A polícia de São Paulo está à procura de dois ex-guardas-civis metropolitano s suspeitos de integrarem uma milícia armada que extorquia dinheiro de comerciantes em troca de segurança na Cracolândia, região central da cidade conhecida pelo tráfico de drogas. Os procurados são Rubens Alexandre Bezerra e Elisson de Assis, que são investigados por suas ligações com uma milícia formada por membros da Guarda Civil Metropolitana (GCM), Polícia Militar (PM) e Polícia Civil. Ambos são considerados foragidos da Justiça, que decretou suas prisões preventivas.
Rubens e Elisson foram expulsos da GCM, respectivamente, em 2019 e janeiro deste ano. Os motivos dos desligamentos não foram revelados pelas autoridades, e até a última atualização desta reportagem, os dois não haviam sido localizados e presos.
Nesta terça-feira (6), dois agentes da ativa da Guarda Civil Metropolitana foram detidos durante a Operação Salus et Dignitas: Antonio Carlos Amorim Oliveira e Renata Oliva de Freitas Scorsafava. O Ministério Público (MP) revelou que os quatro investigados participaram de uma milícia que movimentou pelo menos R$ 3 milhões em extorsão de comerciantes na Cracolândia.
A operação também visou traficantes de drogas na região. Leonardo Moja, conhecido como "Léo do Moinho", e Janaína da Conceição Cerqueira Xavier foram presos por suspeitas de venda de armas para a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Valdecy Messias de Souza, funcionário de uma empresa de comunicação, foi detido por suspeita de vender dispositivos que davam acesso às frequências de rádio das polícias.
Além das prisões, cinco pessoas foram detidas na Cracolândia por suspeita de outros crimes, e mandados de busca e apreensão foram cumpridos em imóveis da região, resultando na coleta de objetos e equipamentos eletrônicos.
O esquema
A investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da polícia identificou cinco grupos principais operando na Cracolândia:
- Ferros-velhos: Empresários suspeitos de explorar mão de obra de dependentes químicos, que furtavam fios de energia para trocar cobre por drogas. Crianças e adolescentes foram encontrados envolvidos nesse comércio.
- Milícia de GCMs: Ex-guardas-civis, policiais militares e civis envolvidos em uma milícia que extorquia comerciantes em troca de proteção. O grupo arrecadou cerca de R$ 6 milhões em propina em quase um ano.
- Receptação de celulares: Comerciantes libaneses suspeitos de receptar e revender celulares roubados e furtados, obtidos por grupos criminosos como as 'gangues da bicicleta'.
- Hotéis e hospedarias: Rede de locais mantida pelo PCC para armazenar drogas e realizar "tribunais do crime". Esses locais também envolvem exploração sexual, com denúncias de menores sendo explorados. Alguns imóveis eram conhecidos por armazenar celulares roubados.
- Favela do Moinho: Base do PCC usada para coordenar o tráfico de drogas e armazenar armas e drogas. Criminosos utilizavam detectores de radiofrequência para monitorar as operações da PM e realizar "tribunais do crime" para punir membros e moradores.
A operação continua com a expectativa de desmantelar as redes criminosas na Cracolândia e desarticular o esquema de extorsão e tráfico que afeta a região.
O que dizem governador e prefeito
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, expressou em uma postagem nas redes sociais que a operação em andamento tem o objetivo de "devolver o centro às pessoas", destacando que acompanhou a ação de dentro de um helicóptero da PM. No entanto, ele não se pronunciou sobre o envolvimento de servidores públicos que atuam como milicianos e estão sendo alvo principal da operação.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, também se manifestou sobre a operação durante uma coletiva de imprensa. Ele afirmou que a Prefeitura não tem conhecimento de milícias na cidade e que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) mantém um regime rigoroso.
"A Prefeitura desconhece milícia na cidade de São Paulo e tem regime rígido com a GCM. Temos 7.500 homens e mulheres para defender o cidadão da cidade. Nós temos dois GCMs [presos na operação] que foram expulsos da Guarda Civil, um deles, a Prefeitura pediu a prisão ao MP, tal o rigo da cooperação. Não vai ser, um dois, quatro, cinco que vão manchar 7.500 GCMs", afirmou.