"Eles andam de fuzil e não conseguiram identificar que não era um fuzil?". Essa foi a pergunta feita por Jurema Jane Silva de Souza, de 31 anos, sobrinha de Dierson Gomes da Silva, 51 anos, catador morto durante ação da PM na Cidade de Deus, Zona Oeste, no início da manhã desta quinta-feira (5).
A telefonista e outros parentes aguardavam à tarde a liberação do corpo do catador no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio.
Segundo a familiar, Dierson nunca teve envolvimento com o tráfico de drogas. Jurema conta que ele estava em uma construção que fazia parte da casa da mãe quando foi morto por PMs.
"Trabalhava com reciclagem e com o que aparecia, desentupia os canos, ajudava em obra, capinava, fazia o famoso bico. Era um pouco de tudo para se manter", diz a sobrinha, que era tratada pelo tio como se fosse uma filha.
O catador foi morto por PMs que confundiram um pedaço de madeira com um fuzil. A informação foi confirmada, inclusive, pela própria corporação em nota. De acordo com a Polícia Militar, uma equipe do 18º BPM (Jacarepaguá) se deparou com o homem portando o que aparentava ser uma arma com bandoleira e atiraram.
Para o irmão de Dierson, Marcos Cardoso, de 44 anos, que também esteve no IML, o número de disparos dados contra o catador não condiz com a justificativa de confusão. "Como que eles se confundiram e deram tantos tiros? Falaram que eles dispararam mais de 30 tiros contra o meu irmão", questionou o familiar.
A sobrinha também contestou a confusão dos PMs. "Eles são treinados para isso. Se fosse uma pessoa sem treinamento, não dizia nada. Eles andam de fuzil e não conseguiram identificar que não era um fuzil? Para mim não tem lógica. Eram oito horas da manhã, estava claro. Como que não identificaram que aquilo não era um fuzil?", perguntou.
Morto em casa
O caso aconteceu na localidade conhecida como Pantanal, no início da manhã desta quinta-feira (5), no mesmo momento em que a PM realizava uma operação na comunidade. Dierson trabalhava com recicláveis e também realizava bicos. Ele era conhecido por todos na região como 'Lord'. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) que realizou uma perícia no local.
O comando da PM instaurou um procedimento para "averiguar as circunstâncias que vitimaram fatalmente" o homem e afirmou que "colabora integralmente com as investigações da Polícia Civil". As armas dos militares envolvidos no caso serão apresentadas à perícia. A Polícia Civil informou que os agentes estão sendo ouvidos, bem como testemunhas, e que diligências estão em andamento para esclarecer os fatos.
A operação na Cidade de Deus começou no início da manhã, com o objetivo de prender criminosos que atuam no crime organizado daquela localidade, que é dominada pelo Comando Vermelho. Os bandidos do grupo praticam diversos roubos na região. A ação prendeu duas pessoas e apreendeu dois radiotransmissores e um fuzil calibre 5,56.
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