O presidente do Cremerj, Clóvis Bersot Munhoz, está sendo alvo de uma investigação da Polícia Civil sobre um suposto caso de assédio sexual
Reprodução/Cremerj 25.7.2022
O presidente do Cremerj, Clóvis Bersot Munhoz, está sendo alvo de uma investigação da Polícia Civil sobre um suposto caso de assédio sexual

A técnica de enfermagem de 26 anos que denunciou por assédio sexual o ortopedista Clóvis Munhoz, agora presidente afastado do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) decidiu quebrar o silêncio.

Ao contar que teve dificuldades para encontrar um escritório de advocacia que assumisse seu caso, ela disse que, em hospitais, já testemunhou abusos parecidos com o que viveu. Por escrito, ela também relatou ao GLOBO o que a moveu na busca por Justiça.

"Queria apenas dizer para os meus colegas de profissão e para todos que podem ou já passaram por uma situação assim, que não devemos nos calar. Por mais difícil e assustador que possa ser, lutem pelo que é certo", afirmou.

O assédio teria ocorrido em agosto de 2021, conforme revelou O GLOBO na semana passada. Clóvis Munhoz se afastou do cargo no Cremerj depois que a acusação veio a público.

Indiciado pela polícia pelo crime de assédio sexual, ele chegou a ser chamado duas vezes para depor em inquérito na 9º DP (Catete), mas não compareceu. Procurado desde quinta-feira passada, o médico tampouco deu entrevistas.

Agonia e insegurança

Enquanto isso, nos tribunais, um processo trabalhista movido pela técnica de enfermagem contra o hospital Glória D’Or esmiúça como o assédio teria ocorrido. No texto, a profissional de Saúde afirma que Clóvis teria dito: “Se você quer trair o seu marido, pode ligar para mim”. Ainda de acordo com o processo, ele a segurou e disse: “Você não pode sair de perto de mim. Como você é quente. Se eu beijar o seu pescoço, vai gozar rápido’’.

Com essa história a denunciar, a jovem lembra que alguns advogados não quiseram atendê-la:

"Passei por cinco escritórios de advocacia. Alegavam que seria apenas mais um caso de assédio, o que me causou ainda mais indignação. A advogada que acabou me dando respaldo já sofreu assédio e sentiu na pele o que eu também senti."

Já sobre assédios a que assistiu em seus primeiros anos de carreira, ela escreveu:

"Já teve médico que arrastou enfermeira pelo braço no corredor. Quando questionou a chefia sobre a conduta em relação a assédio sexual e moral, foi dito para ela ‘acordar para a vida’, que isso é normal."

Ao ser ela própria a vítima, a técnica descreveu o quão ficou emocionalmente abalada.

"A situação me tirou o chão", relatou ela, que recorreu a acompanhamento psicológico depois do ocorrido. "Precisei de terapia para tentar amenizar a agonia que sentia e a falta de segurança em meu próprio local de trabalho."

A técnica de enfermagem contou ainda que voltou a atuar na área, só que no CTI de outro hospital. A profissão, diz, ela seguiu devido à mãe, que precisa de sua ajuda por problemas de saúde. Casada, a jovem tem um filho de 4 anos, com problemas de locomoção. Inspirada pelo filho, ela faz faculdade de fisioterapia.

Agora, o caso que ela denuncia será analisado pelo Conselho de Ética de outro estado. Em nota, na semana passada, o Cremerj reafirmou “seu repúdio por qualquer tipo de assédio e trabalha junto das autoridades para coibir essa prática antiética e criminosa”.

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