Praça de Laranja da Terra
Reprodução/Youtube
Praça de Laranja da Terra


Uma atividade prática em sala de aula terminou em um escândalo de saúde pública em Laranja da Terra, na Região Serrana do Espírito Santo. Quarenta e quatro alunos de uma escola estadual precisaram de atendimento médico após o professor de Química utilizar a mesma agulha para coletar sangue de todos os estudantes. O caso aconteceu na última sexta-feira (14).

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Os alunos, com idades entre 16 e 17 anos, cursam o 2º e 3º ano do Ensino Médio. A prática imprudente levou à demissão do professor. O Portal iG entrou em contato com a Secretaria de Educação (Sedu), que afirmou que os alunos estão bem e já estão frequentando as aulas normalmente. Todos os estudantes foram submetidos a testes rápidos de diagnóstico de infecção, com resultados negativos para todas as doenças testadas. Na manhã desta terça-feira (18), estão sendo realizados testes complementares para testar a imunidade contra hepatite B e C.

A Secretaria Municipal de Saúde (Semus) e a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) realizaram uma reunião para definir os protocolos a serem seguidos, a fim de acompanhar de perto a saúde dos alunos, que serão submetidos a novos testes em 30 dias.

A escola também decidiu promover um encontro com pais e alunos, que contou com a presença da Semus, para prestar esclarecimentos.


Os adolescentes relataram à polícia que a atividade fazia parte da disciplina de Práticas Experimentais em Ciências e tinha o objetivo de demonstrar como identificar o tipo sanguíneo de cada um.  No entanto, a atividade foi realizada sem a devida autorização da coordenação pedagógica.

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O nome da instituição de ensino não foi divulgado para preservar a identidade dos envolvidos. 

Consequências à saúde

Em entrevista ao Portal iG, Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, explicou os riscos da prática e as potenciais consequências à saúde dos estudantes.

“O compartilhamento de agulhas utilizadas para punção digital, quando não devidamente descartadas, representa um risco significativo para a transmissão de infecções graves, como HIV, hepatite B (HBV) e hepatite C (HCV). Esses vírus podem ser transmitidos pelo contato com sangue contaminado presente na agulha, mesmo que em quantidades microscópicas. Como essas doenças possuem um alto potencial de transmissão por via sanguínea, a reutilização do dispositivo, mesmo entre pessoas aparentemente saudáveis, pode resultar na disseminação dessas infecções.”

Além das hepatites virais, o HIV é uma das maiores preocupações em casos de exposição ao sangue contaminado. O especialista detalhou os impactos da infecção pelo vírus e ressaltou a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado:

“O HIV compromete progressivamente o sistema imunológico, atacando as células de defesa do organismo, especialmente os linfócitos T CD4+. Sem diagnóstico e tratamento adequados, a infecção pode evoluir para a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), caracterizada por infecções oportunistas e neoplasias associadas à imunossupressão, como tuberculose, pneumonia por Pneumocystis jirovecii e alguns tipos de câncer, como o sarcoma de Kaposi.

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Se não tratado, o HIV pode levar à falência do sistema imunológico e ao óbito, geralmente devido a complicações infecciosas ou neoplásicas. No entanto, com a terapia antirretroviral (TARV), é possível controlar a replicação viral, preservar a imunidade e oferecer uma expectativa de vida próxima ao normal.”

O infectologista também destacou os perigos das hepatites B e C, que podem causar danos irreversíveis ao fígado ao longo dos anos:

“A hepatite B (HBV) e a hepatite C (HCV) são infecções virais que afetam o fígado e, quando não diagnosticadas e tratadas, podem evoluir para fibrose hepática, cirrose e carcinoma hepatocelular (câncer de fígado). A hepatite B, além do risco de cronificação, pode causar hepatite fulminante em alguns casos, levando à insuficiência hepática aguda e morte.

Já a hepatite C tem um alto potencial de evolução para a forma crônica, com cerca de 70% dos casos tornando-se persistentes, e até 30% dos infectados desenvolvendo cirrose ao longo de 20 a 30 anos. Pacientes com cirrose apresentam um risco elevado de insuficiência hepática e câncer, condições potencialmente fatais se não forem tratadas com antivirais eficazes ou, em estágios avançados, com transplante hepático.”

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