As onças-pintadas são ameaçadas de extinção
Reprodução/Instituto Onça-Pintada
As onças-pintadas são ameaçadas de extinção


Nesta semana, um  ataque de onça-pintada a um caseiro, nas margens do rio Miranda, em Aquidauana (MS), acendeu um alerta entre moradores e visitantes do Pantanal.

O episódio, que terminou com a morte do homem e a subsequente captura do animal, rapidamente se espalhou pelas redes sociais, alimentando receios sobre a presença do maior felino das Américas em áreas habitadas.

No entanto, o comportamento agressivo observado neste caso é considerado fora da curva e não representa um padrão, segundo especialistas.

“Esses ataques são extremamente raros e sempre envolvem situações de exceção”, explica a bióloga e médica veterinária Carol Machado, responsável técnica pelo projeto Habitá e pelo Instituto Libio, ao Portal iG.

“Em condições normais, a onça evita o contato com pessoas. Os poucos registros geralmente envolvem animais feridos, acuados, com filhotes por perto ou surpreendidos por humanos”, ressalta.

A avaliação é compartilhada por Jorge Menezes, líder do Grupo de Pesquisa Ecologia e Conservação de Felinos na Amazônia e pesquisador titular do  Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, que em entrevista ao Portal iG, também reforça que ataques a humanos são raros quando comparados aos registrados contra gado ou animais domésticos. “A chance de um ataque na natureza é baixa, e constitui uma exceção”, destaca. “O grosso dos ataques ocorre em zoológicos, circos, criadouros ou com pessoas que mantêm onças como animais de estimação.”

Estresse ambiental como gatilho

Fatores como fome extrema, doenças ou a perda acelerada de habitat natural são elementos que aumentam significativamente o risco de conflitos entre humanos e onças. O avanço do desmatamento, queimadas e barulho constante têm pressionado os animais a buscar alimento em áreas antes inexploradas.

“A escassez de presas, associada a alterações no ambiente, pode levar uma onça a se aproximar de currais, trilhas e até residências em busca de comida. Esse contato forçado cria situações de tensão e risco, principalmente se o animal estiver fragilizado ou desorientado”, explica Carol Machado.

Menezes complementa: “Para quase todos os animais, o ataque ao ser humano para alimentação é um evento de desespero. Predadores solitários, como a onça-pintada, evitam presas grandes e perigosas. Um ser humano, que pesa entre 60 e 80 kg, representa um risco muito maior que as presas naturais, como porcos selvagens de 20 a 40 kg.”

O instinto ainda é evitar confronto

De forma geral, o comportamento da onça ao encontrar um ser humano é de cautela. “São animais extremamente furtivos. Na imensa maioria das vezes, se afastam em silêncio ao perceberem a presença humana”, afirma a bióloga. “A territorialidade existe, mas não é um gatilho para o ataque. Elas observam, avaliam o risco e recuam.”

Segundo Menezes, o comportamento territorial está mais relacionado a outros indivíduos da mesma espécie. “A única exceção é quando a fêmea tem filhotes. Nesse caso, o ser humano pode ser percebido como um predador em potencial e a onça pode reagir para defender o ninho.”

Habituadas à presença humana?

Entretanto, o cenário pode mudar em regiões onde há contato frequente com humanos, como zonas de ecoturismo ou áreas rurais. “Onças que vivem em áreas com presença constante de pessoas podem se tornar mais tolerantes. O problema é quando ocorre a prática ilegal de cevar animais — oferecer alimento de forma proposital. Isso quebra uma barreira importante entre humanos e fauna, e pode gerar um comportamento anormal e perigoso”, alerta Carol.

Jorge Menezes reforça que animais em constante contato com humanos tendem a se habituar. “Eles aprendem que seres humanos não são ameaças e passam a ignorar nossa presença. Mas essa habituação nem sempre é positiva. Uma onça criada como animal de estimação, por exemplo, pode machucar alguém mesmo sem querer.”

Como agir ao encontrar uma onça?

Em caso de encontro com uma onça-pintada na natureza, a recomendação principal é manter a calma. “Não corra. Isso pode acionar o instinto de perseguição. Recuar lentamente, sem movimentos bruscos, e falar em voz firme ajuda a não ser visto como ameaça”, orienta a bióloga.

Menezes recomenda manter contato visual, erguer os braços para parecer maior e se afastar devagar. “É preciso comunicar à onça que não queremos confronto. Nos raros ataques registrados, os predadores frequentemente saem feridos ou morrem. Elas sabem disso. Demonstrar que somos um desafio desnecessário é, muitas vezes, suficiente para evitar o ataque.”

“O erro humano é, muitas vezes, o fator que agrava essas situações. A negligência ou imprudência pode custar caro, não apenas para as pessoas, mas principalmente para os animais, que acabam sendo perseguidos ou mortos injustamente”, conclui Carol Machado.

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