Bolo envenenado: polícia afirma que Deise matou familiares no RS

Informação foi compartilhada nesta sexta-feira (21), em coletiva de imprensa da corporação

Bolo envenenado e Deise Moura dos Anjos
Foto: Montagem iG/Fotos: Reprodução
Bolo envenenado e Deise Moura dos Anjos

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul diz ter convicção de que Deise Moura dos Anjos, de 42 anos, foi a autora dos envenenamentos que mataram quatro pessoas da mesma família  na cidade de Torres. A informação foi compartilhada em coletiva de imprensa realizada pelo órgão nesta sexta-feira (21).

No dia 13 de fevereiro, Deise foi encontrada morta dentro da cela na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba.  A perícia confirmou o suicídio. Esse fato, conforme o Código Penal, impõe a extinção de punibilidade por morte do agente. Sendo assim, ninguém será indiciado ou responsabilizado, uma vez que a acusada não está mais viva para responder pelos seus atos.

"Ela é a única autora até o momento deste fato criminoso. Em razão de seu falecimento, de ela ter tirado a própria vida no presídio de Guaíba, levou à extinção da punibilidade", disse o delegado Fernando Sodré, chefe da Polícia Civil, que também informou que o inquérito tem mais de 1.200 páginas.

Caso estivesse viva, Deise seria indiciada or quatro homicídios triplamente qualificados (motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação).

Segundo a delegada Sabrina Deffente, da Delegacia Regional de Capão da Canoa, a "frieza com que ela planejou o crime e a forma como se portou diante dos fatos" foram fatores determinantes para que Deise fosse considerada culpada.

Entenda o caso: história, motivação e principais provas

O caso aconteceu em 23 de dezembro de 2024. No dia, a sogra de Deise, Zeli Teresinha Silva dos Anjos, 61, preparou um bolo para um café da tarde com a família. Ela não sabia que a farinha usada na receita estava contaminada com arsênio.

Seis pessoas ingeriram o bolo, e três delas morreram - as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59; além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza. 

Zeli também comeu a sobremesa, o que resultou numa internação de três semanas. Ela chegou a receber uma cesta de alimentos levadas por Deise ao hospital, mas os alimentos não estavam envenenados, segundo o IGP (Instituto-Geral de Perícias) do Rio Grande do Sul.

Caso do bolo envenenado ocorreu em Torres, no Rio Grande do Sul
Foto: Reprodução
Caso do bolo envenenado ocorreu em Torres, no Rio Grande do Sul

O caso passou a ser investigado pela Polícia Civil, que descobriu que a farinha usada no preparo do bolo estava contaminada com níveis letais de arsênio, uma substância de uso industrial.

Zeli se tornou a primeira suspeita, mas logo as atenções se voltaram para Deise Moura dos Anjos, sua nora, com quem ela cultivava um desafeto há mais de duas décadas. Isso porque a polícia descobriu, no telefone de Deise, pesquisas sobre o efeito do uso da substância, o que a colocou em prisão preventiva no dia 5 de janeiro.

Além disso, a Polícia descobriu que Deise comprou e recebeu a substância pelo correio. O detalhe foi identificado após recebeu a substância pelo correio. A informação foi confirmada porque a assinatura da suspeita foi encontrada no comprovante de entrega de uma encomenda da substância.

Morte do sogro

Em meio à investigação sobre o bolo, outra surgiu - desta vez, relacionada à morte do sogro de Deise, Paulo Luiz dos Anjos, em setembro de 2023. De início, acreditava-se que ele havia morrido devido a uma "intoxicação alimentar", após comer bananas que ganhou da nora.

Na época, a suspeita conseguiu convencer a família que as frutas estavam podres porque foram contaminadas pelas águas das enchentes que atingiu o estado no começo do ano. Ainda, foi capaz de desencorajar a investigação do caso.

No entanto, exames realizados após exumação do corpo indicaram que Paulo também ingeriu arsênio antes de morrer. Não eram as bananas que estavam estragadas, e sim o leite em pó que ele usou para misturar com café. Com isso, Deise também se tornou suspeita de ter causado a morte do sogro por envenenamento.

Motivação para o crime

Segundo a polícia, de início, acreditava-se que Deise queria matar apenas a sogra, motivada por questões financeiras. No entanto, essa hipótese foi descartada após a investigação apontar que ela também envenenou o marido - se ele morresse, ela seria excluída da herança.

No entanto, enquanto pesquisava e planejava o crime, mostrou que não se importava em colocar a vida de outras pessoas - como a do próprio filho, por exemplo, que também ingeriu o veneno.

Com isso, os agentes consideram que a única motivação para o crime era uma "grande perturbação mental" da suspeita. Ela fazia tratamento contra a depressão, mas a polícia suspeita que ela tinha outros distúrbios, que não foram diagnosticados.

"Ela não ia parar. Ela descambou e aceitou qualquer resultado que veio do envenenamento", disse a delegada Sabrina Deffente.

Principais provas

Durante a coletiva, a polícia apresentou uma série de provas que mostraram toda a trajetória e o planejamento de Deise. No dia 16 de agosto, ela efetuou a compra do veneno, que foi recebido no dia 21 do mesmo mês. Para a polícia, o mesmo pacote foi utilizado nos envenenamentos do leite em pó e da farinha.

Nos dias seguintes ao recebimento do pacote, Deise tentou, várias vezes, se encontrar com a sogra - fato confirmado pelas mensagens encontradas no celular da acusada. No dia 30, ela enviou uma mensagem avisando que iria visitar Zeli e Paulo com a família, e que levaria alimentos - o leite em pó e a farinha contaminados - para eles.

No dia 2 de setembro, Zeli e Paulo consumiram o leite em pó envenenado no café da manhã. O homem passou mal pouco tempo depois, e logo veio a óbito.

Morte na cadeia

A investigação ganhou um novo capítulo após Deise ser encontrada morta na cela em que estava. Segundo a polícia, ela deixou mensagens antes de tirar a própria vida - em uma delas, disse: "não sou uma assassina".

Em outra, adereçava muita a rava contra a sogra. "Muito obrigada por esses 20 anos que fez da minha vida de casada um inferno, mais uma vez eu sou a vilã e você a mocinha", escreveu.