% das espécies de árvores do planeta podem estar ameaçadas exclusivamente devido ao desmatamento."

Renato Lima, professor da  USP e autor do artigo, destaca que a situação geral é alarmante, visto que a maioria das espécies de árvores da Mata Atlântica foi classificada em categorias de ameaça pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), devido à perda de suas florestas e árvores.

A elaboração da lista de espécies ameaçadas na Mata Atlântica foi fundamentada em diversos critérios da IUCN, incluindo alguns que consideram os impactos do desmatamento. Lima observa que, se tivessem sido utilizados menos critérios da IUCN nas avaliações de risco de extinção das espécies, prática comum até então, o número de espécies ameaçadas detectadas teria sido seis vezes menor.

O estudo ressalta que a maioria das avaliações de risco de extinção disponíveis na IUCN se concentra apenas na distribuição geográfica das espécies, enquanto o declínio no número de árvores adultas devido ao desmatamento é identificado como a principal causa de ameaça. O pesquisador conclui que a incorporação desses critérios relacionados ao desmatamento amplia significativamente a compreensão sobre o grau de ameaça das espécies da Mata Atlântica, que se revela mais elevado do que se pensava anteriormente.

O estudo focalizou apenas o desmatamento, excluindo considerações sobre ameaças futuras, como mudanças climáticas, que podem aumentar os riscos de extinção de espécies. Para preservar as espécies, os pesquisadores sugerem opções como conservação em jardins botânicos e bancos de material genético, junto com a implementação dos Planos de Ação Nacionais (PANs), ferramentas para promover políticas públicas direcionadas à conservação e recuperação de espécies ameaçadas no Brasil, especialmente aquelas à beira do desaparecimento.

Outra saída para reverter as perdas de espécies de árvores na Mata Atlântica é a restauração florestal, explica André de Gasper, professor da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e coautor do estudo. “Projetos de restauração, em áreas abertas ou em fragmentos degradados, podem selecionar preferencialmente as espécies regionais mais ameaçadas da Mata Atlântica, visando estimular a produção de sementes e mudas destas espécies e a recuperação das suas populações de árvores na natureza”, defende o pesquisador.

Queda do desmatamento
O desmatamento na Mata Atlântica registrou uma redução de 59% de janeiro a agosto deste ano em comparação com o mesmo período de 2022, conforme aponta o mais recente boletim do Sistema de Alertas de Desmatamento, divulgado em novembro. Esta iniciativa é fruto da parceria entre a Fundação SOS Mata Atlântica , a Arcplan e o MapBiomas.

Os dados indicam que a área desmatada entre janeiro e agosto totalizou 9.216 hectares, representando uma significativa redução em comparação aos 22.240 hectares registrados no mesmo período do ano anterior. Segundo a SOS Mata Atlântica, essas informações corroboram a tendência de uma redução expressiva no desflorestamento do bioma, já observada desde o início do ano.

O boletim anterior, divulgado em julho de 2023, já apontava uma redução de 42% até o mês de maio, quando a área desmatada alcançava 7.088 hectares, em contraste com os 12.166 hectares registrados no mesmo intervalo do ano anterior.