Mauro Cid negociou venda de Rolex recebido em viagem oficial

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro está preso desde maio deste ano

Foto: redacção O Dia.com.br (IG)
CPMI do 8 de janeiro: defesa diz que Mauro Cid foi 'vítima de cilada'


A Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) do 8 de janeiro está analisando e-mails do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro preso desde maio , negociando um relógio Rolex recebido em uma viagem oficial, quando Bolsonaro ainda estava no poder. As informações são do jornal O Globo.

“Obrigado pelo interesse em vender seu rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui. Quanto você espera receber por ele? O mercado de rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa", escreveu a pessoa em questão (texto traduzido).

Em resposta, Mauro Cid disse que não tinha o certificado do Rolex, pois “foi um presente recebido durante uma viagem oficial", e pretendia vender por US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil, em cotação atual). 


As mensagens foram obtidas quando a comissão pediu à Presidência os e-mails enviados e recebidos por funcionários da Ajudância de Ordens na gestão de Bolsonaro, com o objetivo de investigar os atos golpistas, visto que Mauro Cid é investigado pela Polícia Federal por participar de um esquema de supostas fraudes no cartão de vacina e por conversas de teor golpista.

A defesa de Cid disse que não teve acesso aos e-mails em posse da CPMI de 8 de janeiro. De acordo com o material em posse da comissão, o ex-ajudante de ordens tentou negociar a venda do Rolex por e-mail, com uma pessoa que falava com ele em inglês no dia 6 de junho. 

Os e-mails não trazem nenhum detalhe sobre o contexto em que Mauro Cid teria recebido o relógio. Apesar disso, a suspeita é que a negociação que a CPMI analisa seja relativa ao relógio recebido em uma visita de Bolsonaro à Arábia Saudita em outubro de 2019. 

Na ocasião, o então presidente recebeu um conjunto de joias que incluía um Rolex, um anel, uma caneta e um rosário islâmico, como presentes do rei Salman bin Abdulaziz Al Saud. 

A defesa de Bolsonaro devolveu os itens de luxo em abril deste ano, após uma investigação da Polícia Federal que apurava a situação de outro conjunto de jóias avaliado em R$5 milhões retido no aeroporto de Guarulhos (SP) pela Receita Federal. Mauro Cid, na posição de ajudante de ordens de Bolsonaro, tentou reaver as joias junto ao Fisco no final de 2022, antes do fim do mandato de Bolsonaro(e de sua viagem aos Estados Unidos).

Além de analisar os e-mails, a CPMI também está apurando transações realizadas por Cid. O relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, aponta que o militar movimentou R$ 3,2 milhões em seis meses, o que é absolutamente incompatível com sua renda e patrimônio, visto que o salário de Mauro Cid como oficial do Exército é de R$ 26 mil.