Transplantados com HIV: laboratório responsável tem sócio ligado a ex-secretário de Saúde

Laboratório PCS-Saleme foi interditado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta quinta-feira (10)

A Secretaria Estadual de Saúde do RJ vai retestar o material armazenado de 286 doadores
Foto: Reprodução
A Secretaria Estadual de Saúde do RJ vai retestar o material armazenado de 286 doadores

O laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), responsável pelos exames sorológicos em  doadores de órgãos contaminados com HIV, foi interditado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nesta quinta-feira (10), de acordo com informações da Prefeitura de Nova Iguaçu.

Segundo informações do g1, o local tem como um de seus sócios Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Doutor Luizinho. 

Embora tenha deixado a secretaria, fontes do governo afirmam que o ex-secretário ainda mantinha influência sobre a pasta. Além disso, sua irmã trabalha na Fundação Saúde, entidade que assinou o contrato com o PCS-Saleme. Em campanhas anteriores, Matheus chegou a apoiar o primo, Doutor Luizinho, nas redes sociais.

Atualmente deputado federal e líder do PP na Câmara, Doutor Luizinho ocupava o cargo de Secretário da Saúde durante o processo de contratação do laboratório.


Em nota, Luizinho se manifestou sobre o caso:


"Conheço o Laboratório Saleme há mais de 30 anos, dirigido pelo Dr. Montano e, posteriormente, pelo seu filho, Dr. Valter Vieira, casado com minha tia Ana Paula. Lamento veementemente o ocorrido, desejando, ao fim das investigações, punição exemplar para os responsáveis por esses gravíssimos casos de contaminação."

Ele também ressaltou que, durante seu mandato, não teve envolvimento com a contratação do laboratório:  

"Enquanto Secretário de Estado de Saúde, mantive a mesma equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e jamais participei da contratação deste ou de qualquer outro laboratório."

Descoberta "sem precedentes"


A PCS-Saleme foi interditada após um escândalo de seis pessoas que estavam na fila de transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) receberem órgãos contaminados com HIV. 

O caso, inédito na história no serviço de transplantes do Brasil, foi divulgado pela BandNews FM nesta sexta-feira (11) e confirmado pela SES-RJ, que classificou o caso com "inadmissível".

“Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”, declarou a SES-RJ.

O Portal iG está no BlueSky,  siga para acompanhar as notícias !


O PCS Lab Saleme, localizado na Travessa Quaresma, nas proximidades do Calçadão de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, é conhecido por realizar exames há mais de 50 anos.

A Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu (Semus) informou que o contrato com o laboratório havia sido encerrado em fevereiro deste ano e transferido para organizações sociais (OS) responsáveis pela rede de atenção básica do município. No entanto, com a notificação da Anvisa sobre a interdição, o contrato entre a OS e o PCS foi encerrado imediatamente.

O caso está sendo investigado pela Coordenadoria Estadual de Transplantes, pela Vigilância Sanitária Estadual e pela Delegacia do Consumidor (Decon) da Polícia Civil. A Anvisa também identificou que o laboratório não possuía kits para exames de sangue nem comprovantes de compra desses materiais, levantando suspeitas de que os testes não foram realizados corretamente e que os resultados podem ter sido forjados.

Segundo o governo do estado, o erro partiu do PCS Lab Saleme, contratado emergencialmente em dezembro do ano passado, por R$ 11 milhões, para realizar os exames de sorologia dos órgãos doados. Após a denúncia, a Coordenadoria Estadual de Transplantes e a Vigilância Sanitária Estadual interditaram o laboratório, e o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) também abriu uma sindicância.

A descoberta do incidente ocorreu no dia 10 de setembro, quando um paciente, que havia recebido um coração, apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Até o transplante, ele não era portador do vírus.

Após a confirmação, a SES-RJ realizou uma revisão completa do processo e identificou outros erros nos exames realizados pelo PCS. Outros pacientes que receberam órgãos — como rins, fígado e córnea — também foram afetados. Dos seis receptores, cinco testaram positivo para HIV. 

A única exceção foi a pessoa que recebeu uma córnea, que, por ser menos vascularizada, não contraiu o vírus.

Medidas adotadas


Diante da gravidade do caso, a Secretaria Estadual de Saúde transferiu todos os exames de sorologia para o Hemorio, uma unidade de saúde estadual, que agora será responsável por testar o material de todos os doadores. 

“A partir do dia 13 de setembro, toda a doação é passada direto das doações para o Hemorio”, disse a secretária estadual de Saúde, Cláudia Mello. O departamento vai retestar o material armazenado de 286 doadores.

Confira a nova completa da SES-RJ

“A Secretaria de Estado de Saúde (SES) considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados.
O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.
A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.
Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias.
Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas.”

Quer ficar por dentro das principais notícias do dia?  Participe do nosso canal no WhatsApp e da nossa comunidade no Facebook .