Dinheiro apreendido durante operação da Delegacia de Defraudações (DDEF), especializada que investiga grandes casos de estelionato
reprodução/Polícia Civil
Dinheiro apreendido durante operação da Delegacia de Defraudações (DDEF), especializada que investiga grandes casos de estelionato

O estado do Rio manteve, em março, o ritmo de queda nas mortes violentas e nos roubos. Por outro lado, os casos de estelionato, que vêm em uma escalada desenfreada desde o início da pandemia da Covid-19, aceleraram mais do que nunca . As 10.398 ocorrências do gênero no período, de acordo com os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), representam o maior número de golpes já computado em um único mês.

Com a inclusão dos dados de março, o fenômeno manteve-se inalterado. Os pouco mais de 29 mil casos de estelionato computados no primeiro trimestre superam em quase 4 mil ocorrências os 25.191 roubos do mesmo período. Antes, analisando somente janeiro e fevereiro, a diferença era de 2.486 registros (18.655 contra 16.169).

A disparada estelionatária também fica escancarada quando considerado todo o primeiro trimestre de 2022. As 29.053 ocorrências superam a soma dos períodos de janeiro a março de 2021 e 2020 (13.396 e 10.583, respectivamente). É como se, em apenas três meses, toda a população de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, se tornasse alvo de golpistas — e isso desconsiderando que um único registro pode incluir múltiplas vítimas.

No último balanço divulgado pelo ISP, em fevereiro, o GLOBO já havia mostrado que, pela primeira vez, o número de casos de estelionato havia superado o total de roubos no estado. Em outras palavras, é como se o Rio já abrigasse mais golpistas do que ladrões, independemente da modalidade do assalto — são levados em conta na estatística desde o celular tomado até a carga levada nas estradas, por exemplo.

Com a inclusão dos dados de março, o fenômeno manteve-se inalterado. Os pouco mais de 29 mil casos de estelionato computados no primeiro trimestre superam em quase 4 mil ocorrências os 25.191 roubos do mesmo período. Antes, analisando somente janeiro e fevereiro, a diferença era de 2.486 registros (18.655 contra 16.169).

Queda nos homicídios

Já os 256 homicídios dolosos computados em março, ainda conforme o divulgado pelo ISP, bem como os 760 registrados no acumulado do trimestre, representam a menor marca em mais de três décadas, desde 1991, quando teve início a série histórica para este tipo de crime. O mesmo aconteceu com o índice de letalidade violenta, que abrange, além dos homicídios dolosos, os casos de latrocínio (roubo com resultado morte), lesão corporal seguida de morte e os autos de resistência, hoje chamados de morte por intervenção de agentes do estado.

Foram 1.099 vítimas de janeiro a março, e 386 apenas no mês mais recente, representando, mais uma vez, o patamar mais baixo para os dois indicadores em 31 anos. Tanto a letalidade violenta quando os homicídios dolosos, isoladamente, apresentaram queda por volta dos 20% na comparação com o mesmo período do ano passado.

A análise do indicador de letalidade, porém, traz um alerta. Apesar da queda de 22,2%, em março, diante do mesmo mês em 2021, os 123 autos de resistência computados no período correspondem a quase um terço das mortes violentas no estado, enquanto a média nacional é de 12%. Há cerca de uma década, enquanto o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) ainda estava a pleno vapor, o índice fluminense chegou a ser de apenas 9%.

"O ano passado foi o mais violento em termos de letalidade policial desde 2007, com a fatia de mortes pelas mãos de agentes do estado beirando os 40%. Assim, a redução registrada agora me parece muito mais um efeito desse patamar anterior elevadíssimo. E isso é um problema sobretudo porque, diante de todos os indicadores, com crimes contra o patrimônio e homicídios em queda, a questão das mortes em confronto é, hoje, o principal problema de segurança pública no estado. Mas pouco ou nada tem sido feito com o objetivo de reverter esse quadro" diz Daniel Hirata, professor de Sociologia e coordenador do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni), da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Em uma reportagem especial publicada em setembro do ano passado, o GLOBO mostrou que a redução nas mortes passa por um conjunto de fatores, como melhoras recentes na estrutura das polícias, questões demográficas e até mudanças na dinâmica entre grupos criminosos, sobretudo traficantes e milicianos. Isso porque as quedas mais expressivas, como o constatado à época, se dava justamente em locais que sofreram alterações profundas na geopolítica do crime organizado, seja com disputas históricas envolvendo quadrilhas rivais arrefecendo, seja com paramilitares conseguindo se instaurar e estabelecer o controle, sbujugando a concorrência.

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