Prefeitura de Porto Alegre a esquerda e o Mercado Municipal a direita, alagados, após chuva intensa.
Gilvan Rocha/Agência Brasil
Prefeitura de Porto Alegre a esquerda e o Mercado Municipal a direita, alagados, após chuva intensa.

O número de afetados pelas fortes chuvas no Rio Grande do Sul já passa de 2 milhões. Destes, são mais de 150 óbitos confirmados e 540 mil desalojados . As enchentes, que afetaram a maioria dos municípos do estado, poderiam ter sido atenuadas com o monitoramento correto de rios e lagos e o sistema de diques e bombas de Porto Alegre. Entretanto, ambos os sistemas apresentaram uma série de falhas durante os temporais.

O professor Fernando Mainardi Fan, do Instituto de Pesquisas Hidrológicas (IPH) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), explicou à Folha que não há informações suficientes sobre os afluentes dos principais rios, o que resulta em atrasos por parte das autoridades para identificarem se o nível das águas está subindo em determinada região. Assim, muitas cidades - especialmente no interior - só descobrem a cheia quando já é tarde demais.

Já o professor Walter Collischonn, também da UFRGS, afirmou que os municípios afetados no interior do estado precisam de soluções diferentes, uma vez que cidades menores não têm estruturas para a construção de diques e represas. "É preciso melhorar o acompanhamento de cheias e retirar as pessoas de áreas de maior risco", diz. Para as áreas de risco eventual para desastres, ele aponta a necessidade de criar sistemas de alerta, que ajudem a população a agir de forma antecipada.

Vale lembrar que, uma semana antes da primeira morte em decorrência das chuvas no Rio Grande do Sul, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, havia emitido um alerta sobre o risco de um possível desastre no estado.

Além de afirmar que 'faltou resiliência' das autoridades gaúchas quanto às estruturas hidráulicas da capital, o órgão pontuou, em nota técnica divulgada em 5 de maio, que as estruturas foram “subdimensionadas” ou que “não se consideraram que os volumes de chuvas poderiam aumentar com o tempo”.

“Podemos afirmar que os desastres gerados por chuvas intensas são consequência de atividades humanas”, diz um trecho da nota técnica.

Carta aberta de especialistas aponta falha nos sistemas de contenção

O sistema de contenção dos rios Guaíba e Gravataí foi criado na década de 1970. Até então, o estado havia passado por duas cheias históricas, que deixaram milhares de desabrigados e vítimas.

Cinquenta anos depois e sem a manutenção e os investimentos adequados, ele deixou de funcionar da forma como deveria e, com isso, intensificou a tragédia no estado; É o que apontou um grupo de 11 especialistas em carta aberta divulgada nesta quinta-feira (16).

De acordo com os especialistas - entre eles engenheiros, professores universitários e profissionais de outros segmentos -, o sistema de proteção contra inundações da cidade é robusto, eficiente, de fácil operação e manutenção.

“Por que estes sistemas vazam, não estão funcionando adequadamente? Porque não tem a necessária manutenção permanente, especialmente em relação às comportas, tanto as ao longo do Muro e abaixo da Av. Castelo Branco, bem como as comportas junto às Casas de Bombas”, diz o documento.

Apesar de sua eficiência, desde que o sistema foi acionado pela última vez para conter as inundações no Vale do Taquari no ano passado, as deficiências nas comportas ficaram visíveis.

"Os diques e os muros não vazam! Os vazamentos estão em boa parte das comportas sem manutenção", ressalta o manifesto. "No ano passado, quando o Sistema foi acionado, durante as inundações com início no Vale do Taquari e que também inundaram a Região Metropolitana, as deficiências nas comportas ficaram visíveis. Fáceis de serem sanadas, mas não foram. As próprias Casas de Bombas, bem como as Estações de Bombeamento de Água Bruta (EBABs) estão inundadas.

O grupo propõe uma série de medidas emergenciais para conter os efeitos das enchentes. Uma delas é a vedação dos vazamentos nas comportas para evitar que as águas do Guaíba retornem. Também ugerem que as águas das áreas inundadas sejam bombeadas para fora da cidade - o que exigiria a vedação das comportas com materiais específicos, além da reativação elétrica das casas de bombas.

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