Na zona oeste do Rio de Janeiro, uma onda de violência deixou a população em pânico e em estado de alerta. Mais de 30 ônibus incendiados e a interrupção do serviço de trens foram os desdobramentos de uma escalada de confrontos que se seguiu a uma operação da Polícia Civil contra a maior milícia do estado na última segunda-feira (23).
Esses acontecimentos, que abalaram a cidade, chamam a atenção para o crescimento das milícias e o aumento da violência na região.
As milícias são grupos paramilitares compostos por agentes de segurança, incluindo policiais, bombeiros e militares, que, ao longo dos anos, evoluíram de supostos defensores das comunidades para organizações criminosas ávidas por vantagens políticas, econômicas e sociais.
Esses grupos, que surgiram na década de 1980, exploram "negócios rentáveis" nas áreas sob seu controle, como segurança, transporte alternativo, controle de gás e sinal 'pirata' de TV. Além disso, tornaram-se notórios por se envolverem em atividades violentas, operando como grupos de extermínio.
Uma característica preocupante das milícias é a sua crescente participação no tráfico de drogas nas áreas sob seu domínio. Elas expulsaram traficantes locais ou fizeram acordos com facções criminosas, controlando o comércio de entorpecentes.
Relatórios do Ministério Público revelaram que algumas milícias até alugam territórios a facções, agravando ainda mais o problema do tráfico de drogas nas comunidades.
Nos últimos anos, as milícias expandiram seu domínio territorial de forma significativa, passando de 52,6 km² em 2006 para 256,3 km² em 2021. Essa expansão se concentra principalmente na zona oeste da cidade e é alimentada, em parte, pela relativa repressão policial menos severa em comparação com as facções de tráfico de drogas. Conflitos frequentes surgem quando esses grupos buscam dominar novas áreas.
A população da zona oeste do Rio de Janeiro enfrenta um aumento aterrorizante da violência. De janeiro a outubro de 2023, houve 241 homicídios, um aumento de 129,5% em relação ao mesmo período de 2022.
Além disso, 13 chacinas deixaram um saldo de 47 mortos, representando um alarmante aumento de 291,6% em comparação com o ano anterior. A morte de Matheus da Silva Rezende, líder da principal milícia na região, desencadeou conflitos ainda mais intensos nesta semana.
Milícia e política
Apesar dos crescentes desafios representados pelas milícias, a legislação para combatê-las só foi criada em 2012. A CPI das Milícias em 2008, que teve Marcelo Freixo (PT-RJ) como relator, levou à prisão alguns milicianos, mas o crescimento desses grupos continuou de forma preocupante.
Hoje, as milícias, que possuem influência política pois tem o apoio de parlamentares e prefeitos fluminenses, são consideradas a principal ameaça à segurança pública na Grande Rio, com uma população de cerca de 1,7 milhão de pessoas sob seu domínio.
“São verdadeiras máfias alastradas pelo Brasil inteiro: Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte”, afirmou o governador Cláudio Castro (PL-RJ) na última terça (24).
"Ou a gente endurece a legislação, como outros locais do mundo fizeram, ou a gente vai ter essa mistura de México com Colômbia", acrescentou.
O conflito com as milícias no Rio de Janeiro é um problema e a população tem cobrado das autoridades ações enérgicas.
O uso de estruturas estatais e a escalada da violência por esses grupos tornam a luta contra as milícias uma prioridade essencial para a segurança da população.