O policial militar Vinicius de Lima Britto, que executou um jovem negro com 11 tiros nas costas em frente a um mercado Oxxo na Zona Sul de São Paulo em 3 de novembro, foi reprovado no exame psicológico do concurso da Polícia Militar em 2021, na sua primeira tentativa de entrar na corporação, por apresentar descontrole emocional e impulsividade. A informação foi divulgada pelo g1.
De acordo com o resultado avaliação, Vinicius apresentou "inadequação" aos critérios exigidos no perfil psicológico para o cargo de soldado nos requisitos de descontrole emocional, capacidade de liderança e relacionamento interpessoal adequado.
Além dos exames psicológicos, que é um critério eliminatório, o concurso público para o cargo de Soldado PM de 2ª Classe na PM é formado por outras cinco etapas: exames de conhecimento, de aptidão física, de saúde, avaliação da conduta social, da reputação e da idoneidade e análise de documentos.
Vinicius abriu uma liminar contra a Fazenda Pública de São Paulo para contestar o resultado do exame. Na petição, o advogado Luiz Lello apontou ilegalidade na avaliação psicológica, afirmando que o processo "está calcado em parâmetros de avaliação de natureza puramente subjetiva". Além disso, alegou que os motivos para a reprovação não foram informados ao candidato.
A defesa ainda solicitou reintegração ao concurso, produção de nova avaliação psicológica com um perito e indenização por danos morais no valor de 100 salários mínimos.
Na sentença de agosto de 2022, a juíza Lais Helena Bresser Lang, da 2ª Vara de Fazenda Pública, julgou improcedente o pedido e extinguiu o processo. Para a magistrada, a desqualificação de Vinicius do concurso é legal, uma vez que ele foi considerado inapto para o trabalho quando a avaliação foi realizada. Além disso, explicou que o laudo psicológico que apresentou sua metodologia pautada em critérios técnicos e foi produzido por profissionais capacitados.
A juíza ainda salientou que, no teste, Vinicius apresentou descontrole emocional, impulsividade, "tendendo agir fortemente por meio de condutas instáveis e imprevisíveis" e "podendo agir sem tanta reflexão diante de inesperadas".
"Para o desempenho da função policial, é imprescindível que o profissional tenha habilidade para reconhecer as próprias emoções, diante de um estímulo qualquer, antes que as mesmas interfiram em seu comportamento, controlando-as, a fim de que sejam manifestadas de maneira adequada no meio em que estiver inserido, bem como que saiba direcionar a sua energia agressiva, adequadamente, para a superação de obstáculos, mostrando autocontrole necessário frente às situações inesperadas, que são inerentes ao dia a dia da atividade policial-militar, e, principalmente, nos relacionamentos, já que irá deparar-se com momentos de tensão em que raiva e brigas poderão estar presentes, devendo então pensar bem sobre suas ações antes de agir", diz a juíza.
"A inaptidão acusada nos exames psicológicos não pressupõe a existência de transtornos mentais ou a inaptidão do autor para outras funções e atividades, indicando, tão-somente, que o candidato não atendeu, à época dos exames, aos parâmetros exigidos para o exercício das funções de Soldado PM 2ª Classe", finaliza.
Com três meses de extinção do processo, Vinicius prestou um segundo concurso para soldado da Polícia Militar, em novembro de 2022, no qual foi aprovado.
Questionada sobre o motivo pelo qual Vinicius conseguiu ser aprovado, a Secretaria da Segurança Pública não respondeu até a última atualização desta reportagem.
Além da execução de Gabriel Renan em novembro, Vinicius também é investigado pela morte de dois homens em São Vicente, no litoral de São Paulo, em 18 de novembro de 2023. A informação foi divulgada inicialmente pelo site "O Joio e O Trigo" e confirmada pelo g1.
Vinicius estava de carro e o amigo Davi dos Santos de Souza, que também é policial, estava de moto, quando foram abordados por dois homens em uma motocicleta. Os PMs estavam acompanhados das namoradas.
Quando Matheus Quintino e Davi Emanoel Braz Ferreira anunciaram o assalto, Vinicius reagiu e atirou diversas vezes. Ambos morreram no local. Na época, o PM alegou legítima defesa. De acordo com o inquérito, a dupla de assaltantes tinha antecedentes criminais, inclusive por tentativa de homicídio contra policiais.
Execução no mercado
Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, foi executado com 11 tiros nas costas pelo policial militar Vinicius de Lima Britto em frente ao mercado Oxxo, no bairro Jardim Prudência, na Zona Sul de São Paulo, em 3 de novembro.
Gabriel é acusado de roubar quatro pacotes de sabão. Ele escorregou enquanto fugia do estabelecimento e caiu no estacionamento. O policial militar, que estava no caixa, saiu e atirou 11 vezes contra as costas do jovem, que morreu no chão do estacionamento.
Na delegacia, o PM disse que Gabriel estava armado e com a mão no bolso do moletom, e por isso atirou em legítima defesa. Entretanto, não é o que as imagens mostram.
"Está comprovado que a gente estava certo e ele mentiu em depoimento, porque ele diz que apresentou voz de prisão. Porém, quando ele [Gabriel] escorrega, ele já saiu atirando [...] Ele é um assassino", afirma a advogada da família Fatima Taddeo.
Vinicius foi afastado de suas funções, informou a Secretaria da Segurança Pública. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).