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Luz branca intensa é uma das características comuns em episódios de experiências de quase morte
Divulgação/Jesse Krauß/Wikimedia
Luz branca intensa é uma das características comuns em episódios de experiências de quase morte

É uma ocorrência mundial: pessoas de todas as idades, das mais diversas latitudes, têm relatado, em momentos em que suas vidas estavam em perigo real, ver uma luz branca intensa, sentir muita tranquilidade e, de alguma forma, pairar acima de seu corpo. Para os neurologistas, essas chamadas experiências de quase morte (EQM, ou, em inglês, NDE, abreviatura de near death experience ) têm uma base neural, que pode, de acordo com recentes pesquisas, ser semelhante ao que acontece no cérebro durante certos distúrbios do sono.

A novidade mais fresca nessa área vem do neurologista Daniel Kondziella, da Universidade de Copenhague (Dinamarca), que no último sábado (29) apresentou seus estudos em uma reunião do Congresso da Academia Europeia de Neurologia, em Oslo (Noruega) segundo o site NBC News . Segundo ele, cerca de 10% das pessoas que participaram de sua pesquisa declararam ter vivido experiências de quase morte .

As descobertas dele e de sua equipe, ainda não publicadas em um periódico revisado por especialistas, sugerem que características típicas de tais episódios, como a luz branca brilhante e uma sensação de tranquilidade, são provavelmente o resultado da atividade neural no cérebro , semelhante ao que se observa durante um fenômeno chamado paralisia do sono.

“Acho que essas experiências podem ser desencadeadas em situações de morte iminente”, disse Kondziella à NBC News . “Mas, ao perceberem essas experiências, as redes cerebrais estão trabalhando para armazená-las, para serem ressuscitadas, para que se recuperem essas memórias e para nos falar sobre elas.”

“Acho que, antes de desmaiarem, (essas pessoas) têm a experiência de quase morte. Quando são ressuscitadas, a última coisa que lembram é essa experiência”, disse ele.

Definição ampla

O estudo de Kondziella foi baseado em questionários enviados anonimamente para 1.034 pessoas online. Os questionários começavam com uma única pergunta: você já teve uma experiência de quase morte?

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A definição de tal experiência foi ampla: “Qualquer experiência perceptiva consciente, incluindo experiências emocionais, autorrelacionadas, espirituais e/ou místicas, ocorrendo em uma pessoa próxima à morte ou em situações de intenso perigo físico ou emocional”. Como as respostas vieram de indivíduos anônimos, foi impossível para os pesquisadores confirmar qualquer uma das respostas.

Ressalvas à parte, os pesquisadores descobriram que 106 pessoas , ou cerca de 10% dos entrevistados, relataram o que era considerado uma “verdadeira” experiência de quase morte. Desse total, 53% descreveram a experiência como prazerosa, e 14% como desagradável.

Essas pessoas se mostraram também mais propensas a ter um histórico de distúrbios do sono extremos e vívidos, referido como intrusão do sono REM (REM é a abreviatura em inglês de movimento rápido dos olhos, etapa do sono em que ocorrem os sonhos). Essa descoberta, segundo pesquisadores, impulsionou a teoria de que tais experiências têm uma base neurológica. Durante o sono REM, quando uma pessoa está sonhando, a maioria dos músculos do corpo fica paralisada para que a ação desenrolada nos sonhos não se manifeste no nível físico.

Visões estranhas

A paralisia do sono foi descrita por alguns dos entrevistados no estudo de Kondziella e sua equipe. “Às vezes acordo à noite e não consigo me mexer”, escreveu um participante. “Vejo coisas estranhas, como espíritos ou demônios na minha porta, e depois de um tempo os vejo chegando ao meu lado. Eu não posso me mover ou falar, e eles se sentam no meu peito. Isso é assustador!”

Uma revisão de 2011 estimou que quase 8% da população mundial teve pelo menos um episódio de paralisia do sono durante a vida, e nem todas as experiências são tão vivas ou assustadoras.

Kondziella sugere que os mecanismos cerebrais responsáveis ​​por esses distúrbios do sono também permitem que as pessoas visualizem experiências quando suas vidas estão verdadeiramente em perigo, uma hipótese reforçada pela descoberta do estudo de que há sobreposição entre aqueles que relatam ambos os fenômenos.

O neurologista defende o que as pessoas vivenciam como episódios de quase morte , frequentemente relatados como sendo de mudança de vida e espiritualmente significativos. “Como cientista, acho que há uma explicação biológica”, disse ele. “Mas se há um significado mais profundo para elas, isso é uma questão para filósofos e líderes religiosos.”

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