Criminosos fortemente armados conduzem treinamentos de guerrilha no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, comunidade dominada pelo crime organizado, onde residem mais de 140 mil pessoas.
A comunidade, que fica localizada próximo à Baía de Guanabara e ao aeroporto internacional do Galeão, é considerada um ponto estratégico tanto para o narcotráfico quanto para as milícias do Rio.
Um reportagem exibida neste domingo pelo Fantástico revelou que os bandidos têm realizado frequentes treinamentos com táticas empregadas em ambientes de guerra, revelando a deterioração do Estado e das políticas públicas de segurança na cidade “maravilhosa”.
As investigações da Polícia Civil apontam que os “instrutores” dos homens cooptados pelo crime organizado contam com conhecimento operacional de ações militares, além de terem em mãos um arsenal bélico, que supostamente seria de uso exclusivo das forças de segurança do país, como fuzis e metralhadoras.
Os exercícios paramilitares ocorrem durante a noite e incluem explosões simuladas para simular situações de confrontos, bem comuns durante as operações policiais iniciadas durante a madrugada pelos grupos especiais da polícia militar do Rio, como o BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais).
Como resultado dessas investigações, mais mil pessoas, incluindo líderes do tráfico, foram indiciadas pelos investigadores, mas ainda não foram efetuadas prisões.
Uma das maiores preocupações das autoridades políticas do estado é quanto as zonas da comunidade onde ocorrem os treinamentos: locais próximos a creches, onde estão localizadas cinco escolas da rede pública de ensino.
A investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro já se estende por dois anos e destaca a atuação de três grupos criminosos, tanto de traficantes quanto de milicianos. Os grupos são rivais e competem pelo controle dos territórios do complexo e detém o poder de negócios lucrativos sustentados pelo uso da força e da violência interminável no Rio.
Os vídeos vazados pela reportagem mostram que um grupo utiliza quadras de futebol e uma piscina para simular os combates com grupos de 15 a 20 homens, todos armados com fuzis. Eles praticam rotinas de exercícios físicos e técnicas de ocupação de áreas de difícil acesso.
As simulações aparentam ter níveis técnicos avançados de especialistas mercenários, com situações de emboscadas, deslocamento noturno e simulações com explosões de bombas.
O governo estadual investiu R$ 600 milhões para a retomada do Complexo da Maré, mas falhou.
● Entre 2014 e 2015, Exército e Marinha ocuparam a região por 14 meses visando a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP);
● A operação custou R$ 600 milhões, mas não obteve sucesso, com 27 militares feridos, um assassinado, e o autor do crime nunca identificado;
● Na investigação recente, a polícia elaborou o organograma das quadrilhas e identificou 1.125 pessoas associadas a grupos de traficantes e milicianos na área, resultando em acusações por crimes como tráfico e organização criminosa, mas ainda sem prisões
Complexo da Maré
O Complexo da Maré é apontado como um centro de distribuição de armas e drogas para outras partes da cidade, e as imagens revelam a presença de pontos de venda de drogas e uma comunidade silenciosa diante da violência imposta pelos criminosos.
A situação na Maré continua a ser um desafio crucial para a segurança pública do Rio de Janeiro, exigindo abordagens mais inteligentes e estratégicas para enfrentar a complexidade desse problema. Enquanto isso, os moradores da comunidade continuam a enfrentar o terror e a insegurança causados por essas atividades criminosas.