Boa Vista, Roraima
Reprodução/ Prefeitura Municipal de Boa Vista
Boa Vista, Roraima

Boa Vista é a capital brasileira com o maior crescimento populacional em 2025, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A principal razão para esse aumento, de acordo com o IBGE, é a chegada de imigrantes, especialmente venezuelanos que buscam refúgio no Brasil diante da crise no país vizinho.

A localização estratégica de Boa Vista, próxima à fronteira, faz da cidade a porta de entrada para quem cruza a linha internacional em busca de oportunidades e assistência humanitária.

O que dizem os especialistas sobre esse crescimento?

Em entrevista ao Portal iG, o demógrafo, geógrafo e professor da UFRGS, Ricardo de Sampaio Dagnino, diz que o fenômeno se explica pela atual transição demográfica do país. 

“O crescimento populacional é resultado da relação entre nascimentos, mortes e mobilidade. No caso do Brasil, vivemos uma transição demográfica marcada pela queda nos nascimentos e diminuição dos óbitos. Isso significa que, atualmente, o principal motor do aumento populacional é devido à migração e isso ficou bem claro em Boa Vista” , explica ao iG .

Segundo Dagnino, outras capitais também apresentaram crescimento expressivo, como Florianópolis, Palmas e Cuiabá, mas nenhuma no mesmo patamar de Boa Vista. Isso porque cada uma tem sua dinâmica .

“Florianópolis é um polo atrativo no Sul, enquanto Palmas e Cuiabá se destacam pelo avanço do agronegócio no Centro-Oeste. São regiões que funcionam como imãs populacionais” , observa.

Quando perguntado se esse crescimento seria sustentável a longo prazo, o demógrafo explica que o fenômeno pode ser transitório, marcado por entradas, saídas e deslocamentos internos:

“Enquanto houver fluxo de refugiados vindos da Venezuela, do Haiti e de outros países, é natural que Boa Vista continue registrando crescimento populacional. A capital roraimense está na linha de fronteira com a Venezuela, o que torna previsível esse movimento. Muitos imigrantes entram no Brasil por Roraima, Amazonas ou Acre, mas depois seguem para outras regiões, especialmente Sul e Sudeste, onde a economia é mais aquecida. Portanto, é preciso considerar.''


Infraestrutura e impactos urbanos

A chegada em grande quantidade de imigrantes, no entanto, pode trazer alguns desafios que devem ser pensados pelo poder público .

“A entrada de um grande número de pessoas impacta a infraestrutura urbana e os serviços públicos. É necessário organizar um processo de acolhimento, registro e documentação, além de garantir atendimentos básicos como vacinação e assistência à saúde. Em situações anteriores, cidades de fronteira em Roraima e no Acre chegaram a montar estruturas emergenciais, como tendas e unidades avançadas, com apoio de órgãos federais para dar conta dessa demanda”.

Ele ainda acrescenta que essa migração também desempenha um papel demográfico e econômico :

“Esses fluxos funcionam como uma renovação da força de trabalho. Muitos imigrantes ocupam postos que a população local não tem interesse em assumir, geralmente em funções mais subalternas. Mesmo aqueles que chegam com nível superior ou qualificação elevada acabam enfrentando dificuldades para validar seus diplomas no Brasil e, por isso, aceitam trabalhos de menor qualificação. Para os empresários, isso representa mão de obra disponível e, muitas vezes, mais barata”, explica.

Apesar da importância dessa movimentação, Dagnino pondera que é preciso investir em políticas públicas para integrar essa população e evitar problemas sociais.

“Fornecer validação de diplomas, garantia de saúde básica, acesso a moradia digna e fiscalização contra trabalho análogo à escravidão são medidas fundamentais”.

O especialista ainda afirma que o aumento populacional em Boa Vista, impulsionado pela imigração, já altera e tende a impactar ainda mais a dinâmica econômica e social da região Norte .

Desde 2017, dados do Observatório das Migrações Internacionais e da Polícia Federal apontam um fluxo crescente de venezuelanos, além de outros grupos, como haitianos e senegaleses, entrando principalmente por Pacaraima e Bonfim, em Roraima.

Ele ressalta que esse movimento deve ser entendido como um fenômeno social, e não como um problema. Os imigrantes, muitas vezes refugiados de crises econômicas, políticas ou ambientais, têm se incorporado ao mercado de trabalho brasileiro, ocupando funções que a população local não preenche

Em alguns setores, como o agropecuário, essa presença é estratégica, já que trabalhadores de determinadas religiões atendem a exigências culturais e sanitárias de mercados externos.

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