Natalia Becker falou com os jornalistas
Reprodução/TV Globo
Natalia Becker falou com os jornalistas

O delegado responsável pela investigação da morte de um paciente após um peeling de fenol em São Paulo anunciou que solicitará à Polícia Civil do Paraná para apurar se a farmacêutica Daniele Stuart, que vendeu um curso online desse procedimento para Natalia Becker, cometeu exercício ilegal da medicina.

Eduardo Luis Ferreira, delegado titular do 27º Distrito Policial (DP), Campo Belo, destacou que o Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que apenas médicos dermatologistas estão autorizados a realizar peeling de fenol, considerado um procedimento invasivo.

"A gente vai extrair cópia do inquérito policial e enviar para a polícia do Paraná investigar a suspeita de que Daniele possa ter cometido exercício ilegal da medicina ao ensinar como fazer peeling de fenol. Esse curso online ultrapassa a questão do ato médico. Está bem definido que esse tipo de procedimento é um ato médico", afirmou o delegado ao g1.

Apesar de se apresentar como esteticista nas redes sociais, Natalia não possui registro na Associação Nacional dos Esteticistas e Cosmetólogos (Anesco) para exercer a profissão.

Natalia é influencer e proprietária da clínica onde o empresário Henrique Chagas, que morreu em 3 de junho pouco depois do procedimento, foi submetido ao peeling de fenol. Ela foi indiciada por homicídio com dolo eventual e aguarda o julgamento em liberdade.

O Studio Natalia Becker foi fechado pela prefeitura após a morte do paciente devido a suspeitas de irregularidades.

A Polícia Civil de São Paulo ainda aguarda o resultado do laudo que determinará a causa da morte de Henrique. No entanto, a principal suspeita é de que ele tenha falecido devido ao fenol. Peritos acreditam que Henrique inalou o produto, sofreu asfixia e teve uma parada cardiorrespiratória. Em uma entrevista exibida recentemente pelo Fantástico, Natalia descreveu a morte de Henrique como "uma fatalidade".

Durante o interrogatório à polícia paulista, Natalia revelou que aprendeu a aplicar o fenol após comprar um curso virtual de Daniele Stuart, farmacêutica que atua em Curitiba, no Paraná, por cerca de R$ 500 no ano passado.

Daniele é proprietária da Clínica Neo Stuart e, em suas redes sociais, se apresenta como formada em biomedicina e doutora. No entanto, apenas quem possui formação em medicina é considerado médico.

Além de solicitar que a polícia em Curitiba investigue Daniele, o delegado também está tentando ouvi-la no inquérito da delegacia de São Paulo, que está investigando as causas e possíveis responsabilidades pela morte de Henrique. Ainda não foi decidido se a farmacêutica será ouvida na capital paulista ou no Paraná.

"Não temos essa informação. A polícia ainda não nos procurou", falou o advogado Jeffrey Chiquini, que defende os interesses de Daniele.

"Tentar envolver a doutora Daniele nesse caso e relacioná-la à morte da vítima é de todo injusto e irresponsável e precipitado. Doutora Daniele é uma profissional respeitada, especialista na área, gabaritada. Que forneceu um curso de acesso livre conceitual, que já foi acessado por mais de 3 mil alunos, sem haver qualquer reclamação", afirmou o advogado.

E completou: "Acontece que a doutora Daniele não tem controle de quem acessa esse curso online. Mas afirmamos que em momento algum a doutora Daniele teve contato com essa pessoa que é acusada de autoria de homicídio. A doutora Daniele em momento algum ensinou essa senhora a realizar procedimentos invasivos. Não a instruiu a agir como fez. Inclusive os procedimentos que aquela senhora adotou não condizem com aquilo que a doutora Daniele ensina".

Segundo a defesa, sua cliente "não teve contato com a vítima". "E aquela que aplicou de forma errada tecnicamente o procedimento não era habilitada para tal", falou Jeffrey sobre Natalia. "A doutora Daniele é habilitada para atuar nessa área, habilitada para ensinar. Mas aquilo que a doutora Daniele ensina não foi aplicado como deveria."

Investigações até o momento

Cerca de dez pessoas já foram ouvidas pelo 27º DP no inquérito que apura o caso do paciente morto após o peeling de fenol. Henrique, de 27 anos, era dono de um pet shop em Pirassununga, interior de São Paulo, onde foi enterrado. Ele namorava Marcelo Camargo, de 49 anos, há três anos. Marcelo, que reside em Campinas, acompanhou Henrique ao procedimento na clínica em São Paulo e registrou com o celular o momento do preparo para a aplicação do fenol. O vídeo mostra o rosto do paciente cortado e sangrando após uma funcionária utilizar uma caneta com agulha na ponta.

Além dos vídeos feitos por Marcelo, o Fantástico obteve acesso às filmagens das câmeras de segurança do Studio Natalia Becker, onde é possível observar o momento em que Henrique passa mal.

Henrique pagou R$ 5 mil pelo tratamento, buscando resolver marcas de acne adquiridas na adolescência. Advogados que representam Marcelo e a mãe de Henrique afirmam que o procedimento de cortar o rosto para aplicar o produto não é adotado pelos especialistas consultados. Segundo eles, o corte prévio não seria adequado para a aplicação de um ácido tão forte como o fenol.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) não pôde avaliar o procedimento realizado na clínica de Natalia com base apenas nos vídeos e fotos divulgados pela reportagem.

Os advogados suspeitam que Henrique tenha sido asfixiado de forma tóxica pelo uso do fenol, indicando que o produto pode ter corrido pela via respiratória durante a aplicação. Eles planejam entrar com uma ação contra Natalia, buscando indenização por dano moral, alegando que ela assumiu o risco do procedimento.

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