Pela primeira vez desde sábado (04/05), o nível do Guaíba em Porto Alegre baixou para 4,74 metros, de acordo com a conferência da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
Reprodução: Flipar
Pela primeira vez desde sábado (04/05), o nível do Guaíba em Porto Alegre baixou para 4,74 metros, de acordo com a conferência da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

A Prefeitura de Porto Alegre recebeu um alerta em 2018 sobre o risco de falhas no sistema de bombeamento na região central da cidade em caso de inundação do lago Guaíba acima da cota de 3 metros, segundo um parecer técnico elaborado por funcionários municipais naquele ano.

O centro histórico da capital gaúcha, juntamente com vastas áreas do Rio Grande do Sul, tem estado submerso há duas semanas após ser atingido por fortes chuvas. Especialistas apontam que o sistema de prevenção de enchentes não operou conforme o esperado.

O jornal Folha de São Paulo teve acesso ao documento assinado por dois engenheiros da gestão municipal, os quais destacaram a necessidade de revisão do projeto de parte do sistema de prevenção de enchentes devido a uma possível "falha na proteção". Os técnicos referiram-se especificamente a duas casas de bombas projetadas para drenar a água da chuva do centro da cidade para o lago Guaíba.

Na época em que o parecer foi elaborado, o prefeito era Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Em 2021, ele foi sucedido pelo atual mandatário, Sebastião Melo (MDB).

Segundo os engenheiros, a única barreira para evitar o transbordamento da água captada abaixo do solo, antes de ser descarregada no lago, era uma tampa de ferro comum, enquanto o necessário seria um sistema estanque com vedação para suportar a pressão em caso de cheias.

"A cota do piso é 3,30m, logo em situações onde o nível do Guaíba supere esta cota é provável que ocorra extravasamento para a área interna da estação", diz trecho do documento.

Em novembro do ano passado, quando houve transbordamento do lago, um novo parecer foi enviado. "Informamos que ocorreram grandes dificuldades na operação das unidades citadas, quando o Guaíba passou da marca de 3,2 m, em especial quando passou de 3,4 m, ponto onde se observou o limite para o acionamento das bombas com segurança", diz trecho do documento. A cota de inundação do lago é três metros.

Em nota, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), da gestão Melo disse que a instalação de tampas herméticas nas casas de bombas 17 e 18 está em "fase de viabilidade técnica para a elaboração do projeto".


Em entrevista coletiva nesta terça, o prefeito acusou "pessoas de extrema esquerda" de "montar uma narrativa mentirosa" sobre as enchentes em Porto Alegre.

O deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) divulgou um documento alertando sobre falhas no sistema de bombeamento da cidade em suas redes sociais na noite de segunda-feira (20). Em resposta, o prefeito Melo destacou que politizar a questão não resolverá o problema das enchentes no município.

"O impacto poderia ter sido muito menor", afirmou o deputado em relação às falhas no sistema de bombeamento. Ele anunciou sua intenção de solicitar investigações sobre os contratos ao Ministério Público do Rio Grande do Sul e ao Tribunal de Contas.

A paralisação no sistema de bombeamento é apontada por engenheiros hídricos e ambientais como um fator agravante para as inundações no centro histórico de Porto Alegre e nos bairros Menino Deus, Cidade Baixa e Sarandi. Das 23 estações instaladas em toda a cidade, apenas 3 permaneceram em funcionamento durante os primeiros dias após as fortes chuvas.

O mau funcionamento das bombas ficou evidente, já que as águas do Guaíba não ultrapassaram o limite de seis metros, correspondente à altura dos diques instalados na cidade. A máxima registrada até o momento foi de 5,35 metros em 4 de maio. Às 17h desta terça-feira (21), a altura era de 4 metros.

Nos últimos sete anos, duas gestões municipais não executaram integralmente os recursos destinados aos contratos de manutenção do sistema de prevenção. O prefeito reconheceu que os investimentos não foram suficientes.

Após a diminuição das águas do lago Guaíba, que inundaram a capital gaúcha, o lixo e o mau cheiro dominaram as ruas do centro de Porto Alegre. Diversas esquinas e fachadas de prédios estão repletas de colchões, móveis, sofás e outros objetos destruídos pela enchente. Comerciantes do centro puderam reabrir seus estabelecimentos pela primeira vez em duas semanas para avaliar a situação e iniciar a limpeza.

No domingo (19), três comportas foram abertas com o objetivo de drenar a água de volta para o Guaíba, auxiliando na secagem do centro da capital gaúcha.

As 23 estações de bombeamento de águas pluviais, conhecidas como casas de bombas de drenagem, abrigam reservatórios que funcionam como estruturas hidráulicas artificiais para drenar a água da chuva da cidade para o Guaíba.

Construído na década de 1960, o mecanismo anticheias da capital gaúcha também é composto por um muro de 2,6 km de extensão, com 14 comportas de proteção. A estrutura foi concebida para proteger a cidade de inundações, considerando que cerca de 35% do território urbano está três metros acima do nível do mar, próximo à altura dos 27 córregos que cortam a cidade, além de trechos do rio Gravataí, do lago Guaíba e da lagoa dos Patos.

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