Poíicia Federal
Polícia Federal/Agência Brasil - 08.02.2024
Poíicia Federal

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin ) usou, além do First Mile, um sistema para monitorar a localização de pessoas, equipamentos como microfones direcionais, câmeras escondidas, drones e malwares (programas maliciosos). A utilização dessas ferramentas está sendo investigada pela Polícia Federal, que encontrou indícios de um esquema de espionagem ilegal no governo de Jair Bolsonaro.

Em 2021, sob a chefia de Alexandre Ramagem, atual deputado federal, a Abin adquiriu uma série de drones para operações de vigilância nas superintendências regionais, sem especificar os limites de utilização. No entanto, as unidades estaduais perceberam que os servidores não sabiam manusear o equipamento, o que poderia expor a agência a riscos de segurança. Os drones foram então retornados à sede em Brasília, onde os agentes passaram por um curso de pilotagem.

Nesse mesmo ano, um drone da Abin foi flagrado sobrevoando as proximidades da residência do então governador do Ceará, Camilo Santana (PT), atual ministro da Educação. Após a descoberta, a Abin instaurou um processo administrativo. Um oficial de inteligência, em sua defesa, mencionou que o uso do drone foi uma determinação de Ramagem e outros diretores. O caso foi arquivado, e Ramagem não se manifestou sobre o assunto.

Em depoimento à PF, um servidor da Abin relatou que integrantes da área de operações da agência utilizavam “equipamentos sensíveis” sem cautela, como microfones direcionais de “alcance de algumas centenas de metros”, câmeras escondidas e outras ferramentas para uso tático em campo. Esses instrumentos permitiam gravar encontros e reuniões à distância.

Outro oficial da Abin informou à PF sobre o uso de programas maliciosos criados por um servidor do departamento de inteligência. Esses softwares são usados para invadir dispositivos sem que o usuário saiba, infectando o equipamento por meio de um clique num link suspeito. Esse método é comum tanto para espionagem quanto para combate a ataques cibernéticos.

Os relatos dos servidores da Abin são considerados pela Polícia Federal peças cruciais que retratam o funcionamento de uma “Abin paralela”, que, sob o comando de Ramagem, realizava monitoramento informal de alvos selecionados. Uma dessas operações clandestinas envolveu a vigilância de um jantar do então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em 2020, que se reuniu com a ex-deputada federal Joice Hasselmann, o dirigente do União Brasil Antonio Rueda e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. O encontro foi registrado e relatado por um agente da PF subordinado a Ramagem.

A Abin passou a ser investigada após O GLOBO revelar o uso do sistema FirstMile. Em nota divulgada em outra fase da operação, a agência afirmou estar à disposição das autoridades para as investigações sobre fatos ocorridos em gestões passadas de “forma paralela” ao trabalho “legítimo e republicano” de inteligência.

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