COP30: como seria viver sem combustíveis fósseis?

Especialistas apontam desafios e caminhos para a transição energética

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Foto: FreePik
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A crescente pressão por ações climáticas coloca em evidência um cenário que antes parecia distante: um mundo totalmente livre de combustíveis fósseis. Especialistas afirmam que a transformação é possível e urgente, mas depende de planejamento, tecnologia e vontade política.

A intensificação dos efeitos das mudanças climáticas e a queda no custo das energias renováveis reacenderam o debate sobre como seria a vida em um planeta que não utiliza petróleo, carvão ou gás natural. No Brasil, onde o potencial renovável é considerado um dos maiores do mundo, a discussão ganha ainda mais relevância durante a COP30 .

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Segundo análises de instituições ambientais, um país sem combustíveis fósseis teria uma matriz predominantemente baseada em energia solar, eólica e hidrelétrica, com forte apoio de sistemas de armazenamento e redes inteligentes. O transporte seria majoritariamente elétrico, e setores industriais de alto consumo energético dependeriam de eletrificação ou hidrogênio verde.

Para John Fernando de Farias Wurdig, engenheiro ambiental e gerente de transição energética do Instituto Arayara, o desafio não está na tecnologia, mas nas escolhas políticas e econômicas.

“Nós já sabemos como fazer essa transição. O problema é que continuamos investindo pesado em combustíveis fósseis, quando precisamos priorizar eficiência energética, eletrificação e energias limpas. Sem redirecionar subsídios e estratégias, vamos atrasar algo que já poderia estar avançando rapidamente” , afirma Wurdig.

O especialista acrescenta que, antes de abandonar os fósseis, é preciso reconhecer como eles sustentam o modelo atual de sociedade:

O mundo vive essa transição. Nosso modelo econômico, urbano e energético ainda é profundamente dependente dos combustíveis fósseis no carro que eu utilizo, nos caminhões a diesel, nos aviões, no transporte marítimo e na indústria. O primeiro passo é modernizar todo esse sistema para que ele seja mais eficiente. A prova disso é a evolução que tivemos até nos eletrodomésticos dentro de casa.”

Segundo ele, avançar em armazenamento é igualmente essencial.

“O país precisa aprender a guardar energia por meio de baterias. O Brasil ainda não tem um leilão específico para isso. Os desafios são muitos, e ainda temos todos os trabalhadores da indústria fóssil que precisam de uma transição justa. Não é só desligar a usina. O problema é que o Brasil e muitos países estão postergando esse planejamento, numa situação de urgência climática.”

Wurdig lembra que o cenário já é crítico: em poucos anos, o mundo pode ultrapassar o limite de 1,5 °C de aquecimento, e eventos extremos como a grande catástrofe climática no Rio Grande do Sul , em 2024, tendem a se tornar mais frequentes.

São vidas em jogo, vidas destruídas, além de impactos econômicos. Não podemos trabalhar com a ideia de que a indústria fóssil vai financiar a transição energética” , afirma.

Abandonar combustíveis fósseis, diz ele, exige também questionar padrões de consumo e estilo de vida:

“Pensar num mundo sem petróleo, gás e carvão é um grande desafio porque dependemos dessas fontes. Para eliminá-las, precisamos repensar nosso modo de viver e nosso consumo. O Brasil adotou um modelo muito parecido com o dos Estados Unidos, especialmente na geração de resíduos. Hoje cada brasileiro produz cerca de 1,5 kg de lixo por dia, e resíduos sólidos são uma das três maiores fontes de gases de efeito estufa.”

Para Wurdig, a transição energética só será possível com mudanças culturais e comportamentais:

“Precisamos rever hábitos, reduzir o consumo desenfreado e investir em adaptação. Fiquei muito impressionado com o calor em Belém. Como vamos nos adaptar? Existem alternativas: energia solar, reaproveitamento de resíduos, carvão ecológico. O que falta é investimento nesses projetos.”

Apesar dos desafios, especialistas afirmam que a transição completa é inevitável e pode ser vantajosa. Países que se adiantarem tendem a atrair investimentos, reduzir custos energéticos e melhorar a qualidade de vida da população.

“Se o Brasil quiser liderar, precisa agir agora. Não podemos esperar que o mundo abandone os fósseis para depois correr atrás. Nosso potencial é imenso,  mas a oportunidade também tem prazo.”

Enquanto governos, empresas e sociedade discutem o ritmo e o caminho, uma coisa parece certa: imaginar um mundo sem combustíveis fósseis deixou de ser exercício de ficção e se tornou um roteiro possível e necessário para as próximas décadas.

A pressão por ações climáticas reacende o debate sobre um futuro sem combustíveis fósseis. Especialistas afirmam que a transição é viável e urgente, especialmente no Brasil, onde o potencial de energias renováveis é elevado.

Em um cenário livre de petróleo, carvão e gás, o país teria uma matriz baseada em energia solar, eólica e hidrelétrica, apoiada por sistemas de armazenamento e redes inteligentes. O transporte seria majoritariamente elétrico, e a indústria pesada dependeria de eletrificação ou hidrogênio verde.

Segundo Wurdig, o maior entrave não é tecnológico, mas político. Ele defende que o Brasil precisa redirecionar subsídios e priorizar eficiência energética e fontes limpas.

A mudança exigiria reestruturar setores como transporte e indústria, além de investir em qualificação profissional e apoiar regiões dependentes do petróleo.

Apesar dos desafios, especialistas veem vantagens claras: ar mais limpo, custos energéticos menores e atração de investimentos. Para Wurdig, o momento é decisivo: se o Brasil quiser liderar a transição, precisa agir agora.