Ronnie Lessa fez delação premiada
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Ronnie Lessa fez delação premiada

No acordo de delação fechado com as autoridades do Rio de Janeiro,  Ronnie Lessa admitiu envolvimento em outros crimes além dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes. Em um dos depoimentos, o ex-policial militar confessou ter sido responsável pela morte de André Henrique da Silva Souza, conhecido como André Zóio, em 2014, na Gardênia Azul, Zona Oeste do Rio.

Segundo apurado, Zóio era rival de Cristiano Girão, ex-vereador, em uma disputa pelo controle da favela. Na ocasião, sua companheira, Juliana Sales de Oliveira, também foi morta. Girão, suspeito de liderar uma organização criminosa na área, foi alvo de operação policial relacionada ao caso.

Em um dos trechos do acordo, que foi obtido com exclusividade pelo jornal O GLOBO, Lessa relata a mudança de Zóio de Campo Grande para a Freguesia, área então dominada por milicianos. Essa mudança teria deixado os moradores "apavorados", o que teria motivado a decisão de "eliminar" Zóio, após uma discussão em um bar.

“Nesse dia, eu fui importunado pelo nacional André, falecido. Nessa época, eu tinha máquinas de música e fliperamas naquela região toda ali da Gardênia Azul, Rio das Pedras e Araticum. Esse rapaz veio de Campo Grande em uma época de guerra de milicianos e no final ficou no comando da Gardênia Azul o Zóio, um tal de Grande e um tal de Cominho. Esses três eram as lideranças conhecidas na época e ele me mandou alguns recados através de um operador."

Lessa relata que Zóio passou a lhe cobrar parte do lucro dos equipamentos eletrônicos, o que ele teria se negado a fazer.

“Nesse dia que eu estava com meu filho e ele veio me importunar, ele estava numa atitude de cobrança afrontosa, com arma na mão. Ele também viu que coloquei a mão na minha arma no restaurante. Uma coisa complicada para acontecer na frente de uma criança. Não sei se ele ia atirar em mim ou se simplesmente veio para me afrontar e mostrar que também tinha uma arma. No final, ele acabou rendido e eu cheguei a tirar a arma dele. Até mandei devolver no dia seguinte. Mas isso para ele foi uma afronta danada”, contou. 

No relato, o ex-policial detalha a preparação de fuzis e um carro Doblô branco para o ataque contra Zóio. Esse crime, juntamente com pelo menos outros dez, está incluído em uma espécie de unificação de sentenças proposta a Lessa. Pelos diversos processos aos quais ele responde, Lessa poderá cumprir uma pena entre 20 e 30 anos, sendo que 18 anos serão em regime fechado.

“Decidimos usar esse tipo de armamento porque tínhamos que ir dentro da Gardênia Azul, justamente no foco da milícia e enfrentar justamente o dono da favela. Então uma possível reação era bem provável, o que acabou nem acontecendo. Por isso nós fomos bem equipados para um cara só. Poderia ser mais de um ou até todo o grupo reunido. (…) Quando nós notamos o carro dele, ele saiu da vaga e foi logo morto, ferido e morto por mim, por disparos de AK47.”


No depoimento, Lessa nega ter sido o responsável pela morte de Juliana.
“Para supostamente conferir o que não precisava ser conferido, o Fábio (Fábio da Silveira Santana, o Fábio Caveira, também investigado pelo crime) vem pela lateral do carro, dá mais um monte de tiro no André, que já estava morto, e mata a menina. Ele voltou para o carro, nós discutimos, e dali quase teve uma tragédia dentro do carro. (…) A partir disso, nossa amizade já não era mais amizade. Isso não era o combinado. Ele não precisava ter estragado tudo. Só o André era para ter morto, essa era a finalidade. Ele tinha que ter tido critério naquele momento”, diz o ex-PM.

Interrogado pelos investigadores, Lessa nega qualquer ligação com Girão e declara que o motivo por trás do assassinato de Zóio foi pessoal. No entanto, o ex-vereador foi acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como o mandante do crime.

Em outros trechos da delação, Lessa menciona que a ordem para assassinar Marielle partiu do deputado Chiquinho Brazão e seu irmão, Domingos Brazão, que é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Ele também alega que Rivaldo Barbosa, então chefe da Polícia Civil do Rio, trabalhou para proteger os supostos mandantes.

Barbosa e os irmãos Brazão estão detidos preventivamente desde 24 de março e negam qualquer envolvimento no crime.

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