A passagem do furacão Otis pelo México deixou a cidade de Acapulco devastada, gerando grandes enchentes e a destruição da faixada de diversas construções. O mesmo aconteceu no Brasil, mais especificamente no Rio Grande do Sul, em setembro deste ano, quando um ciclone deixou mais de 40 mortos na região . Em Santa Catarina, também em setembro, um tornado atingiu a região rural de Santa Cecília com ventos de 100 km/h.
Em todos os casos citados, as regiões foram tomadas por ventos fortes, somados a grandes tempestades, e deixando um rastro de destruição. Mas com tantas semelhanças, por que temos quatro classificações de fenômenos naturais? Quais são as diferenças entre eles?
O Professor Titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, Pedro Leite da Silva Dias, explica que “Todos esses fenômenos atmosféricos têm em comum o fato de se formarem em regiões de pressão atmosférica baixa com relação às vizinhanças.”
“O vento gira no mesmo sentido (horário no Hemisfério Sul e antihorário no Hemisfério Norte). Raramente aparecem tornados que não seguem a regra do sentido da rotação. O que os diferencia é a escala espacial e temporal”, completa o professor.
Ciclone
Trata-se de uma tempestade tropical formada em centros de baixa pressão. As áreas onde se formam os ciclones estão associadas à formação de nuvens, umidade e tempestades. É um nome genérico usado pelos meteorologistas para designar um sistema rotativo e organizado de nuvens e tempestades.
Comumente formada nos oceanos tropicais, onde as águas possuem uma temperatura mais elevada — acimas dos 26ºC —, por conta do aquecimento do ar na região próxima à superfície marinha.
Com os ciclones, há a geração de fortes ventos em movimentação rápida. Desta maneira, o ar é levado ao centro do ciclone, onde se torna quente e úmido. Neste momento, ele sobe ao topo do fenômeno, enquanto é resfriado, fazendo com que ele volte a descer. Este ciclo se estende durante toda a duração do ciclone.
Há três tipos de ciclone que são mais comuns de ocorrerem: os tropicais, os extratropicais e os subtropicais.
Os ciclones tropicais possuem um sistema de baixa pressão de núcleo quente. Eles surgem em águas tropicais, e possuem uma circulação mais organizada dentro do próprio centro. Sua intensidade pode variar, causando algumas classificações, como: distúrbio tropical, depressão tropical, tempestade tropical ou, o mais conhecido, furacão.
Já os extratropicais são os que possuí uma origem que não seja tropical. Costuma estar associado às frentes frias, surgindo geralmente nas médias e altas latitudes.
Os subtropicais fazem uma mescla no que é visto nos dois anteriores. Ele surge a partir de um ciclone extratropical que começa a se desenvolver no oceano, e se choca com uma superfície marinha mais aquecida.
O professor levanta o ponto que os ciclones costumam ter uma escala de centenas de quilômetros, durando vários dias, diferente de outros fenômenos que duram cerca de horas.
Tufão
Os tufões também são tempestades tropicais que tem como origem um ciclone. A sua denominação, entretanto, muda pela região em que surgem. Os tufões atingem as regiões do Oceano Pacífico, no Japão, sul da Ásia e na parte leste do Oceano Índico.
Para o ciclone se tornar um tufão, é necessário atingir uma velocidade superior a 150km/h. Neste caso, ele serpa considera como um tufão forte. Entretanto, seus ventos podem passar de 195km/h, considerado um tufão violento.
Tornado
A classificação dada para os tornados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é que são redemoinhos de ventos, com uma velocidade alta, que surgem em ambientes de tempestades muito fortes. Esse fenômeno nasce de nuvens de tempestades, atingindo o chão, e causando grande devastação por onde passa.
Seu tamanho é de centenas de metros, e possui uma ‘vida’ curta, durando poucos minutos e percorrendo entre 500 e 1,5 mil metros. Seus ventos passam de 200 km/h. “Tornados apresentam dimensão da ordem de poucas centenas de metros e duram minutos até cerca de 1 hora”, explica Dias. Eles costumam ter um diâmetro entre 100 a 600 metros, e podem chegar a 1600 metros de largura.
Em sua grande maioria, os tornados giram de maneira ciclônico ao ser observado de cima. Entretanto, alguns especialistas já visualizaram fenômenos girando no sentido anticíclico.
Diferentemente dos ciclones, os tornados são visíveis a olho nu. Isso se dá pela poeira e sujeira levantada do solo e pelo vapor. Além disso, costumam apresentar um barulho distinto que pode ser ouvido a muitos quilômetros de distância, tornando-se mais alto quando o tornado toca ao chão.
Furacão
Por fim, temos os furacões. Eles surgem quando “a pressão atmosférica no centro da tempestade tropical abaixa muito” fazendo com que “os ventos sejam intensificados, e a tempestade tropical se torna em um furacão, se ocorrer no Oceano Atlântico ou no leste do Oceano Pacífico”.
Os furacões possuem, normalmente, uma região central sem a presença de nuvens e com ventos calmos — o olho do furacão. A região é marcada por movimentos de ar descendentes, ao lado de uma grande área circular com movimento ascendente do ar, o que culmina na provocação de chuvas fortes.
“As tempestades tropicais são formadas em regiões de água quente, com bastante umidade, ventos com pouca variação entre a superfície e 5 a 10 km de altura. A energia que produz a intensificação das tempestades tropicais vem da energia liberada no processo de mudança de fase da água do estado de vapor para a água líquida (que ocorre na formação nas nuvens). Essa energia aquece a atmosfera, abaixa a pressão próximo da superfície e sustenta a intensificação dos ventos, eventualmente levando à transformação da tempestade tropical em um furacão. Esses sistemas intensos morrem quando a água superficial do mar esfria ou quando o furacão se desloca sobre o continente e perde a fonte de água produzida pela evaporação superficial”, explica o professor sobre como ocorre essa transformação de uma tempestade em um furacão.
El Niño e o aquecimento global na formação de tais fenômenos
O El Niño é a “denominação para um fenômeno que ocorre tipicamente no Oceano Pacífico equatorial, caracterizado por temperaturas superficiais mais quentes”, explica o professor.
“Essas anomalias na temperatura superficial ocorrem em escalas espaciais da ordem de alguns milhares de quilômetros. Ou seja, são perturbações muito maiores do que a escala dos furacões ou tempestades tropicais. É a água anomalamente quente durante a fase El Niño que sustenta a formação de tempestades tropicais.”
Ele costuma ocorrer em uma escala de 3 a 7 anos, durando raramente mais do que dois anos. “Entretanto, anomalias climáticas potencialmente severas, dependendo da intensidade do aquecimento. Mudanças de temperatura superficial do mar acima de 1ºC já caracterizam o fenômeno. Nos casos mais intensos a anomalia pode chegar 2-3ºC”, alerta Dias.
Nesse momento, o mundo passa pelo El Niño, que se iniciou neste ano.
Outra questão importante a se ressaltar são os impactos do aquecimento global na formação e frequência de tempestades tropicais.
“Uma propriedade importante do ar é que a quantidade de umidade na forma de vapor é dependente da temperatura do ar. Ou seja, quanto mais quente, muito mais umidade é retida no ar. Portanto, com o aquecimento aumenta o potencial para formação de nuvens que podem produzir mais chuva”, explica o professor.
“O aquecimento global, além dos impactos diretos da maior temperatura, leva a intensificação de tempestades e/ou aumento da quantidade de ciclones intensos em algumas regiões. E aumento da frequência/intensidade de períodos secos”, completa Dias.