Os manifestantes presos na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) na noite desta quarta-feira (6) durante a votação sobre a privatização da Sabesp acusam os deputados Gil Diniz e Lucas Bove, ambos do PL, de influenciarem a delegada Maria Aparecida Rezende Corsato, do 27° DP (Campo Belo), a prenderem quatro pessoas sob acusação de resistência à prisão e associação criminosa. A audiência de custódia do caso acontece na tarde desta quinta-feira (7).
Os deputados acusados de influenciarem a prisão dos manifestantes negam o envolvimento. Nas redes sociais, eles divulgaram imagens no DP na madrugada desta quinta-feira.
Em entrevista para o portal iG, Marcelo Viola, diretor do Sindicato dos trabalhadores em água, esgoto e meio ambiente do estado de São Paulo (Sintaema) defendeu que os deputados tentaram coagir a delegada a prender os manifestantes.
Para o Portal iG, a assessoria do deputado Lucas Bove defendeu que o parlamentar compareceu à delegacia somente para averiguar a situação dos policiais que, segundo ele, foram agredidos pelos manifestantes.
A assessoria do deputado Gil Diniz não retornou o nosso contato até a publicação dessa reportagem.
Na manhã desta sexta-feira (8) o deputado declarou na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, que compareceu à delegacia para apoiar os PM's feridos na ação.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria da Segurança Pública do Estadão de São Paulo, que não comentou a possível influência dos deputados na prisão dos manifestantes.
"Três homens, de 36, 26 e 22 anos, e uma mulher, de 32, foram presos em flagrante, após uma confusão generalizada na Assembleia Legislativa, na noite da quarta-feira (06), por volta das 18h30. Policiais militares atuaram na ocasião para conter um ato de depredação ao patrimônio durante a votação da proposta de desestatização da Sabesp, quando os quatro indiciados agrediram os policiais, além de danificar o mobiliário da Alesp. Todos foram detidos e conduzidos ao 27° DP (Campo Belo), onde foram autuados por lesão corporal, dano, associação criminosa, resistência e desobediência. A autoridade policial compareceu ao local e requisitou perícia para constatação dos danos", diz a SSP, em nota enviada ao portal iG.
Confusão na Alesp
Marcelo conta que, no final da votação, os manifestantes se levantaram para colocar cartazes no vidro para pressionar os deputados. "Quando a gente fez isso, a polícia interna da Alesp veio com muita truculência, empurrando", alega. "Tinha policial dando coronhada na cabeça das pessoas", completa.
"Com essa atitude deles, começou a confusão. Depois disso, eles trancaram a saída e jogaram gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Aquela cena das pessoas tentando quebrar o vidro ocorreu em função disso. Os próprios deputados não conseguiram ficar por ali. Inclusive, a deputada Leci Brandão (PCdoB) passou mal", relata.
"Nessa confusão, prenderam quatro militantes da Unidade Popular (UP) sem uma acusação formal, e até pouco tempo sem Boletim de Ocorrência. O que consideramos uma prisão política, já que a confusão não foi iniciada por nós", pontua.
Os militantes detidos foram: Vivian Mendes, presidente estadual da Unidade Popular pelo Socialismo (UP-SP); Ricardo Senese, metroviário; Lucas Carvente, professor; e Hendryll Luiz, estudante da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Eles aguardam decisão da juíza Carla Santos Balestreri.
A sessão que aprovou o projeto de lei que trata da privatização da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) chegou a ter a votação suspensa nesta quarta-feira após tumulto entre manifestantes e a Polícia Militar. O projeto é uma promessa de campanha do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas enfrenta resistência da oposição, de sindicatos e de parte da sociedade civil.
O projeto de privatização da Sabesp
Aprovado pela Alesp nesta quarta , o texto autoriza a transferência do controle acionário da empresa e estabelece regras para quem for assumir o controle da companhia. A expectativa é que a proposta seja aprovada com cerca de 50 votos, segundo estimativa do próprio governo.
A Sabesp, avaliada em R$ 50 bilhões, atua em 375 municípios paulistas, com mais de 11 mil funcionários. Atualmente, 50,2% das ações estão sob controle do governo paulista. Caso aprovada, a privatização reduzirá a participação estadual para entre 15% e 30%. Dez municípios geram 65% da receita, sendo São Paulo responsável por 45% do faturamento no último trimestre. Com a privatização, todos os contratos com municípios vencerão em 2060, diferentemente dos acordos individuais atuais, como o de Osasco, que encerra em 2029.
O processo de desestatização voltou a ser discutido no começo de agosto, quando a cidade de São Paulo aderiu à regionalização dos serviços de água e esgoto, conforme estabelecido pelo novo marco do saneamento. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) assinou um documento que afrouxa o controle municipal sobre a estatal na capital paulista.