Três dias antes de o ex-vereador e miliciano Jerônimo Guimarães , o Jerominho, ser executado a tiros em frente a seu centro social em Campo Grande , na Zona Oeste do Rio, ele anunciou apoio à candidatura de um coronel da PM à deputado federal. Durante uma reunião aberta ao público em sua casa, no mesmo bairro, Jerominho recebeu o oficial, Sergio Amâncio da Silva Porto (PROS), e um pré-candidato a deputado estadual, Jalmir Junior (PRTB). Fotos publicadas em redes sociais pelos pré-candidatos mostram a casa de Jerominho lotada na ocasião. Na véspera do encontro, o miliciano havia postado em seu perfil numa rede social um texto em apoio a Porto e Junior: "Tenho certeza que a população estará bem representada com esses dois homens".
Fundador do maior grupo miliciano do estado, Jerominho foi alvo de um ataque na frente do centro social que mantém, na Estrada Guandu do Sapê. Ele foi socorrido para o Hospital Oeste D'or, mas não resistiu. O cunhado de Jerominho, identificado como Mauricio Raul Atallah, que o acompanhava na ocasião, também foi baleado e socorrido pelo Corpo de Bombeiros para o Hospital Municipal Rocha Faria. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, até a noite de ontem, ele seguia internado em estado grave.
Jerominho foi baleado por três homens encapuzados e armados com fuzis que saltaram de um Cobalt pouco antes das 16h. Imagens de câmeras de segurança da região, que já foram apreendidas pela Polícia Civil, mostram que a ação durou 10 segundos. Quando foi baleado, Jerominho havia acabado de sair de seu centro social, acompanhado pelo cunhado.
No início deste ano, Jerominho anunciou que seria candidato a deputado federal nas próximas eleições. No entanto, logo após o anúncio, o ex-vereador foi preso devido a uma condenação antiga por extorsão a mão armada contra motoristas de vans, um crime cometido em 2005. Menos de uma semana depois, ele foi solto porque a Justiça detectou que Jerominho já havia cumprido o total da pena a que tinha sido condenado. Desde que foi solto, Jerominho não voltou a se manifestar sobre sua candidatura, até que anunciou apoio aos dois pré-candidatos.
Após a reunião, o coronel Sérgio Porto fez postagens em suas redes sociais sobre o evento. "Noite de reunião em Campo Grande, ao lado do meu amigo e pré candidato a deputado estadual Jalmir Junior. Gostaria de agradecer a todos as pessoas que participaram desse evento, o espaço ficou totalmente lotado. Juntos podemos fazer a diferença!", escreveu. Numa das imagens postadas pelo próprio pré-candidato, ele aparece ao lado de Jerominho e seu irmão, Natalino Guimarães, ambos condenados por fundarem a maior milícia do Rio. Porto, que já foi comandante do 15º BPM (Duque de Caxias), do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) e do Comando de Polícia Ambiental (CPAm), tirou licença da PM no início de julho passado para se candidatar.
Em 2017, Porto chegou a ser investigado pela Corregedoria da PM por suspeita de ser o autor de mensagens, em um grupo no WhatsApp, incentivando as mortes decorrentes de confrontos com a polícia. Na ocasião, o oficial compartilhou uma reportagem sobre números de mortes em operação em 2017 que mostrava que a unidade comandada por Porto ficou em segundo lugar no ranking das áreas que registraram o maior número de casos durante o ano. “Orgulho da Baixada”, comentou ele, com emoticons de bombas e caixões ao lado da mensagem. O outro pré-candidato que compareceu ao encontro, Jalmir Junior, já foi eleito duas vezes vereador de São Gonçalo, na Região Metropolitana.
O assassinato de Jerominho acontece em meio a uma guerra interna na milícia que ele mesmo ajudou a fundar. No ano passado, após a morte do então chefe do grupo paramilitar, Wellington da Silva Braga, o Ecko, dois homens passaram a disputar a sucessão: Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, irmão de Ecko, que passou a controlar a milícia na Zona Oeste, e Danilo Dias Lima, o Tandera, ex-braço direito do antigo chefão, que hoje domina regiões da Baixada Fluminense controladas pelo bando. Desde junho do ano passado, ambos os grupos promovem ataques para tentar invadir áreas dos rivais e aumentar seus territórios.
A polícia investiga se o homicídio tem ligação com a guerra da milícia. No entanto, agentes que investigam o grupo afirmam que Jerominho já não tinha mais exercia mais um papel de chefia dentro do grupo, apesar de sua influência e poder político em Campo Grande, um dos bairros dominados pela milícia. Ao todo, Jerominho passou 11 anos preso sob a acusação de chefiar a milícia.
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