Ex-funcionários, testemunhas no processo do Conselho de Ética que na semana passada aprovou por unanimidade o parecer do vereador Chico Alencar (PSOL) pela cassação do mandato de Gabriel Monteiro, disseram que o vereador e youtuber costumava assediá-los sexualmente de forma constante. Nessas abordagens, o vereador teria chegado a mostrar o pênis e o ânus. Ao reclamar de assédio dentro de um carro, a ex-assessora Luísa Caroline Bezerra Batista, disse que pediu socorro a um assessor e recebeu um punhal, com a orientação de ferir o vereador.
"A gente estava indo pro Centro. (..) Nisso, o Gabriel.(...) pediu pro Rick trocar de lugar com ele. Aí, foi pro banco de trás. E, no banco de trás, ele começou a me agarrar, a lamber as minhas costas, morder, a me morder e ficar falando algumas coisas, sabe? E eu pedia pra ele parar e eu falava que não gostava dessas brincadeiras, e ele sempre fala que só tava brincando (...).. Pedi socorro. Eu falei: “Cara, pára o Gabriel”. Aí, ele me deu um punhal na mão e mandou eu furar ele, que ele parava", disse.
O sigilo das declarações dos depoimentos ao Conselho de Ética foi quebrado na última sexta-feira por ato da Procuradoria da Câmara do Rio, em razão do término dos trabalhos do grupo. Os documentos foram liberados para os demais vereadores e quaisquer interessados. Parte do material foi divulgado em reportagem do Fantástico nesse domingo. O GLOBO também teve acesso ao conteúdo.
A defesa decidiu recorrer da decisão à Comissão de Justiça e Redação nesta segunda-feira, quando expira o prazo processual para contestar a decisão do Conselho de Ética . O recurso deve ser julgado na reunião do essa comissão na próxima quarta-feira, dia 17. Caso a comissão considere que os ritos foram corretos, a matéria deve entrar em pauta na sessão de quinta-feira. Para cassar o mandato, são necessários votos favoráveis de 34 dos 51 vereadores. Na realidade, apenas 50 vereadores poderão participar, já que Carlos Bolsonaro (Republicanos) está de licença.
"É chocante como o Gabriel tratava as pessoas com quem ele trabalhava. Tudo é um abusrdo. As denúncias de abuso sexual, o fato que os advogados que o representavam serem os mesmos que contratou para defendê-lo. A questão da quebra da ética e do decoro estão mais do que confirmadas", disse Teresa Bergher (Cidadania), que integra o Conselho.
A pessoa a quem Luísa se refere que lhe teria passado o punhal foi Rick Dantas, chefe de gabinete de Gabriel Monteiro. Luísa trabalhou por sete meses como atriz e roterista) de vídeos que o vereador produzia e monetizava no youtube. Parte do teor depoimentos foi revelada pelo Fantástico na noite deste domingo.
No dia do incidente, um dos PMs que fazem a escolta de Gabriel Monteiro era Bruno Novaes Assumpção, que dirigia o veículo. Ele também prestou depoimento, mas não confirmou a declaração de Luísa. O motorista disse que achou que a ex-assessora deu espaço para que o vereador se aproximasse de forma mais íntima:
"Ela estava com o pé esticado no.. no encosto de braço, né (...) virou pro vereador e falou: quero ver se tu sabe fazer uma massagem. Aí, ele massageando o pé dela, ela virou pará ele e falou: Até que você massageia bem. Aí, ele ficou rindo (..). se você não fosse tão ... tão mulherengo do jeito que você é, de repente você daria certo com alguém", disse Bruno.
O PM disse que por estar dirigindo não conseguiu ouvir tudo que os dois falavam, mas que a ex-colega só teria se queixado de Gabriel no dia seguinte. E não citou o punhal no depoimento:
"Tinha hora que ele falava no ouvido dela, ela ria, ela cochichava alguma coisa no ouvido dele (...). Momento nenhum vi ela falar “para, ta me incomodando”. Até porque quando o vereador encostava a mão na perna dela, ela virava e falava: “Ó, daqui pra cima não. Daqui pra baixo pode."
Em outro plantão, o PM diz que encontrou Luisa na casa de Gabriel, chorando debaixo da mesa. E se queixou do vereador. Ele rebateu:
"Então, você não pediu em momento nenhum pra parar. Não adianta você se fazer de vítima aqui pro Nede ((outro assessor), porque ele tá presente, porque não vai adiantar nada", relatou Bruno.
Além de Luísa, outro ex-assessor que narrou episódios de assédio foi Vinícius Hayden Witeze, que morreu em 28 de maio, um dia depois de prestar depoimento no Conselho.
Ao conselho, o assessor repetiu o que afirma ter dito em depoimento a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) como testemunha de Luísa, narrando outros episódios de cunho sexual:
"Simplesmente falei as coisas que eu via que o Gabriel fazia perto dela ali, como chegar com o pênis ereto, chegar com a mão dentro daquelas bermudas largas, né?, já se tocando. E as mordidas que ele tentava dar na menina, abraçando, aquelas mordidinhas nas costas e tal, botando as pernas dele em cima das coxas dela, a cabeça e tal, abraçando por trás", disse.
Vinicius afirmou ao Conselho de Ética que ele mesmo foi vítima de assédio:
"Inclusive relatei o dia até que o Gabriel virou para mim e falou: “Se você mostrar seu pênis pra mim, eu vou te dar quatro dias em casa”. Aí consta também lá, já que o senhor pediu ipsis litteris, então tá aí", disse Vinicius.
Ex-editor de vídeos de Gabriel, Mateus Souza de Oliveira, descreveu outras situações:
"Nas últimas semanas (antes do editor pedir demissão) , o Gabriel simplesmente chegava no nosso escritório lá, que era um quarto lá na casa dele, tirava a calça e virava o… orifício anal dele pra cima, e ficava lá parado. É algo bizarro. É algo bizarro... e... eu acho que vocês não vão acreditar, mas é... sabe? É algo estranho e é constrangedor", contou.
Mateus afirmou também que Gabriel pedia que o masturbassem entre outras situações :
"Como eu editava (os vídeos), ficava do lado do Gabriel a manhã toda praticamente, né? E ele pedia, diversas vezes, carinho, seja aqui, seja pra fazer carinho na cabeça dele, seja até mesmo pra masturbá-lo, né...? Tanto eu masturbá-lo quanto ele pedia ao contrário também, diversas vezes (...). Então, muitas das vezes ele botava o órgão sexual dele prá fora e queria passar na gente assim, como já chegou a passar no nosso braço."
Como advogado, Rick Dantas estava presente ao depoimento de Luísa. Durante o depoimento, logo após Luísa narrar a situação do punhal, ele recebeu uma reprimenda do presidente do Conselho de Ética, Alexandre Iesquerdo (União Brasil):
"Vamos lá, pode ficar, pode ficar. Eu não quero é que você fique olhando, de pé, pra testemunha. É um tom ameaçador. Ok, segue. Eu só não vou... Olha só, gente, eu não vou... A gente conduz aqui na maior tranquilidade. Eu não vou admitir aqui ninguém pautar como é que vai ser a reunião, de maneira nenhuma, de maneira nenhuma", disse Isquierdo.
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