Estudante relata ter sofrido racismo em teatro do Rio

Fábio Leandro Souza do Nascimento, de 25 anos, estava no local para assistir a uma peça sobre preconceito

Fábio Leandro Souza do Nascimento, de 25 anos
Foto: Reprodução
Fábio Leandro Souza do Nascimento, de 25 anos

Um estudante de Nutrição usou as redes sociais para denunciar que foi acusado de roubar um guarda-chuva no Teatro Ipanema, no bairro de mesmo nome, na Zona Sul, do Rio, na noite do último sábado. O caso teria acontecido após a pré-estreia da peça.

Fábio Leandro Souza do Nascimento, de 25 anos, gravou um vídeo em que contou como tudo aconteceu. A publicação viralizou nas redes sociais. Entretanto, ele ainda não registrou o boletim de ocorrência. O rapaz afirmou que aguarda apenas um advogado para fazer um registro de ocorrência contra a mulher, na tarde desta segunda-feira.

Segundo o universitário, tudo aconteceu na estreia da peça ‘Nem Todo Filho Vinga’, que fala sobre racismo, preconceito e desigualdade social. No vídeo ele desabafou sobre o caso de suposto racismo.

"Estou vindo aqui para compartilhar o que aconteceu comigo ontem lá no Teatro de Ipanema. Eu fui acusado de roubar um guarda-chuva de uma pessoa branca que assistiu à peça ‘Nem Todo Filho Vinga’, que fala sobre, justamente, isso: preconceito, racismo e desigualdade social", relatou o universitário.

"Se ali perto de mim não estivesse pessoas confirmando e indo ao meu favor, hoje eu poderia estar até preso. Por conta disso. Eu fui acusado de roubar um guarda-chuva. Sendo que o guarda-chuvas era meu. Tem câmeras que mostram que eu entrei e sai com o guarda-chuvas. Ela veio na minha direção perguntando: “Você vai para onde com o meu guarda-chuvas? Me devolve meu guarda-chuvas. Me dá", agressivamente”, relatou Fábio.

Ao GLOBO, o jovem que é nascido e criado no Chapéu-Mangueira, no Leme, disse que havia ido ao local para prestigiar a peça que é feita por uma atriz amiga de sua esposa. No entanto, ao sair do local foi abordado pela mulher que o acusava de ter roubado seu objeto.

"O espetáculo foi uma maravilha. Mostrou tudo que eu vivi. Foram cenas fortes e que me emocionaram muito. (Após o espetáculo) Minha esposa foi ao banheiro e fui saindo. E aconteceu isso tudo. Ela veio gritando e me acusado de roubo. Poxa, aquilo dentro de um teatro lotado de pessoas brancas, segurando o mesmo tipo de guarda-chuva e ela só veio me abordando? Ela surgiu do nada, gritando, me acusado de algo que não tinha cometido. Ela veio logo pra cima do Fábio, menino negro" desabada o rapaz.

Ainda de acordo com o universitário, a mulher ainda tentou agarra-lo e retirar o objeto de suas mãos.

"Ela chegou puxando, dizendo que era dela. Eu questione e falei que não era dela. Ela não confiou na minha palavra. A minha negativa não bastou pra ela. Ficamos naquele impasse por muito tempo e as pessoas começaram a me defender. E se as pessoas não me defendessem? O que teria acontecido comigo?", questiona o rapaz.

Perguntado se ele perdoa a mulher, ele afirma que sim. Entretanto, ele pretende processa-la.

"Eu até desculpo ela. Mas, tem que ter um processo pra ela entender. Que a Justiça seja feita. Não podemos nos calar diante disso. Eu era o único preto de guarda-chuva e os outros eram brancos. Ela só veio até mim."

O rapaz disse que após a suposta acusação, ele recebeu todo o apoio dos organizadores da peça e da direção do teatro.

Após Fábio divulgar o que aconteceu, a direção do espetáculo teatral publicou um vídeo em suas redes sociais repudiando o que aconteceu.

"Nós, da Companhia Cria do Beco, repudiamos toda e qualquer atitude racista. Ontem, 11 de junho, após o espetáculo, uma mulher acusou um amigo negro, favelado, de ter roubado seu guarda-chuva. Sim, um guarda-chuva. A cena foi caótica, estendeu-se na rua, num constrangimento terrível. Continuaremos ocupando esses espaços e trazendo nossa galera pro teatro".

A Secretaria municipal de Cultura ainda não se pronunciou sobre o caso. Procurada, a delegada Daniela Campos Rodriguez Terra, titular da 14ª DP (Leblon), afirmou que não houve registro do caso na distrital. Entretanto, ela salientou que o rapaz poderá fazem o boletim de ocorrência em qualquer delegacia e, posteriormente, o registro é enviado para a 14ª DP onde é a área de atribuição.