Após a internação de seu filho de 16 anos, que deu entrada no hospital com suspeitas de ter sido envenenado pela madrasta , Adeilson Cabral ligou para familiares e amigos para alertar sobre o comportamento de Cintia Mariano Dias Cabral, até então, sua esposa. Ele explica que tinha receio da mulher procurar as pessoas pedindo ajuda, já que havia cortado os cartões de crédito e número de celular que ela usava.
Entre as pessoas para quem Adeilson ligou estão os pais de uma criança que recentemente passou pela casa do casal. Cintia Mariano participava de um projeto para acolher crianças órfãs do Rio e teria cuidado de 38 meninos e meninas desde que começou a participar do programa.
"Liguei para eles e disse: por favor, não deixe a Cíntia chegar perto da criança. Eu não sei o que está acontecendo. Avisei outras pessoas como alguns amigos mais próximos também. Cancelei o cartão, o celular e o carro já estava comigo. Tinha medo dela fazer mal para mais alguém. É meu dever", conta Adeilson ao GLOBO.
A família de Fernanda Cabral autorizou a exumação do corpo da jovem para a polícia analisar se ela foi envenenada ou se ela morreu de causas naturais como se acreditava até a última semana. Fernanda era enteada de Cíntia Mariano Dias, também acusada de envenenar Bruno, seu outro enteado de 16 anos. A pedido dos familiares, o dia e hora da exumação não foram divulgados.
A madrasta suspeita de envenenar os dois enteados mandou mensagens para o pai das vítimas pedindo para que ele não lamentasse a morte da filha, porque ela não iria gostar de vê-lo assim. "Não chora. Lembra que ela não gostava de ver você chorando. (...) Um buraco que ficou e não vai fechar nunca. Vamos aprender a conviver, mas jamais esquecer", escreveu Cíntia Mariano Dias Cabral num aplicativo de mensagens. Ela é suspeita de matar a estudante Fernanda Carvalho Cabral, de 22 anos, e de tentar matar o irmão dela, o adolescente Bruno Cabral, de 16. Em outros momentos, quando Fernanda ainda estava internada, a madrasta perguntou sobre o leito no qual a jovem estava e sobre exames que ela precisaria fazer, tentando mostrar-se participativa e preocupada com o estado de saúde da enteada.
"Ela se mostrava preocupada e ia comigo em todas as visitas no hospital. Um caso surreal. Ela acabou com a minha vida. Matou minha filha e quase fez o mesmo com o meu filho. Foi por pouco", diz Adeilson Cabral, pai de Bruno e Fernanda, que se sente culpado pelo envolvimento amoroso.
Detida em Benfica desde sexta-feira (20) para o cumprimento do pedido de prisão preventiva, Cíntia continua presa. Ela passou na tarde deste domingo (22) por uma audiência de custódia. De acordo com investigações da 33ª DP (Realengo), Bruno deu entrada, em 15 de maio, no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, com tonteira, língua enrolada, babando e com coloração da pele branca após comer um prato de feijão feito e servido pela madrasta, que mantinha um relacionamento conjugal com seu pai há cerca de seis anos. A irmã já havia sentido sintomas semelhantes após outra refeição e morrido 12 dias após ser internada, em 15 de março.
Segundo Bruno, que já teve alta do hospital, a madrasta sempre fazia de tudo para que o pai brigasse com ele. A família mora em Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. Inicialmente, o caso foi tido como causa natural, mas agora o suposto homicídio da jovem está sendo apurado em outro inquérito da 33ª DP. A polícia crê que Cíntia agiu por ciúmes do marido com os filhos.
Segundo os depoimentos, durante o almoço (em que foram servidos ainda arroz, bife e batata frita), estavam presentes o casal e os dois estudantes, além de uma filha de outro casamento do pai dos jovens e dois filhos e uma neta da madrasta. Na ocasião, o rapaz reclamou que o feijão estava com gosto amargo e o colocou no canto do prato. A madrasta, então, levou o prato de volta para a cozinha e colocou mais comida. Após a refeição, o estudante foi deixado na casa da mãe, Jane Carvalho Cabral, que minutos depois ligou para o ex-marido contando sobre os sintomas de saúde apresentados pelo filho.
Jane conta ainda que no segundo dia de internação de Fernanda, ela questionou Adeilson se a filha não teria sido envenenada, mas ele negou e pediu "pelo amor de Deus" para ela não dizer isso. A mãe diz ainda que chegou até a falar com o médico sobre essa possibilidade, perguntou também se tinham feito exame toxicológico. Mas, segundo uma explicação dada no hospital a ela, já era o terceiro dia e não adiantaria mais fazer o exame.
"Já era o coração de mãe falando mesmo. Devido à parada cardíaca, ela teve uma lesão no cérebro e foi isso que causou a morte, porque os órgãos foram parando. Ninguém descobriu. Chegou ao óbito, essa tristeza toda, e a gente em hipótese alguma imaginava o que tinha acontecido. Até, exatamente dois meses após, o Bruno passar mal", disse a mãe em depoimento ao GLOBO.
Uma profissional da equipe médica do Hospital Albert Schweitzer que prefere não se identificar, recorda que Fernanda chegou à unidade de saúde já desacordada e que os pais e a madrasta iam visitá-la todos os dias. Ela conta que todos no centro médico ficaram surpresos quando Cíntia foi presa:
"Quando a Fernanda estava internada ela parecia muito preocupada com seu estado de saúde. Hoje sei que a preocupação dela era medo de que Fernanda acordasse e contasse o que ela tinha feito", revela a profissional.
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