
O temporal que atingiu a Grande São Paulo na tarde desta quarta-feira (12) é mais exemplo das mudanças climáticas.
Segundo a Defesa Civil, apesar das estações meteorológicas terem registrado ventos de, no máximo, 62,9 km/h, é possível afirmar, graças aos vídeos publicados por moradores, que a velocidade foi ainda maior, de 87 a 101 km/h - o que, na escala Beaufort de ventos, indica a categoria 10, de vendavais.
Relatos nas redes sociais mostram que os ventos quebraram janelas, derrubaram vasos pesados de plantas, mesas e até uma cortina de banheiro foi "puxada" pelo vendaval de dentro de uma janela de banheiro durante o temporal.
Vendaval

O pico das rajadas de vento registrado pelas estações meteorológicas da cidade de São Paulo foi de 62,9 km/h, em Santana-Carandiru, na zona norte, segundo a MetSul Meteorologia.
Os vídeos de moradores, contudo, mostram danos que só poderiam ter sido causados por ventos mais intensos.
Segundo os meteorologistas da Defesa Civil, o que explica essa medição inferior é que a tempestade passou por entre as estações meteorológicas, que não conseguiram registrar o vento máximo ocorrido.
Mudanças climáticas
Os temporais de alta intensidade cada vez mais frequentes são resultados das mudanças climáticas, que intensificam os padrões climáticos meteorológicos. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos(NOAA, na sigla em inglês), cientistas vêm acumulando evidências da relação entre aquecimento global e eventos climáticos extremos há mais de uma década.
A agência explica que o aquecimento desigual do planeta (regiões equatoriais aquecendo mais rápido que as regiões polares) altera os padrões climáticos e meteorológicos, que pode resultar em sistemas de pressão mais intensos e instáveis, criando condições favoráveis para ventos fortes durante as tempestades.
Em entrevista ao Portal iG, Lucas Oliver, geógrafo e doutorando em climatologia, ressalta que registros de aquecimento da atmosfera estão mais frequentes nos últimos anos, gerando aumento de eventos extremos no mundo.
"A temperatura, na verdade, é energia, e quando você aumenta a energia da atmosfera, possibilita que eventos tenham mais força. Ontem, a gente teve no litoral de São Paulo uma baixa pressão, e no clima, a baixa pressão atmosférica produz chuva. E aí, se você tem uma baixa pressão muito forte, você vai produzir ventos mais fortes, que foi o caso de ontem em São Paulo, que registrou rajadas de vento muito altas", diz.
Sobre o caso específico de São Paulo, ele pontua que ventanias são comuns no verão, mas o crescimento desordenado da metrópole contribui para a aceleração da frequência de eventos como este.
"A gente tem uma cidade que foi construída sem levar em consideração a perspectiva climática e agora a gente vai sofrer as consequências de construir uma cidade sem pensar no que o clima pode nos trazer. E acredito que a chuva de ontem pode se repetir várias vezes, principalmente agora no fim do verão, porque são sistemas climáticos comuns, e toda vez que acontece um que é mais forte, ele vai causar muito mais estrago do que antigamente", explica.
"Antigamente, as pessoas não moravam dentro dos rios, como a gente vê hoje. Então, hoje, a gente tem a perspectiva que esses climas extremos estejam cada vez com maior frequência. Como São Paulo está muito próximo do litoral, às vezes a gente tem ali baixas pressões no litoral, que vão afetar a cidade de maneira bem drástica, como foi o caso de ontem", adiciona.
Os temporais desta semana em São Paulo foram causados pela chegada de uma frente fria, que "empurrou" as ondas de calor que atuavam sobre a região há pelo menos uma semana. As mudanças de temperatura e massa de ar, ambas intensas, resultam nas fortes chuvas, segundo a MetSul.
Ainda de acordo com a NOAA, a instabilidade atmosférica nesses casos ocorre quando o ar quente e úmido na superfície encontra camadas de ar mais frio e denso mais acima. O aquecimento global aumenta a quantidade de calor e umidade na atmosfera, o que, por sua vez, torna essas tempestades mais frequentes e violentas.