A pressão estética que prega a magreza como um valor a ser alcançado cria em muitas mulheres o desejo de conquistar a famosa “cinturinha de pilão”. Além de muitas vezes provocar uma relação disfuncional com a própria imagem, essa pressão faz com que muita gente persiga a silhueta fina de maneiras que não são saudáveis, como o uso de espartilhos e cintas de compressão do abdômen por tempo prolongado, por exemplo.
Esses acessórios são “velhos conhecidos” das mulheres. Contudo, recentemente estão surgindo modelos diferentes, que apertam cada vez mais não apenas a barriga, mas também outras partes do corpo. Além disso, as redes sociais estão repletas de vídeos de mulheres que usam cintas quase 24 horas por dia, diariamente, ludibriadas pela ideia de que o aperto constante reduzirá medidas.
A situação piora quando não apenas pessoas comuns, mas também famosas começam a falar que usam as tais cintas, inclusive para fazer exercícios, influenciando outras mulheres.
Um bom exemplo dessa realidade são alguns vídeos que viralizaram no Tiktok e no Instagram, em que uma mulher magra de 21 anos, que já fez dois procedimentos de lipoaspiração, revela ser “viciada em cinta”, mostra os modelos que usa “24 horas por dia” , chegando a usar mais de um modelo, uma cinta por cima da outra, para aumentar a compressão.
O que essas influenciadoras - que são também vítimas da pressão estética sobre as mulheres - não contam é que o uso prolongado de cintas todos os dias traz inúmeros problemas para a saúde, além de piorar o efeito de barriga proeminente ao longo do tempo.
Problemas de saúde física
De acordo com o cirurgião plástico Josué Montedonio, a melhor maneira de conseguir uma silhueta fina de modo saudável sempre será a reeducação alimentar associada à prática de exercícios físicos, e no caso de gorduras localizadas insistentes, a lipoaspiração - logicamente, com critérios para definir se a cirurgia é realmente indicada e necessária.
No que tange ao uso de cintas para disfarçar a barriga, o médico explica que não há problema algum usar por pouco tempo, para usar um vestido colado, por exemplo, mas o uso prolongado - mais de 8 horas por dia - causa problemas de saúde.
“Usar cinta por muito tempo comprime o diafragma, o músculo da respiração, e dificulta a respiração, fora que a cinta muito apertada pode provocar infecção na pele, problemas de postura e prejuízos ao trânsito intestinal”.
Além disso, o uso prolongado de cintas de compressão pode causar o efeito inverso ao desejado, deixando a barriga ainda mais aparente.
“Você vai deixar de usar a musculatura abdominal, e o que não usa, atrofia. Pelo não estímulo, essa musculatura tende a ficar mais fraca, e quando não estiver usando a cinta, a barriga fica mais proeminente.”
Saúde mental
Não é possível falar sobre o uso excessivo de cintas modeladoras sem entrar no debate sobre a pressão estética e a respeito de transtornos de imagem, definidos pela psicóloga e professora do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), Giedra Marinho, como um problema que faz a pessoa enxergar seu próprio corpo de uma maneira diferente da que ele realmente é.
"Acontece muito: Pessoas que estão com o IMC, índice de massa corporal, muito baixas, são extremamente magras, mas continuam se achando pessoas gordas. E aí entra não só essas questões de cintas, modeladoras, chás, emagrecedores, receitas malucas, dietas malucas e treino excessivo, porque a sociedade critica e rejeita muitas vezes pessoas que são consideradas fora do padrão de corpo e de idade."
De acordo com ela, a idealização do corpo e do rosto é um dos fatores de risco para esse transtorno, visto que a pessoa passa a perseguir uma forma física inalcançável, e muitas vezes acaba arriscando a saúde e até a vida em procedimentos estéticos mal feitos e dietas malucas.
"É um grande problema a busca do corpo perfeito, idealizado, porque ele de fato nunca vai existir. As pessoas estão fazendo procedimentos estéticos sem nenhum critério, com pessoas que às vezes não são especialistas, desfigurando o corpo e o rosto nessa luta por uma perfeição que não existe. Essas pessoas precisam de trabalho psicoterapêutico para lidar com essas questões. Esse transtorno da alteração da imagem, do esquema corporal, da desassociação da imagem do esquema corporal pode trazer vários problemas."
Pessoas que sofrem com esse problema de modo que atrapalha sua saúde, suas atividades, enfim, sua vida de modo geral, é preciso buscar ajuda profissional para superar essa distorção de autoimagem.
"Quando a pessoa começa a ter prejuízos nas áreas sociais, emocionais, profissionais e acadêmicas por conta de algum transtorno, é hora de ligar a luz vermelha e procurar ajuda. Se as pessoas deixam de frequentar espaços lugares porque não se sentem bem com seu corpo, elas terminam num processo de introversão, porque acham que o corpo não vai ser aceito, que sua aparência que ela tem vai afastar as pessoas. Então, sempre que começar a trazer prejuízos nas áreas emocionais, sociais, profissionais, acadêmicas, é hora de procurar ajuda."