Além de ter sido indiciado por importunação sexual
pela 12ª DP (Copacabana) e constar como autor de um estelionato na área da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), o empresário Igor Monteiro Simão, de 26 anos, mora em um apartamento de alto padrão na Zona Oeste do Rio cujas cotas condominiais não são quitadas há pelo menos quatro anos. Em um processo que tramita na 2a Vara Cível do Fórum Regional da Barra da Tijuca, os pais do jovem, os também empresários Paulo Cezar Reis Simão e Marlucy de Souza, respondem a ação de execução de títulos extrajudiciais por não arcarem com o montante de R$ 201.912,16, correspondente a 52 parcelas que variam entre R$ 1.700 e R$ 3.100, acrescidas de juros e multa.
De acordo a petição inicial, de 2019, o casal é proprietário da unidade 301 do prédio, entretanto não vem cumprindo com a obrigação de arcar com os pagamentos. Na última semana, a advogada Simone de Souza Cerqueira, que representa o condomínio, afirmou, em documento encaminhado ao juiz Mario Cunha Olinto Filho, que fica demonstrada uma “intenção procrastinatória” de ambos por não conseguirem, ao longo de três anos, serem encontrados por um oficial de justiça.
“Os atos atentatórios à dignidade da Justiça violam o necessário respeito às decisões do Poder Judiciário ou à autoridade judiciária no que se refere à execução forçada. A intenção procrastinatória dos executados ficou evidente após quase três anos de tentativas frustradas de citação, pelas inúmeras vezes em que o oficial de Justiça, depois de comparecer a sua residência, era dispensado por informações falsas: ora era informado que o executado não morava naquele endereço, ora que não se encontrava em casa. O artifício foi empregado no intuito de retardar o prosseguimento da execução. O devedor que usa de meios ardilosos para evitar a citação na fase de execução atenta contra a dignidade da Justiça, pois age de forma incompatível com o exercício regular do direito de ação”, escreveu.
Ao GLOBO, a advogada informou que irá impugnar o pedido de gratuidade de Justiça feito pelo casal, em que anexam um atestado de hipossuficiência - declaração de que não conseguirão arcar com as despesas processuais: “Ademais insurge com um pedido de gratuidade anexando aos autos uma declaração de hipossuficiência que não passa de uma farsa, frente a declaração de imposto de renda da executada, que possui carro de luxo uma BMW 750I, cotas do Hotel Fasano, sala comercial em bairro nobre e caderneta de poupança com 278.900,00, não bastasse a ostentação em redes sociais de hospedagem em Resort Carmel Taíba com diárias de R$ 3 mil”.
Em seu perfil no Instagram, Igor mantinha até a semana passada a frase “Provavelmente mais rico do que ontem”, quando trocou a mensagem de apresentação para: “A verdade prevalecerá”. Na conta, os conteúdos publicados estão restritos a cerca de 380 seguidores e incluem, ao longo dos últimos dias, fotos dele na piscina de borda infinita do resort, no Ceará, para onde viajou na última segunda-feira, cerca de 48 horas após ser flagrado por uma câmera de segurança abordando uma menina de 14 anos no bar da cobertura do Hotel Fasano, em Ipanema, na Zona Sul do Rio, e dirigindo um buggy em dunas da região.
“Exatamente assim vivem os executados e sua família um vida de luxo e ostentação, porém não cumpre com seus deveres morais e legais, não pagam se quer a agua que utilizam, visto que o condomínio não possui agua individualizada, os condôminos são obrigados inserir cota extra para bancar a utilização da agua dos executados que possuem piscina e hidromassagem, avolumando a utilização de água”, ponderou a advogada Simone de Souza Cerqueira, na petição.
Como O GLOBO mostrou, Igor aparece nas imagens do Fasano de bermuda, sem camisa e descalço se aproximando e colocando as mãos na coxa de uma menina, que estava acompanhada por uma amiga, também menor de idade, na noite de sábado, dia 30. No vídeo, ele, às 22h05, é exibido sentando em um sofá ao lado das adolescentes. O empresário conversa e gesticula e as meninas chegam a olhar para trás. Cerca de três minutos depois, um funcionário do hotel aparece nas imagens tentando afastá-lo do local.
No depoimento prestado pela vítima, na 12ª DP, Igor estava bêbado quando se sentou ao seu lado. Ela relatou que moveu as pernas para se desvencilhar e afirmou ter dito a ele que é menor de idade. O rapaz, no entanto, teria continuado com as insinuações, “falando com o rosto cada vez mais próximo”, “como se pretendesse beijar as amigas” e elogiando que eram “muito bonitas”.
Em certo momento, contou a menina, o empresário perguntou se poderia ficar mais perto delas, embora já estivesse bem próximo. Segundo a vítima, ao perceber a situação, um garçom advertiu Igor, que o empurrou e ameaçou com as seguintes palavras: "Você sabe quem eu sou?". O rapaz é filho de um dos 67 cotistas — uma espécie de investidor com regalias — do Hotel Fasano. Também na delegacia, a adolescente afirmou que aproveitou a intervenção para deixar o local. Ao chegar no quarto onde estavam hospedadas, sob cuidados do pai de sua amiga, um empresário paulista, ambas relataram o ocorrido. A polícia foi acionada na sequência.
Segundo o registro de ocorrência, inspetores estiveram no local por volta das 23h50. Apuraram que o suspeito estava na condição de convidado e podia usufruir dos serviços da cobertura — piscina e bar. Igor, no entanto, não foi encontrado no hotel. Policiais militares foram até o condomínio onde ele mora, no Recreio, na Zona Oeste do Rio, e aguardaram para prendê-lo em flagrante. Acreditam, no entanto, que ele fugiu em uma BMW que deixou o local por volta das 5h40.
A delegada Débora Rodrigues, da 12ª DP, pediu a prisão preventiva do empresário pela "garantia da ordem pública”, justificando que ele "atrapalhou as diligências na demora da entrega das imagens, as quais "estão com falhas". O Ministério Público, no entanto, se manifestou contrário à medida. A promotora Luciana Gouvêa argumentou que, como as vítimas moram em outro estado, é "improvável" que o indiciado "exerça algum tipo de influência". Ela foi a favor do pedido para que ele seja impedido de deixar o país. A juíza Luciana Halbritter acolheu a argumentação e indeferiu o pedido de prisão.
Ao GLOBO, o Fasano Rio afirmou que "agiu com firmeza e dentro dos limites da lei para coibir atitudes inoportunas de um cliente" e que "um funcionário pediu reiteradas vezes para que o cliente deixasse o hotel, não sendo atendido". Disse ainda que "o cliente chegou a ameaçar o funcionário e a agredi-lo fisicamente”. Em nota, o hotel afirmou que "cedeu as imagens tão logo foram solicitadas por autoridade competente" e acrescenta que elas "são claras e mostram que o cliente que teve atitudes inoportunas jamais foi protegido ou ajudado por funcionários do hotel".
Igor também é acusado por um frentista de um posto de gasolina, no Recreio dos Bandeirantes, de não ter pago R$ 200 após encher o tanque de sua BMW X5 no estabelecimento comercial com o combustível, por volta de 11h15 do dia 8 de outubro de 2020. De acordo com o registro de ocorrência feito na 58ª DP (Posse), o funcionário, de 48 anos, trabalhava, quando o empresário abasteceu o veículo. No momento de efetuar o pagamento, seu cartão de crédito não foi autorizado ao passar na máquina e ele afirmou que voltaria no dia seguinte com o valor devido.
Ainda segundo o frentista, foi emitida uma nota em nome de Igor, mas ele não retornou para o valor do abastecimento, tampouco atendeu as ligações feitas pelo homem, que teve que arcar com o prejuízo. Depois do registro na 58ª DP, o inquérito foi remetido à 42ª DP.
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