O prefeito de Porto Alegre , Sebastião Melo (MDB), em meio à crise das enchentes, destaca como a questão mais urgente e desafiadora a definição de moradias para os cerca de 15 mil desabrigados na cidade. Em entrevista à Folha de São Paulo, Melo ressalta a falta de imóveis disponíveis e pede um plano de habitação liderado pelo governo federal .
"Primeiro que nós não temos grandes estoque de imóveis populares grandes hoje no Brasil, Porto Alegre também não tem imóveis populares prontos para atender essa demanda, tem que fazer um chamamento público, colocando pessoas que desejam vender imóveis usados, tentar comprar o maior número de imóveis já prontos, em vez de construir, utilizar todos que já estão novos ou usados, para esse momento de drama que as pessoas não têm família, não têm residência", declarou.
Ele rebate críticas sobre negligência na manutenção do sistema de proteção contra enchentes, reconhecendo a necessidade de revisão completa do sistema.
"Só da redemocratização pra cá nós tivemos dez prefeitos, fora aqueles de 1970 até 1985, então vamos colocar uns 13 prefeitos. Uns fizeram mais manutenção, outros menos, então hoje eu vejo pessoas da oposição, que governaram a cidade por 16 anos, que não fizeram nenhuma manutenção, criticando o governo. Então eu não vou entrar nessa questão, eu acho que nós temos que revisitar todo o sistema", diz.
Sobre a relação com o governo federal e estadual, Melo destaca a necessidade de cooperação em meio à crise e propõe uma abordagem integrada envolvendo também organismos internacionais.
"Nós estamos todos do mesmo lado, quando vem uma crise desse tamanho, se alguém quiser politizar um debate desse, me desculpe, não contem comigo. Vou continuar me relacionando bem com o Eduardo [Leite], com o governo federal, temos competências complementares, essa é uma crise de tamanha monta aqui, o município e o estado não dão conta sozinhos", comenta.
Melo aborda a complexidade da transição dos desabrigados para moradias permanentes, propondo soluções como compra assistida, aluguel social e moradia solidária. Ele destaca ainda a importância da governança metropolitana na resolução dos problemas.
"Essa demanda não é só minha, tinham no mínimo dez prefeitos da região metropolitana [de Porto Alegre], eu expressei isso, mas essa é uma expressão também de todos os prefeitos. O [ministro da Casa Civil] Rui Costa concordou com isso, o presidente concordou. Agora, não tem imóveis disponíveis nesse momento para atender as milhares de pessoas que estão desabrigadas no Rio Grande do Sul. Esses 15 mil que estão nos abrigos [em Porto Alegre] vão se transformar em 30 mil, porque no mínimo tem mais 15 mil que estão morando de um jeito ou do outro, que também estão sem casa e também não tem como voltar para suas casas", afirmou.
"Então, se eu falar de 30 mil pessoas, imaginamos o seguinte, tá falando aí no mínimo de 10 mil moradias, 8.000 moradias só em Porto Alegre, e tu não tem esse estoque nem com aluguel social, então, vamos ter que criar aí espaços solidários, espaços em que você pode acolher da forma possível, estou levantando prédios que hoje estão destinados para algumas coisas, seja federal, estadual, municipal, que possa acolher provisoriamente", adicionou.
Quanto às críticas sobre investimentos em prevenção, Melo defende a revisão do sistema antienchente e destaca os esforços de sua gestão, ressaltando projetos como o Arroio Areia. Sobre a contratação da consultoria, reforça a prerrogativa do prefeito em tomar decisões.
"Esse projeto está andando, entre outros, falamos de casas de bombas, macro-drenagem, limpeza de arroios e tudo isso, tivemos aqui um investimento bastante razoável nesses três anos. Não é o suficiente."
Quanto à possível reeleição, ele enfatiza que o foco está na recuperação da cidade e que a eleição não está em debate no momento.
"Não vou tratar de eleição, estou tratando de salvar vidas, recuperar a cidade, para mim o que menos interessa agora é a eleição. Eu sou prefeito eleito da cidade, tenho mandato até o final do ano e tenho que cumpri-lo rigorosamente. Para mim a eleição não está em debate."
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