![Planta de maconha feroz no meio de uma pastagem na província de Qinghai, centro da China Planta de maconha feroz no meio de uma pastagem na província de Qinghai, centro da China](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/0e/1w/04/0e1w04969jm0b09y825ieawee.jpg)
Uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira na revista Science Advances sugere que as primeiras raízes da Cannabis sativa surgiram no noroeste da China, no início do período neolítico (entre 7.000 e 2.500 A.C.). Pesquisadores da Universidade de Lausanne, na Suíça, responsáveis pelo estudo, afirmam que a descoberta pode oferecer novas aplicações da planta tanto na medicina quanto na agricultura.
A Cannabis sativa é uma planta herbácea da família das canabiáceas utilizada nas versões maconha e cânhamo. Apesar de ser fonte de fibras e de drogas medicinais e recreativas, a história da domesticação da planta não é bem compreendida, devido às restrições legais de uso, destaca a pesquisa.
De acordo com Luca Fumagalli, especialista italiano em genética populacional e biologia evolutiva que participou diretamente do estudo, a descoberta da origem da Cannabis foi possível graças ao sequenciamento de 110 genomas inteiros, que podem ser categorizados em quatro grupos genéticos. Em conjunto, eles cobrem todo o espectro de plantas selvagens de cultivo, linhagens terrestres, cultivares históricos e híbridos modernos do cânhamo e da maconha.
— Sabendo quais genes foram selecionados especificamente durante o processo de domesticação, é possível desenvolver variedades com propriedades específicas para humanos e para a agricultura — explica Fumagalli.
Os cultivares são espécies de plantas que foram melhoradas devido à alteração ou introdução pelo homem de uma característica que antes não possuíam.
Apesar de não ter substâncias psicoativas e, portanto, não ser considerado uma droga, o cultivo de cânhamo é controlado por lei, e sua legalização varia de país para país. Atualmente, Estados Unidos e China estão entre os maiores produtores da planta. Quando legalizada, ela pode ser usada na produção de fibras, grãos ou produtos medicinais.
Já a maconha é utilizada principalmente para fins medicinais e de recreação. Uruguai, Canadá e México são exemplos de países que aprovaram o uso da erva. No Brasil, o uso de produtos oriundos da Cannabis é proibido.
— O cânhamo é uma variedade de Cannabis que apresenta teores de tetra-hidrocanabinol abaixo de 0,3%. Já a maconha pode ser definida como a espécie que apresenta níveis bastante elevados de substância psicoativa — explica Renato Filev, neurocientista da Universidade Federal de São Paulo (USP) e especialista em Cannabis , que não participou da pesquisa.
Cannabis há doze mil anos
Os pesquisadores reconheceram relações genéticas entre 104 agrupamentos de Cannabis , dos 110 investigados. Os resultados dão apoio a um cenário evolutivo que demonstra a variabilidade na composição dos canabinóides entre as plantas, através das perdas de funções medicinais e agrícolas por conta da seleção artificial pelos primeiros agricultores. A partir disso, os pesquisadores categorizam a Cannabis sativa em quatro grupos distintos.
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O primeiro deles é a Cannabis basal , que é a planta ancestral da Cannabis sativa, encontrada na China. De acordo com o estudo, a primeira datação da espécie é de 12 mil anos atrás e, a partir dela, foi que surgiram as variedades de substâncias como o cânhamo, as chamadas drogas domesticadas e a maconha. No entanto, por ter sido submetida a menos seleções artificiais ao longo da história, é possível que o tipo Basal já esteja extinto.
O seu descendente mais semelhante é a droga domesticada — com "crescimento espontâneo" —, encontradas no sul da China, Índia e Paquistão. Ela é uma planta para uso medicinal que, por não ter sofrido grandes modificações na agricultura, produz tetra-hidrocanabinol (TCH) inferior à maconha comercial.
Outras duas ramificações são os cânhamos, cultivados para a produção de fibras e já distribuídos em todo o mundo, e a maconha, que é usada na produção de THC elevado e já possui distribuição mais abrangente pelo mundo.
— A pesquisa mostra que a Cannabis basal é uma raiz comum que se perdeu ao longo do tempo e não existe mais. Hoje temos como variedades a maconha, cânhamo e as drogas ambientadas, que foram domesticadas em alguns países da Ásia. O que mais diferencia a droga domesticada do cânhamo e da maconha é que ela não sofreu uma seleção genética apropriada para a produção de uma matéria-prima específica, seja fibra, semente, resinas — explica Filev.
Os estudiosos da Universidade de Lausanne identificaram genes do cânhamo que podem ter sido modificados durante o cultivo, incluindo os relacionados com a formação de ramos, o tempo de floração e a biossíntese de lignina (molécula associada à celulose).
Na maconha, foi encontrado um gene envolvido na biossíntese de canabinóides e associado à grande capacidade de mutação genética. Tais características tornam as duas variedades mais modernas e com potencial para ganharem novas formas de uso.
— como a diversidade genética se distribui dentro das espécies, é possível desenvolver programas de melhoramento com populações específicas para o aprimoramento do uso de cada uma — conclui Fumagalli.