O empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach , morto com 10 tiros de fuzil nesta sexta-feira (08) no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, era delator da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) em um acordo com o Ministério Público. Na delação que o tornou jurado de morte do PCC, Gritzbach admitiu que ajudou a facção a lavar dinheiro com a compra de imóveis.
“Eu admito que participei dessas transações, foi uma venda comercializada onde meu escritório fez análise jurídica, rodou os contratos e onde acabei fazendo no nome do meu tio e do meu primo”, disse. Os parentes seriam os laranjas de Claudio Marcos de Almeida, conhecido como Django, outro líder da facção, assassinado em 2022.
Entenda o que levou Gritzbach à delação
O empresário atuava no ramo imobiliário, em que fazia negócios com pessoas ligadas ao PCC. Uma delas era Anselmo Becheli Santa Fausta, conhecido como Cara Preta, morto em dezembro de 2021. Uma denúncia anônima apontou Gritzbach como mandante, fazendo com que ele fosse preso em 2022 e jurado de morte pela facção, que agora o considerava um traidor.
No vídeo da audiência com o juiz, revelado pelo Fantástico, da TV Globo, Gritzbach negou a autoria do crime, afirmando que havia encontrado Anselmo um dia antes. Ele também contou que foi sequestrado e ameaçado de morte por membros do PCC.
“Nesse momento, ele levantou, pôs a arma na minha cabeça e falou: 'Se você errar a senha, eu sei que você quer apagar o celular, vou te matar aqui mesmo'. E falou: 'Você não vai pegar mais nesse celular, só vai se despedir de sua família'”, contou.
Gritzbach foi solto, mas continuou denunciado pelas mortes de Cara Preta e Django, o que o colocou como alvo de outros membros da facção. Nas reuniões com o Ministério Público, Vinícius pedia proteção contra ameaças que vinha sofrendo.
No fim de 2023, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, propôs um acordo de delação premiada. O primeiro advogado, Ivelson, que não concordava com a delação, deixou o caso. E a defesa de Vinícius ficou com Aristides Zacarelli.
Depois da primeira reunião com o MP em dezembro, Antônio foi alvo de um atentado: no dia do Natal, o apartamento onde ele estava foi alvejado. O MP ofereceu a Antônio o apoio do Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas (Provita), do governo federal, mas ele negou.
“Eu sofro um atentado, onde estou tentando repelir os crimes e chegar a algum lugar”, disse durante a delação.
Alvejado no aeroporto
Vinicius foi morto após voltar de uma viagem a Maceió com a namorada. Ele seria recebido pelo filho no aeroporto, que estava acompanhado de quatro policiais militares. Todos os agentes foram afastados das funções temporariamente.
O advogado dos policiais que faziam a segurança, Guilherme Flauzino, afirmou eles não têm envolvimento na execução do empresário. “Estavam apenas trabalhando, fazendo seu bico. Eles cuidavam do filho do Vinícius como se fosse filho deles”, explicou ao Fantástico.
Na bagagem, o empresário trazia joias que, segundo a polícia, estariam avaliadas em R$ 1 milhão. Elas seriam usadas para pagar uma dívida e um dos motivos para a viagem até Maceió.
"Ele era um arquivo vivo. Ele é alguém que infelizmente se envolveu com um crime organizado. Todas as linhas de investigação, elas serão levadas em conta e eu garanto para vocês que o Ministério Público vai acompanhar, como sempre acompanhou, mas especialmente nesse caso, vai acompanhar e auxiliar no que for possível as investigações da Polícia Civil para que esse caso seja solucionado o mais rápido possível", disse Lincoln Gakiya, promotor de Justiça do Gaeco do Ministério Público de São Paulo.